'Estamos todos fascinados pelo mundo do trabalho sexual', diz Sean Baker
O diretor americano Sean Baker temia que "Anora", sua comédia ácida que fez sucesso no Festival de Cinema de Cannes, fosse muito controverso.
Mas a resposta entusiasmada ao seu filme sobre uma jovem trabalhadora sexual (Mikey Madison) que se casa com um herdeiro imaturo revela um fascínio pela profissão mais antiga do mundo, diz ele à AFP.
"É bom e um pouco surpreendente porque parece que até agora não houve tanta divisão quanto eu pensava", afirmou o diretor, reforçando que o filme aborda "temas que são extremamente polêmicos atualmente".
"Anora" narra o relacionamento entre uma stripper de Nova York e o filho de um oligarca russo. Eles se casam por capricho em Las Vegas, o que desperta a fúria de suas famílias.
"Estamos todos fascinados pelo mundo do trabalho sexual", diz Baker, que já abordou esta temática em filmes anteriores.
Segundo ele, isto acontece em parte porque a questão "está bem na nossa frente, quer queiramos vê-la ou não".
"Não é piada, da minha cozinha eu posso literalmente ver o interior de uma casa de massagens", conta ele.
Mas o comércio sexual suscita opiniões diversas. Muitos consideram uma forma de exploração, enquanto outros acreditam que pode ser libertador, analisa o cineasta, que destaca um potencial de abordar o assunto "infinitamente".
Baker assumiu como missão mostrar personagens imperfeitos, que lidam com os mesmos problemas mundanos que todos os outros.
"Não posso simplesmente fazer — e perdoem minha expressão — uma história de 'prostituta com o coração de ouro'", afirma.
- "Explosão selvagem e profana" -
"Anora" recebeu boas críticas. A Vanity Fair chamou o file de "uma explosão selvagem e profana".
É um dos 22 filmes que concorrem à Palma de Ouro, principal prêmio do Festival de Cannes, que será anunciado no sábado (25).
Baker contou que seria seu "sonho" que Mikey Madison, que interpreta a trabalhadora sexual Ani, ganhasse o prêmio de melhor atriz.
Conhecida por "Era uma vez em... Hollywood" e a série de filmes de terror "Pânico", a atriz treinou pole dance por três meses e aperfeiçoou um sotaque nova-iorquino único.
Um prêmio em Cannes poderia impulsionar a produção a ter um lançamento mais amplo nos Estados Unidos do que a maioria dos filmes independentes.
"Disseram ao público americano 'só vá ao cinema para ver os grandes sucessos de bilheteria, você pode assistir a todo o resto na Netflix'... É uma loucura!", diz Baker.
O filme tem uma distribuidora de prestígio nos Estados Unidos, a Neon, que lançou os últimos quatro vencedores da Palma de Ouro no país.
Embora aborde uma temática similar a produções anteriores de Baker como "Tangerina" e "Projeto Flórida", "Anora" é seu filme mais humorístico até agora.
Quando um trio de bandidos chega à casa dos recém-casados, o público se prepara para uma explosão de violência, mas sua falta de destreza rapidamente leva a uma situação do tipo "Os Três Patetas".
"Ainda estou tentando explorar até onde posso ir" com a comédia, conta, enfatizando que é necessário "um equilíbrio".
"Então você tem que entregar o riso, até entregar as lágrimas", completa.
P.Mathieu--JdB