Journal De Bruxelles - A lenta contagem de mortos nos incêndios mais mortais do século no Chile

A lenta contagem de mortos nos incêndios mais mortais do século no Chile
A lenta contagem de mortos nos incêndios mais mortais do século no Chile / foto: Javier TORRES - AFP

A lenta contagem de mortos nos incêndios mais mortais do século no Chile

A região de Valparaíso registrou 131 mortes, mas sabe que haverá mais. Os estragos causados pelos incêndios florestais mais mortais que o Chile sofreu neste século atrasa a contagem das vítimas e também a assistência aos que perderam suas casas.

Tamanho do texto:

Cinco dias após o início dos incêndios, nove focos permanecem ativos nesta terça-feira (6), informou à AFP uma fonte da Delegação Presidencial em Valparaíso.

Apesar disso, nenhum deles ameaça as áreas urbanas. Os bombeiros estimam que dentro de uma semana poderão ser extintos.

No topo dos morros urbanizados, as áreas mais afetadas têm recebido voluntários e brigadas de ajuda para limpar escombros e levantar veículos carbonizados nas vias estreitas, enquanto o trabalho continua para encontrar mortos em locais atingidos pelo fogo, o que complica o trânsito.

"É como se tivéssemos voltado aos piores dias da convulsão social e da pandemia", disse Rosa Gutiérrez, moradora de Quilpué, em referência às manifestações do final de 2019 que vandalizaram grande parte do porto de Valparaíso e a cidade de Viña del Mar, 120 km a noroeste de Santiago.

O presidente chileno, Gabriel Boric afirmou que esta "é a maior tragédia" enfrentada por este país sul-americano desde o terremoto de 2010, quando um sismo de magnitude 8,8, seguido de um tsunami, deixou 500 mortos em 27 de fevereiro daquele ano.

O último balanço desta terça-feira elevou o número de mortos para 131, dos quais apenas 35 foram identificados, informou um comunicado do Serviço Médico Legal (SML). Outros 82 corpos foram autopsiados desde o final de semana.

- Identificação entre as cinzas -

O cenário de devastação atual parece ainda pior que o do terremoto de 2010 e as famílias que perderam entes queridos ou ainda não os encontraram pedem que este processo forense seja acelerado.

"Precisamos que venham retirar os corpos dos nossos familiares, é a única coisa que pedimos", declarou à AFPA Claudia Salazar.

A prefeita de Viña del Mar, Macarena Ripamonti, informou no domingo que há 190 pessoas desaparecidas nesta localidade.

Segundo a diretora do SML, Marisol Prado, será iniciado o processo de coleta de amostras de pessoas que relataram o desaparecimento de familiares "para depois fazer a identificação do DNA".

Prado especificou que neste momento estão identificando os corpos com testes biométricos e de impressões digitais.

Enquanto isso, multiplicam-se os pedidos de refúgio para cerca de 20 mil pessoas que ficaram desabrigadas em Viña del Mar, segundo Ripamonti.

- Comunidade internacional oferece ajuda -

Em pleno verão e após uma semana de temperaturas extraordinariamente altas, a região de Valparaíso foi a mais atingida porque as labaredas chegaram às áreas urbanizadas, mas ainda há 165 incêndios em 10 regiões do centro e sul do Chile, segundo o último relatório do Serviço Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres (Senapred).

Personalidades internacionais expressaram sua solidariedade e ofereceram ajuda, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o papa Francisco, o secretário-geral da ONU, António Guterres, além de representantes da União Europeia e de países como França, Espanha e México, que nesta terça envia dois aviões com suprimentos aos chilenos afetados.

"Estaremos, mais uma vez, prontos para auxiliar nossos companheiros sul-americanos", escreveu Lula na rede social X na segunda-feira.

"A solidariedade internacional está ativa (...) Recebi mensagens até da Letônia e da Romênia", disse Boric em Viña del Mar.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou que seu governo está em contato com autoridades chilenas para enfrentar "este momento difícil" e "está pronto para fornecer a ajuda necessária ao povo chileno".

Atualmente uma onda de calor atinge o Cone Sul, onde o fenômeno climático natural El Niño é agravado pelo aquecimento global causado pela atividade humana, segundo especialistas.

R.Vercruysse--JdB