Journal De Bruxelles - Uruguai quer se tornar um 'player' no mercado de hidrogênio verde

Uruguai quer se tornar um 'player' no mercado de hidrogênio verde
Uruguai quer se tornar um 'player' no mercado de hidrogênio verde / foto: Nicolas GARCIA - AFP/Arquivos

Uruguai quer se tornar um 'player' no mercado de hidrogênio verde

O Uruguai impulsiona a produção de hidrogênio verde para cumprir as metas globais de redução das emissões de gases de efeito estufa e também para criar um novo setor exportador, afirmam autoridades.

Tamanho do texto:

O governo uruguaio assinou nesta terça-feira (18), em Bruxelas, durante a cúpula entre a União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), um memorando de entendimento com a UE sobre energias renováveis e hidrogênio verde.

"Tanto a Europa quanto o Uruguai desejam ser neutros em carbono até 2050. O acordo de hoje sobre energia nos ajudará a chegar lá, juntos. Também apoiará o desenvolvimento do hidrogênio verde, uma indústria estratégica para o futuro do Uruguai", tuitou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O memorando ressalta que os investimentos nesse setor "devem cumprir a legislação ambiental" e "levar em devida consideração" a proteção dos sistemas hídricos, conforme comunicado da UE.

O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, anunciou no mês passado que o Uruguai receberá o maior investimento de sua história, cerca de US$ 4 bilhões (R$ 19,2 bilhões), de uma multinacional com sede nos Estados Unidos, a HIF Global, para produzir combustíveis sintéticos à base de hidrogênio verde destinados à Europa.

"Na economia do hidrogênio, que está surgindo no mundo, o Uruguai pode desempenhar um papel de liderança, pois pode gerar energia renovável em uma escala muito maior do que sua própria demanda", explicou o ministro da Indústria e Energia uruguaio, Omar Paganini, à AFP.

Em 2022, 91% da geração de eletricidade do país veio de fontes renováveis: 39% hidrelétrica, 32% eólica, 17% biomassa e 3% solar. A participação de fontes de origem fóssil no suprimento total de energia foi de apenas 44%, muito abaixo da média mundial.

- 'Exportando sol e vento' -

"A transição energética no Uruguai começou há anos", disse Alejandro Stipanicic, presidente da empresa estatal de combustíveis Ancap, à AFP. "Por isso, dizemos que queremos exportar sol e vento, em vez de importar combustíveis fósseis".

O hidrogênio verde é obtido por meio da eletrólise da água a partir de energias renováveis.

O Uruguai também possui abundante CO2 biogênico que, combinado com o hidrogênio verde, permite a produção de "e-fuels", os combustíveis sintéticos.

Foi isso que a Ancap ofereceu aos investidores: aproveitar o CO2 biogênico de sua usina de etanol em Paysandú, localizada 400 km a noroeste de Montevidéu.

A HIF Global venceu a licitação e, em dezembro, começou a produzir combustíveis sintéticos no Chile a partir de CO2 capturado da atmosfera.

"O combustível sintético é quimicamente equivalente ao derivado do petróleo. Isso tem uma grande vantagem, que é não precisar de alteração na infraestrutura", explicou Martín Bremermann, representante da HIF Global, à AFP.

Entre os acionistas da HIF Global está a montadora alemã Porsche.

Paganini estima que a produção da HIF Global no Uruguai começará em 2027.

- Água ameaçada? -

O governo uruguaio prevê que, até 2040, o setor de hidrogênio verde e seus derivados represente uma receita anual de US$ 2,1 bilhões (R$ 10 bilhões), 2% do PIB projetado.

Além da usina da HIF Global em Paysandú, existem outras duas iniciativas de hidrogênio verde no norte do país: um projeto piloto em Paso de los Toros, associado à usina de celulose da empresa finlandesa UPM, e um projeto em Tambores, da empresa alemã Enertrag e da uruguaia SEG Ingeniería.

No entanto, alguns temem que essa nova indústria esgote um recurso crucial: a água.

Em fevereiro, moradores de Tambores entraram com um recurso na Suprema Corte de Justiça, alegando que o "extrativismo" da água está sendo promovido.

O Uruguai é um dos poucos países que consagram em sua Constituição o acesso à água como um direito humano.

Paganini descartou o risco de escassez de água em um momento de especial sensibilidade no país, que enfrenta uma seca histórica que afetou o fornecimento de água potável para a capital Montevidéu.

No caso de Paysandú, o projeto de maior porte, serão utilizados "cerca de 1.200 m³ diários do rio Uruguai, que tem um fluxo cerca de 500 vezes maior", assegurou.

E.Heinen--JdB