Journal De Bruxelles - Aquecimento do Ártico pode prejudicar reprodução de esquilos

Aquecimento do Ártico pode prejudicar reprodução de esquilos
Aquecimento do Ártico pode prejudicar reprodução de esquilos / foto: Emily Mesner - US National Park Service/AFP

Aquecimento do Ártico pode prejudicar reprodução de esquilos

Quando o rigoroso inverno do Alasca se instala, os esquilos-do-ártico cavam profundamente o solo para começar um período de hibernação de oito meses. Só emergem novamente na primavera, famintos e ansiosos para se reproduzir.

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Cientistas descobriram, porém, uma nova e surpreendente consequência das mudanças climáticas: à medida que as temperaturas aumentam, as fêmeas dessa espécie têm gradualmente avançado a data de retorno à superfície, agora 10 dias mais cedo do que há 25 anos.

Por outro lado, os machos não estão terminando seu sono profundo mais cedo, o que poderia em breve trazer problemas para o processo de reprodução dessas criaturas, segundo um artigo publicado nesta quinta-feira (25) na revista Science.

Anteriormente, os machos terminavam a hibernação um mês antes das fêmeas, permitindo tempo suficiente para seus testículos, que encolhem a cada outono, se regenerarem e descerem, em um ciclo anual de puberdade. Mas esse intervalo está diminuindo.

"Se isso continuar, esperamos começar a ver fêmeas emergindo prontas para acasalar com machos antes que esses machos estejam de fato totalmente maduros para a reprodução", disse à AFP um dos autores, Cory Williams, biólogo da Colorado State University.

- Adaptações únicas -

Como muitos animais árticos, os esquilos-do-ártico desenvolveram adaptações únicas para o inverno extremo.

Hibernam por cerca de oito meses ao ano, em buracos de aproximadamente um metro de profundidade nas margens arenosas dos rios, logo acima do permafrost da tundra.

Durante esse período, sua temperatura corporal cai de cerca de 37 °C para quase -3 °C, a mais baixa em qualquer mamífero, diminuindo drasticamente suas funções cerebrais, pulmonares, cardíacas e de outros órgãos, em um estado chamado "torpor".

A equipe por trás do estudo usou dados de longo prazo sobre as temperaturas do ar e do solo em dois locais e de 199 esquilos no mesmo período.

Foi detectado um aumento significativo na temperatura ambiente, como esperado para uma região conhecida por estar aquecendo quatro vezes mais que a média global devido às mudanças climáticas.

"Também observamos uma mudança no ciclo de congelamento e descongelamento do solo. Agora, o solo está congelando mais tarde e descongelando mais cedo", acrescentou Williams.

Isso teve dois efeitos nos animais. Embora tenham entrado em hibernação ao mesmo tempo, o momento em que sua temperatura corporal central caiu abaixo de 0 °C foi atrasado, o que, por sua vez, atrasou a data em que precisam gerar calor para evitar a morte dos tecidos durante o torpor.

E as fêmeas encerraram a hibernação mais cedo, acompanhando o degelo precoce da primavera.

A razão exata pela qual esse segundo efeito afeta apenas as fêmeas não está confirmada, mas os pesquisadores têm teorias.

Nos machos, os níveis crescentes de testosterona conforme se preparam para se reproduzir parecem forçar o fim da hibernação em um ponto fixo, enquanto as fêmeas parecem ser mais sensíveis às condições ambientais.

- Impactos em cascata -

A vantagem dessa hibernação reduzida é que as fêmeas voltam com mais massa e podem começar antes a coletar recursos - o que pode resultar em ninhadas mais saudáveis e melhores taxas de sobrevivência.

Por outro lado, ficam expostas aos predadores por mais tempo, além da iminente alteração nas interações sexuais.

Também pode haver impactos em cascata na cadeia alimentar, se os predadores dos esquilos se adaptarem à disponibilidade antecipada de presas.

Ainda é cedo para dizer quais poderiam ser os impactos gerais.

O que é impressionante é a prova concreta de que o clima afeta diretamente um ecossistema em um período relativamente curto de tempo, destacou a autora Helen Chmura, pesquisadora do Serviço Florestal do Departamento de Agricultura dos EUA.

"Temos um conjunto de dados de 25 anos, que é um prazo bastante longo para a ciência, mas um período curto de tempo em termos de ecologia", disse ela à AFP.

A.Martin--JdB