Journal De Bruxelles - As 'duas caras' de Dominique Pelicot, julgado na França por dopar sua esposa para que fosse estuprada

As 'duas caras' de Dominique Pelicot, julgado na França por dopar sua esposa para que fosse estuprada
As 'duas caras' de Dominique Pelicot, julgado na França por dopar sua esposa para que fosse estuprada / foto: Benoit PEYRUCQ - AFP

As 'duas caras' de Dominique Pelicot, julgado na França por dopar sua esposa para que fosse estuprada

Quem é Dominique Pelicot? Psiquiatras e psicólogos investigaram nesta segunda-feira (9) o perfil deste homem de 71 anos, julgado na França por drogar sua esposa por uma década para que desconhecidos contatados pela internet a estuprassem.

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Avô "carinhoso" e "super legal" de dia, para a agora ex-esposa, mas estuprador à noite. Um primeiro psicólogo começou a delinear na sexta-feira as "duas caras" deste "manipulador perverso".

"De dia, pode ser coerente, e à noite, parecer diferente", declarou o especialista Bruno Daunizeau.

Primeira psicóloga a analisar e testemunhar perante o tribunal nesta segunda-feira, Marianne Douteau, destacou o caráter "raivoso" de Dominique, que suscitava "medo", "mentiras e sigilo".

Estas características seriam semelhantes às de seu pai, a quem ele odiava. Seus pais administravam um hotel-restaurante e ele trabalhou na indústria nuclear antes de entrar no mercado imobiliário, com pouco sucesso.

"A sexualidade do senhor Pelicot parece calcada em sua personalidade: comum em público, mas para sua parceira ele tem uma sexualidade tenaz", explicou Douteau perante o tribunal de Avignon, no sul da França.

A psicóloga citou como exemplo a troca de casais que sua esposa e principal vítima, Gisèle Pelicot, rejeitou categoricamente e que o acusado compensava "utilizando sites de chat pornográficos".

"Em 50 anos, nunca o vi dizer nada inapropriado ou obsceno sobre uma mulher", disse na quinta-feira a sua agora ex-esposa, enquanto seus advogados confirmaram nesta segunda-feira que o divórcio foi pronunciado em agosto.

Gisèle descreveu um "jovem sedutor, de cabelos compridos" por quem se apaixonou no verão de 1971, e com quem formou um "casal unido", sem imposições.

Os netos, a quem ele ajudava nos deveres de casa e acompanhava nas atividades esportivas, adoravam o avô. Ele também andava de bicicleta com os vizinhos no icônico Mont Ventoux, perto de sua casa em Mazan.

Mas ninguém suspeitava que à noite, e por vezes durante o dia, ele se tornava um recrutador de desconhecidos para estuprar sua esposa, a quem havia drogado, algo que aconteceu, segundo as investigações, cerca de 200 vezes entre julho de 2011 e outubro de 2020, primeiro na região de Paris e depois em Mazan.

- Defesa denuncia ameaças -

O acusado não sofre de "nenhuma patologia ou anomalia mental", mas sim um "desvio sexual ou parafilia de tipo voyeurístico", segundo vários exames psiquiátricos realizados durante a investigação.

Os relatórios o descrevem como um "manipulador" com uma personalidade "perversa", que usava sua esposa como "isca". Dominique também teria caído em uma "dinâmica de dependência sexual".

Quando foi detido em 2020, após ter sido flagrado filmando por baixo das saias de mulheres em um centro comercial, o homem manifestou o seu "alívio", porque "não conseguia" parar.

Mas sua família questiona sistematicamente suas declarações. Segundo sua filha Caroline, "ele só conta parte da verdade quando se vê encurralado".

Depois do depoimento da ex-mulher e da filha na semana passada e dos outros dois filhos, marcado para esta segunda-feira, o primeiro interrogatório do acusado deverá ocorrer na tarde de terça-feira.

Ele se ausentou da audiência desta segunda devido a dores intestinais e parecia muito fraco quando entrou no banco dos réus, apoiado em uma bengala, observou um jornalista da AFP presente na sala.

Além do marido, até meados de dezembro o processo vai julgar outros 50 homens — um deles à revelia — por estupro com agravantes, crime que pode acarretar até 20 anos de prisão.

Nesta segunda-feira, seus advogados anunciaram à imprensa que vão apresentar queixa por ameaças após os dados pessoais dos demais acusados terem sido divulgados nas redes sociais.

R.Vandevelde--JdB