Journal De Bruxelles - Corte de Apelação francesa poderia examinar caso de Le Pen antes das eleições

Corte de Apelação francesa poderia examinar caso de Le Pen antes das eleições
Corte de Apelação francesa poderia examinar caso de Le Pen antes das eleições / foto: Thomas SAMSON - AFP

Corte de Apelação francesa poderia examinar caso de Le Pen antes das eleições

Uma corte de apelação francesa anunciou, nesta terça-feira (1º), que poderia examinar o caso de Marine Le Pen em um prazo que permitiria à líder da extrema direita da França se candidatar às eleições presidenciais de 2027 se sua condenação for anulada.

Tamanho do texto:

A decisão contra Le Pen, emitida na segunda-feira por desvio de recursos públicos quando era deputada no Parlamento Europeu, que a torna inelegível, repercutiu em todo o mundo e causou um "terremoto político" na França, segundo a imprensa, especialmente porque a política francesa de 56 anos aparecia em posição de força nas pesquisas de opinião para as eleições.

"O sistema lançou a bomba nuclear e, se usam uma arma tão poderosa contra nós, evidentemente é porque estamos prestes a vencer as eleições", afirmou Le Pen diante dos deputados de seu partido.

O tribunal de apelações informou pouco depois que, por enquanto, recebeu "três recursos" e vai analisar "esse assunto em um prazo que deveria permitir chegar a uma decisão no verão [no hemisfério norte] de 2026".

Le Pen qualificou o anúncio de "muito boa notícia", e que reflete "a turbulência que a decisão do tribunal criou".

Em caso de absolvição ou inabilitação com suspensão de pena, ela poderia se candidatar às eleições presidenciais.

À frente do partido Reagrupamento Nacional (RN), sucessor da Frente Nacional, Marine Le Pen conseguiu suavizar a imagem radical herdada de seu pai, Jean-Marie Le Pen, e normalizar a presença da extrema direita no cenário político francês, enquanto essa tendência política também avançava na Europa e no mundo.

Em 2017 e 2022, Le Pen chegou ao segundo turno das eleições presidenciais, sendo derrotada por Emmanuel Macron, presidente de centro-direita, que não poderá tentar uma nova reeleição. Mas quando tudo parecia favorecê-la para 2027, a condenação surgiu em seu caminho.

O Tribunal Correcional de Paris a condenou a cinco anos de inabilitação imediata e a dois de prisão, que poderá cumprir em regime domiciliar com tornozeleira eletrônica.

A líder da extrema direita, que sempre alegou inocência, criticou na noite de segunda-feira o que considerou uma "decisão política" própria de "regimes autoritários", durante entrevista ao canal TF1, que registrou alto índice de audiência.

 

Embora os adversários de esquerda e centro tenham defendido, em sua maioria, o respeito às decisões judiciais, a classe política está dividida. O primeiro-ministro François Bayrou expressou "apoio incondicional" aos juízes, mas sua equipe afirmou na segunda-feira que ele estava "consternado" com a condenação.

- Pré-campanha eleitoral -

Diante das críticas, Rémy Heitz, um dos principais magistrados da França, defendeu que esta "não é uma decisão política, e sim judicial", após um "processo justo". Ele se declarou "escandalizado" com o fato de a presidente do tribunal precisar de proteção policial.

Para 57% dos franceses, esta foi uma decisão judicial normal diante dos fatos julgados, contra 42% que a consideraram uma forma de impedir a candidatura de Marine Le Pen em 2027, segundo uma pesquisa da Elabe. "Ninguém está acima da lei", disse Marc Fonteneau, um eleitor de Marselha.

Segundo a sentença, Le Pen estava no "centro" de um "sistema" aplicado entre 2004 e 2016 para que assessores parlamentares de seu partido, pagos pelo Parlamento Europeu, trabalhassem "na verdade" para o partido, o que é proibido.

Vinte e quatro réus, entre membros e funcionários do RN, foram declarados culpados, assim como o partido. Os condenados deverão devolver 3,2 milhões de euros ao Parlamento Europeu (19,7 milhões de reais), que se somam ao 1,1 milhão de euros (6,78 milhões de reais) já pagos.

Com a ofensiva contra sua condenação, Marine Le Pen iniciou sua pré-campanha eleitoral. Seu partido, que lançou uma petição on-line e convocou uma "grande manifestação de apoio" para o domingo em Paris, se apresenta como vítima de uma perseguição judicial.

"Vão fazer de tudo para nos impedir de chegar ao poder", disse à rádio Europe 1 o presidente do RN, Jordan Bardella, que, aos 29 anos, se destaca como o candidato alternativo às eleições presidenciais se a líder da extrema direita não conseguir concorrer. "Estamos longe de estarmos mortos", advertiu.

Segundo uma pesquisa da Toluna Harris Interactive, realizada após o anúncio da inabilitação, Bardella tem quase 36% das intenções de voto para o primeiro turno da eleição presidencial de 2027, índice similar ao obtido por Marine Le Pen na votação de 2022.

burs-tjc/zm/fp/aa/ic/mvv/rpr

D.Verheyen--JdB