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Hamas diz que trégua em Gaza está em perigo por decisão de Israel sobre prisioneiros
O Hamas acusou Israel neste domingo (23) de colocar a trégua em Gaza em perigo ao bloquear a libertação de prisioneiros palestinos enquanto prosseguirem as "cerimônias humilhantes" de entrega dos reféns israelenses.
A primeira fase do cessar-fogo, que entrou em vigor em 19 de janeiro após mais de 15 meses de guerra, terminará no dia 1º de março sem que os termos da segunda fase tenham sido negociados.
Em um contexto de grande tensão sobre o acordo, Israel anunciou a retirada de 40.000 habitantes de três campos de refugiados no norte da Cisjordânia ocupada, onde o exército efetua uma grande operação há um mês, com ordens de não permitir seu retorno.
O exército também anunciou a mobilização de uma unidade de tanques em Jenin e afirmou que ampliaria ainda mais as operações no norte do território.
Na Faixa de Gaza, o Hamas libertou seis reféns israelenses no sábado, no que deveria ter sido a sétima troca de reféns por prisioneiros palestinos, segundo o que determina o acordo de trégua.
Assim como em libertações anteriores, o Hamas exibiu cinco reféns em um palco antes de entregá-los ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), encenações que já haviam sido criticadas por esta organização, pela ONU e por Israel.
A troca previa a libertação de 620 prisioneiros palestinos, mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou neste domingo que isto não acontecerá "até que se assegure a próxima libertação de reféns sem as cerimônias humilhantes".
O movimento islamista palestino acusou Israel de "violação flagrante" do acordo de cessar-fogo e pediu aos mediadores internacionais, "em particular os Estados Unidos", que "pressionem o inimigo para que [...] liberte imediatamente este grupo de prisioneiros".
- Vídeo "perturbador" -
Tanto na Faixa de Gaza como na Cisjordânia, as famílias aguardaram em vão o retorno de seus entes queridos.
"Nosso Senhor nos dará paciência e vamos simplesmente esperar até que libertem nossos filhos", declarou Umm Alaa, uma mulher que esperava o retorno de seu filho em Ramallah, na Cisjordânia.
Em contraste, no sábado em Tel Aviv, centenas de israelenses assistiram emocionados à transmissão ao vivo da libertação dos reféns da "Praça dos Reféns".
Tal Shoham, 40 anos, sequestrado durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 em Israel, e Avera Mengistu, 38 anos, que permaneceu em cativeiro no território palestino por mais de uma década, foram libertados no sábado após uma cerimônia em Rafah, no sul de Gaza.
A mesma situação se repetiu mais tarde em Nuseirat, no centro de Gaza, para a libertação de Eliya Cohen, Omer Shem Tov e do israelense-argentino Omer Wenkert, com idades entre 22 e 27 anos, também sequestrados em 7 de outubro de 2023.
Durante a noite, o braço armado do Hamas publicou um vídeo, aparentemente gravado horas antes em Nuseirat, que mostra dois reféns assistindo à libertação de Cohen, Tov e Wenkert. Eles suplicam a Netanyahu que consiga sua libertação.
A organização Fórum de Famílias dos Reféns classificou o vídeo como "perturbador" e denunciou uma "demonstração de crueldade particularmente repugnante".
- Segunda fase incerta -
Dos 251 sequestrados em 7 de outubro, 62 continuam em cativeiro em Gaza, dos quais 35 estariam mortos, segundo o exército israelense.
Desde que a trégua entrou em vigor, 29 reféns israelenses - quatro deles mortos - foram entregues a Israel, em troca de mais de 1.100 detentos palestinos.
Segundo o Hamas, que governa Gaza desde 2007, resta ao grupo apenas entregar quatro corpos de reféns a Israel antes do fim da primeira fase do acordo.
As negociações indiretas para a segunda etapa, que deve resultar no fim definitivo da guerra, foram adiadas.
O ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra, provocou as mortes de 1.215 pessoas, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelense.
A ofensiva israelense de retaliação matou pelo menos 48.319 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo os números do Ministério da Saúde do território palestino - governado pelo Hamas -, que a ONU considera confiáveis.
burs-it/dv/hgs/zm/fp
R.Cornelis--JdB