Mais de 20 mortos por disparos israelenses no sul do Líbano após prazo de retirada expirar
O Exército israelense abriu fogo contra o sul do Líbano neste domingo (26), matando 22 pessoas, incluindo um militar libanês, enquanto centenas de pessoas tentavam retornar a seus vilarejos, após a expiração do prazo para a retirada das tropas israelenses como parte de uma trégua com o Hezbollah.
Correspondentes da AFP viram comboios de dezenas de carros, alguns com bandeiras amarelas do Hezbollah, dirigindo-se para localidades devastadas pela guerra entre o movimento pró-iraniano e o Exército israelense.
Segundo o acordo que pôs fim, em 27 de novembro, a dois meses de conflito, o Exército israelense deveria concluir neste domingo, após 60 dias de prazo, sua retirada do sul do Líbano. No entanto, Israel já declarou que a operação militar continuará.
Segundo esse pacto, apenas o Exército libanês e os capacetes azuis da ONU podem ser destacados no sul do Líbano.
O Exército israelense abriu fogo em várias localidades fronteiriças contra "cidadãos que tentavam retornar aos seus vilarejos", deixando 22 mortos, incluindo um soldado libanês e seis mulheres, além de 124 feridos, informou um novo balanço do Ministério da Saúde.
O Exército israelense indicou, por sua vez, que seus soldados dispararam “tiros de advertência para eliminar ameaças em diversas áreas onde foram identificados suspeitos de aproximação às tropas”.
Os militares “capturaram suspeitos” que eram “uma ameaça iminente”, acrescentou.
- "Vamos retornar" -
O presidente libanês, Joseph Aoun, pediu à população para manter "a calma" e confiar em seu Exército, que busca "garantir o retorno seguro aos seus lares e vilarejos".
O Exército libanês havia aconselhado a população a não se dirigir para as áreas ainda ocupadas pelas tropas israelenses.
A ONU também pediu "cautela" aos deslocados.
"As condições ainda não foram estabelecidas para o retorno seguro dos cidadãos aos seus vilarejos ao longo da Linha Azul", afirmaram em um comunicado conjunto a representante da ONU para o Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, e o general Aroldo Lázaro, comandante da Força Provisória das Nações Unidas no Líbano (Unifil, na sigla em inglês), referindo-se à fronteira entre os dois países, delimitada pela ONU.
Grupos de moradores, muitos deles mulheres carregando imagens de seus familiares mortos na guerra, dirigiam-se a pé para a cidade fronteiriça de Mais al Jabal, onde o Exército israelense ainda estava destacado.
“Vamos regressar aos nossos vilarejos e o inimigo israelense partirá, mesmo que haja mártires”, disse Ali Harb, um homem de 27 anos que tenta regressar à sua cidade, Kfarkila, que foi devastada.
Nos termos do acordo de 27 de novembro, o Hezbollah, enfraquecido na guerra, deve retirar suas forças para o norte do rio Litani, cerca de 30 quilômetros da fronteira, e desmantelar sua infraestrutura militar no sul.
Israel evacuou a zona costeira do sul do Líbano, mas permanece em áreas mais a leste.
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou na sexta-feira que a retirada continuaria além do prazo de 26 de janeiro.
"O acordo de cessar-fogo não foi plenamente cumprido pelo Líbano, e o processo de retirada em etapas continuará", afirmou sobre a adoção do pacto, supervisionado pelos Estados Unidos.
O presidente francês, Emmanuel Macron, instou neste domingo Netanyahu a “retirar” suas forças ainda presentes no Líbano.
- Mais de 4.000 mortos -
As hostilidades entre Israel e Hezbollah forçaram 60.000 israelenses e outros 900.000 libaneses a fugir de suas casas. A guerra deixou mais de 4.000 mortos, de acordo com as autoridades libanesas.
O deputado do Hezbollah, Ali Fayyad, afirmou no sábado que "os pretextos invocados por Israel" visam "seguir uma política de terra arrasada" e tornar "o retorno dos moradores (ao sul) impossível".
O Hezbollah abriu uma frente contra Israel um dia após o ataque do movimento palestino Hamas em território israelense em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza, onde também vigora uma trégua desde 19 de janeiro.
Essa frente se transformou em uma guerra aberta em setembro, com bombardeios israelenses contra a capital Beirute e vários ataques ao Hezbollah, incluindo o assassinato de seu líder, Hassan Nasrallah.
Y.Callens--JdB