Comércio, Defesa, alianças... UE prepara suas respostas a Trump
A União Europeia busca uma resposta unificada de seus 27 países membros às ameaças lançadas pelo novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas já começou a delinear suas primeiras reações em diversas áreas, como Defesa e Comércio.
- Gasto em Defesa
A chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, disse nesta quarta-feira (22) que Trump estava "certo" quando disse que os países da UE não gastam o suficiente em Defesa e enfatizou que "agora é a hora de investir".
O presidente americano pressiona os países europeus a aumentarem seus gastos militares no âmbito da Otan para 5% de seus respectivos PIBs, um objetivo que parece difícil e distante, quando a média do bloco no ano passado foi de 1,9%.
Com a invasão da Ucrânia perto de completar seu terceiro aniversário, a Rússia e a sua vasta indústria militar, disse Kallas, representam uma "ameaça existencial" à segurança do bloco, "hoje, amanhã e durante muito tempo, enquanto continuarmos investindo pouco em nossa Defesa".
Kallas e o comissário da Defesa europeu, Andrius Kubilius, devem apresentar um plano ambicioso em março para fortalecer a indústria europeia de Segurança e Defesa, o que provavelmente exigirá grandes investimentos.
Enquanto isso, Donald Tusk, chefe de governo da Polônia, país que ocupa a presidência rotativa de seis meses da UE, alertou o Parlamento Europeu que "se a Europa quiser sobreviver, deve se armar".
Nesse contexto, há vozes — principalmente da França — que pedem que a Europa evite comprar mais armas americanas como resposta a Trump e que, em vez disso, defendem o fortalecimento e a integração das indústrias europeias.
Para o comissário europeu de Estratégia Industrial, o francês Stéphane Séjourné, é essencial que a contrapartida americana ao aumento dos gastos europeus com defesa seja um acordo comercial.
"Não podemos ter uma guerra comercial e, ao mesmo tempo, construir uma Europa da Defesa", disse ele.
- Pragmatismo comercial
Já empossado na Casa Branca, Trump voltou a ameaçar adotar altas tarifas sobre produtos europeus, uma possibilidade cuja simples menção gera suor frio.
Na terça-feira, no Fórum de Davos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que o bloco terá uma relação com Washington baseada no "pragmatismo".
A funcionária lembrou que o volume comercial entre a UE e os EUA ascende a mais de 1,5 trilhão de dólares (9 trilhões de reais na cotação atual). "Há muito em jogo para ambos os lados", insistiu.
Em seu discurso, von der Leyen afirmou que as empresas europeias empregam cerca de 3,5 milhões de americanos, enquanto outro milhão de pessoas nos EUA "dependem diretamente do comércio com a Europa".
Na segunda-feira, o presidente americano acusou a UE de não importar produtos suficientes dos Estados Unidos e prometeu "retificar" essa situação impondo tarifas ou pressionando o bloco a comprar mais gás e petróleo dos EUA.
- Ampliar rede de alianças
Desde dezembro, a UE anunciou entendimentos de princípio para acordos comerciais com os membros fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), assim como com o México e a Malásia.
Durante sua visita a Davos, na Suíça, Von der Leyen anunciou que pretende viajar, acompanhada de todos os comissários europeus, para a Índia, país que ela chamou de "a maior democracia do mundo".
No caso da Índia, disse a autoridade alemã, a UE está interessada em "fortalecer uma parceria estratégica".
Também em Davos, Von der Leyen manifestou interesse em manter uma relação "construtiva" com a China, gigante que ainda gera visível desconfiança no bloco europeu.
A UE e a China dizem que querem evitar uma guerra comercial, mas mantêm tarifas cruzadas e consultas sobre várias disputas na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O.Meyer--JdB