Journal De Bruxelles - Colômbia suspende negociações com ELN após dia de violência que deixou mais de 30 mortos

Colômbia suspende negociações com ELN após dia de violência que deixou mais de 30 mortos
Colômbia suspende negociações com ELN após dia de violência que deixou mais de 30 mortos / foto: Raul ARBOLEDA - AFP/Arquivos

Colômbia suspende negociações com ELN após dia de violência que deixou mais de 30 mortos

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta sexta-feira (17) a suspensão das negociações de paz com o grupo guerrilheiro Exército de Libertação Nacional (ELN), após um dia de violência que deixou cerca de 30 mortos na fronteira com a Venezuela, segundo um relatório oficial.

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"O que o ELN cometeu em Catatumbo são crimes de guerra. O processo de diálogo com este grupo está suspenso, o ELN não tem vontade de paz", escreveu o presidente nesta sexta-feira em sua conta na rede social X.

Desde quinta-feira, rebeldes do ELN e dissidentes das Farc têm entrado em confronto em uma região do nordeste da Colômbia conhecida como Catatumbo, na fronteira com a Venezuela e com mais de 52 mil hectares de plantação de folha de coca, disse o governador do departamento de Norte de Santander, William Villamizar, à Blu Radio.

“Já temos dados no local de mais de 30 pessoas mortas, assim como mais de 20 feridas”, disse o governador, sem explicar se há civis entre as vítimas. Vários dos feridos foram levados para hospitais próximos e relatórios preliminares afirmam que dezenas de famílias foram desalojadas.

A Defensoria do Povo registra ainda "dezenas de famílias deslocadas" e afirma que se desconhece o paradeiro de cerca de 20 pessoas.

Petro começou a dialogar com o ELN no final de 2022, quando se tornou o primeiro esquerdista a chegar à presidência da Colômbia. Mas esse processo de paz enfrenta crises constantes devido a ataques dos rebeldes, disputas acirradas com outros grupos armados e diferenças entre as partes que impediram a obtenção de acordos concretos.

"O ELN precisa expressar, de uma vez por todas, sua intenção, vontade, decisão de alcançar a paz", declarou Iván Cepeda, representante do governo nas negociações com essa guerrilha.

- Disputa pela coca -

Os confrontos se devem a “uma disputa territorial” entre o ELN e as facções dissidentes das Farc pelo controle da produção de cocaína na área, segundo Villamizar.

A Colômbia é o principal produtor de cocaína do mundo e Tibú é o município que mais tem plantações de narcóticos, de acordo com a ONU.

A defensora pública Iris Marín denunciou que o ELN está "atacando diretamente a população civil" e vai "casa por casa" para assassinar pessoas que considera ligadas às dissidências das Farc.

O histórico acordo de paz assinado em 2016 dissolveu as poderosas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, mas grupos dissidentes se reorganizaram com novos recrutas e mantêm a guerra contra o Estado, outras organizações e a população civil.

Na quinta-feira, a ONU informou que cinco ex-combatentes da extinta guerrilha, que haviam abandonado as armas após o acordo de paz, foram assassinados em Catatumbo.

O acordo histórico não conseguiu extinguir mais de meio século de conflito armado, que continua sendo alimentado pela cocaína.

"Quando tudo gira em torno dessa economia ilícita, é a partir daí que as tensões são geradas", afirmou o general Giovanni Rodríguez, comandante da Segunda Divisão do Exército destacada na região.

- Diálogos truncados -

Marín afirmou que alerta, desde novembro de 2024, sobre a violência "imediata" que "poderia ocorrer se não fossem tomadas medidas" e pediu "maior presença da força pública".

"É uma disputa, de um lado, pelas rendas ilegais, pelo controle populacional e pelo controle da fronteira com a Venezuela", acrescentou.

Para a funcionária, após a questionada reeleição de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela, as "mudanças geopolíticas" afetam "os interesses dos grupos na região".

O comissário de paz do governo, Otty Patiño, denunciou na quinta-feira que o ELN está “pagando pistoleiros” para assassinar seu principal assessor.

O governo reprova a falta de vontade da guerrilha para assinar a paz.

Por sua vez, os rebeldes denunciam uma estratégia de Bogotá para dividi-los, ao reconhecer nas negociações a "Los Comuneros del Sur", uma facção dissidente do ELN que opera no departamento de Nariño (sudoeste).

O grupo guerrilheiro de inspiração guevarista, que pega em armas desde 1964, tem uma força de cerca de 5.800 combatentes e uma ampla rede de colaboradores, de acordo com a inteligência militar.

O ELN já falhou em suas tentativas de assinar a paz com cinco governos. A estrutura federada desta guerrilha tem sido um dos maiores obstáculos para avançar rapidamente em direção a um acordo.

X.Lefebvre--JdB