Sírios comemoram a queda do governo de Bashar al Assad
Multidões de sírios celebraram neste domingo (8) a queda do governo de Bashar al Assad, derrubado por uma ofensiva relâmpago de grupos rebeldes liderados por islamistas que chegaram a Damasco, mergulhando o país na incerteza.
Al Assad, que governou a Síria com mão de ferro desde que chegou ao poder há 24 anos, renunciou e deixou o país, afirmou a Rússia, seu principal aliado. Agências de notícias russas disseram que ele viajou para Moscou com sua família.
Dezenas de pessoas invadiram sua luxuosa residência em Damasco, a capital. A casa do presidente alauíta, que sucedeu seu pai Hafez al Assad — governante do país de 1971 a 2000 — também foi saqueada.
"Hoje já não tenho medo (...) Minha única preocupação é que estejamos unidos e construamos este país com todas as nossas forças", disse Abu Omar.
Uma sala de recepção do palácio presidencial, situado em outro bairro, foi incendiada, assim como prédios de órgãos de segurança, segundo jornalistas da AFP e uma ONG com sede no Reino Unido que monitora o conflito.
A aliança rebelde liderada pelos islamistas do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) impôs um "toque de recolher em Damasco das 16h00 (10h00 no horário de Brasília) até as 05h00 de segunda-feira” (23h00 de domingo).
O anúncio ocorreu horas após sua entrada na capital síria, após uma ofensiva lançada na província de Idlib, no noroeste do país, em 27 de novembro.
Pelo menos 910 pessoas, incluindo 138 civis, morreram desde então, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma organização que monitora em Londres o conflito a partir de uma extensa rede de informantes em campo.
A violência também deslocou 370 mil pessoas, segundo a ONU, em um país que sofreu uma sangrenta guerra civil desencadeada pela repressão de manifestações pró-democracia em 2011.
- "A Síria é nossa!" -
O líder islamista da coalizão rebelde, Abu Mohamed al Jolani, chegou neste domingo a Damasco e foi até a famosa mesquita dos Omíadas, onde fez um discurso.
Vídeos que circulam nas mídias mostram o rebelde sendo recebido por uma multidão aos gritos de "Allah Akbar" (Deus é grande).
Dezenas de pessoas saíram às ruas, de acordo com imagens da AFPTV, para comemorar a queda do governo. Imagens mostram pessoas pisoteando estátuas de Hafez al Assad, pai de Bashar.
"A Síria é nossa, não da família Assad!", gritaram combatentes nas ruas de Damasco. Na praça dos Omíadas, ouviam-se disparos de alegria.
Moradores relataram que alguns soldados do exército sírio jogaram fora seus uniformes ao abandonar o quartel-general localizado na praça.
"Depois de 50 anos de opressão sob o governante partido Baath e 13 anos de crimes, tirania e deslocamentos, anunciamos hoje o fim desta era sombria e o início de uma nova era para a Síria", declararam os rebeldes.
Na televisão pública, a coalizão, que chamou Al Assad de "tirano", afirmou ter libertado todos os prisioneiros "detidos injustamente".
A queda do governo abre um período de incerteza na Síria, fragmentada por uma guerra civil que matou quase meio milhão de pessoas desde 2011. O conflito dividiu o país em zonas de influência, com forças beligerantes apoiadas por potências estrangeiras.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, celebrou o fim do "regime ditatorial" da Síria.
França e Alemanha comemoraram a queda de Bashar al Assad, mas também pediram que “todas as formas de extremismo” sejam rejeitadas.
É preciso evitar que a Síria "caia no caos", alertou o Catar. A Arábia Saudita, por sua vez, pediu a proteção do país contra "o caos e a divisão".
A Turquia, que tem grande influência na Síria e apoia alguns grupos rebeldes, pediu uma "transição pacífica" e afirmou estar em contato com os rebeldes para garantir a segurança.
- Saída "negociada" -
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reunirá sua equipe de segurança nacional neste domingo para discutir a situação na Síria.
Washington mantém cerca de 900 soldados no país, como parte da coalizão internacional formada em 2014 para combater o grupo jihadista Estado Islâmico.
A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou que a queda do governo é "positiva" e mostra "a fraqueza" de alguns de seus aliados, Rússia e Irã.
Teerã, que viu sua embaixada em Damasco saqueada, alertou que sua política poderá mudar dependendo da "evolução" da situação "na Síria e na região".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou a queda de Al Assad como um "dia histórico no Oriente Médio" e descreveu o presidente deposto como um "elo central" do "eixo do mal" liderado por Teerã.
Netanyahu ordenou ao exército israelense que "tomasse" uma zona desmilitarizada nas Colinas do Golã, um território sírio ocupado e anexado por Israel, que não permitirá que "nenhuma força hostil" se estabeleça na fronteira, afirmou.
zona de distensión desmilitarizada en los Altos del Golán, un territorio sirio ocupado y anexado por Israel. El Estado hebreo no permitirá que "ninguna fuerza hostil" se establezca en la frontera, dijo.
C.Bertrand--JdB