Netanyahu se diz contra cessar-fogo 'unilateral' no Líbano
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou, nesta terça-feira (15), a possibilidade de ordenar um cessar-fogo "unilateral" no Líbano, alegando que isso não impediria o reagrupamento na fronteira dos militantes islamistas do Hezbollah, que ameaçou atacar "todo" o território israelense.
Em um discurso nesta terça, o número dois do Hezbollah, Naim Qassem, afirmou que "a solução" para encerrar a guerra no Líbano é "um cessar-fogo" e assegurou que seu movimento não será "derrotado".
"Uma vez que o inimigo israelense apontou contra todo o Líbano, temos o direito, a partir de uma posição defensiva, de apontar contra qualquer lugar" de Israel, "seja no centro, no norte ou no sul", afirmou Qassem.
Netanyahu disse ser contrário a um "cessar-fogo unilateral, que não mudaria a situação de segurança no Líbano" e que "não impediria o Hezbollah de se rearmar e se reagrupar" no sul do país, durante uma conversa telefônica com o presidente francês, Emmanuel Macron.
Nesta terça, o movimento pró-Irã indicou ter disparado mísseis contra “três escavadeiras e um tanque” do Exército israelense, que pegaram fogo, perto de um vilarejo no sul do Líbano.
Também afirmou que lançou foguetes contra várias regiões do norte de Israel, incluindo Haifa e Safed, e que derrubou dois drones israelenses.
As autoridades libanesas relataram, na noite desta terça, a morte de nove pessoas em bombardeios israelenses em vários vilarejos do sul do país e outras cinco em uma localidade no leste.
Após quase um ano de troca de disparos com o Hezbollah na fronteira com o Líbano e depois de debilitar o Hamas na Faixa de Gaza, o Exército israelense focou, em meados de setembro, na guerra no Líbano, onde intensificou seus ataques contra redutos do movimento xiita.
O objetivo é afastar o Hezbollah das regiões fronteiriças e acabar com o lançamento de foguetes para que cerca de 60.000 israelenses deslocados possam retornar para casa.
Israel iniciou em 23 de setembro uma intensa campanha de bombardeios aéreos contra redutos do movimento pró-iraniano e lançou uma ofensiva terrestre no sul do país vizinho uma semana depois.
Os bombardeios israelenses de segunda-feira no Líbano causaram 41 mortes, de acordo com as autoridades libanesas. Desde 23 de setembro, pelo menos 1.356 pessoas morreram no país, segundo um levantamento com base em números oficiais. A ONU também reporta quase 700.000 deslocados.
- Combatentes do Hezbollah capturados -
O Exército israelense bombardeou nesta terça-feira a região do Bekaa (leste), onde um hospital na cidade de Baalbeck ficou inoperante, assim como o sul do país, segundo a agência oficial de notícias libanesa ANI.
Após os recentes bombardeios contra os redutos do Hezbollah no sul e no leste do Líbano, bem como na periferia sul de Beirute, os Estados Unidos aumentaram a pressão sobre Israel, afirmando que se "opõem" à campanha de bombardeios das últimas semanas na capital libanesa.
A ONU pediu, por sua vez, que seja investigado um bombardeio israelense ocorrido na segunda-feira no vilarejo cristão de Aito, no norte do Líbano, que deixou 22 mortos, incluindo 12 mulheres e duas crianças, segundo números da entidade.
Enquanto continuam a guerra contra o Hezbollah no Líbano e contra o Hamas na Faixa de Gaza, os israelenses seguem preparando uma resposta ao ataque com mísseis do Irã em 1º de outubro.
Netanyahu afirmou, nesta terça-feira, que seu país decidirá sozinho, com base em seu "interesse nacional", quais serão os alvos de um eventual ataque contra o Irã, após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, instá-lo a não atacar instalações petrolíferas ou nucleares.
- "Emergência permanente" -
As tropas israelenses realizam uma ofensiva no norte da Faixa de Gaza, especialmente em Jabaliya, onde, segundo afirmam, o movimento islamista tenta reconstituir suas forças.
Um jornalista da AFP viu nesta terça-feira adultos e crianças deixando seu bairro, carregando seus pertences em carros e carroças puxadas por burros, de bicicleta ou a pé.
"Toda a área foi reduzida a cinzas", lamentou Rana Abdel Majid, de 38 anos e oriunda de Al Faluya, perto de Jabaliya. "Se o cerco durar mais dois dias, morreremos de fome", acrescentou.
Diante dessa situação, Washington advertiu Israel que poderia reter parte da assistência ao seu aliado, uma vez que a ajuda humanitária no território palestino continua sem melhorias.
"É necessário fazer mudanças para que a assistência em Gaza volte a aumentar, já que atualmente está em níveis muito, muito baixos", declarou o porta-voz do Departamento de Estado, mencionando um prazo de 30 dias.
Por sua vez, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou nesta terça que a população de Gaza enfrenta as piores restrições que limitam a ajuda humanitária em um ano.
O diretor do Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas para os Territórios Palestinos, Antoine Renard, alertou que há uma "situação de emergência permanente".
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 matou 1.206 pessoas em Israel, na sua maioria civis, segundo um levantamento baseado em números oficiais israelenses, incluindo os reféns que morreram em cativeiro em Gaza.
Pelo menos 42.344 palestinos morreram, na sua maioria civis, na ofensiva de retaliação israelense em Gaza, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
I.Servais--JdB