Casa e gabinete de presidente do Peru são revistados por escândalo de relógios de luxo
Forças de segurança do Peru efetuaram uma operação de busca, neste sábado (30), na residência da presidente Dina Boluarte e na sede do governo, dentro de uma investigação sobre relógios Rolex que a chefe de Estado não teria declarado como parte de seus bens.
Durante a madrugada, policiais e representantes do Ministério Público entraram na casa de Boluarte, na zona leste de Lima, após derrubarem a porta com uma barra de ferro, segundo imagens exibidas pela TV.
Depois, dirigiram-se para o palácio de governo e revistaram o gabinete da presidente, que estava no local no momento da operação, confirmou o governo.
"A residência privada da presidente foi revistada [...] Terminada a diligência [...], vieram ao palácio de governo com os mesmos propósitos", disse à imprensa o primeiro-ministro peruano, Gustavo Adrianzén.
As autoridades realizaram a operação em busca dos relógios de luxo, cuja procedência não foi explicada pela presidente.
Embora o Ministério Público não tenha informado se as joias ou outras evidências foram encontradas, a defesa de Boluarte assegurou que os policiais encontraram alguns relógios em seu quarto na sede do governo.
"Não os levaram, foram verificados e fotos foram tiradas. Eram aproximadamente dez, e dentro desse número havia alguns relógios bonitos, mas não posso dizer quantos eram da marca Rolex", disse o advogado Mateo Castañeda à rádio RPP.
Boluarte, que assumiu a Presidência em dezembro de 2022, começou a ser investigada em 18 de março por suposto crime de enriquecimento ilícito e omissão de declarações em documentos públicos.
Segundo a imprensa, a chefe de Estado tem previsto dar uma mensagem à nação ainda neste sábado.
- Nova intimação -
As operações foram autorizadas pelo Tribunal Superior de Investigações Preparatórias, presidido pelo juiz Juan Carlos Checkley, a pedido do procurador-geral da nação.
O primeiro-ministro criticou duramente as operações contra Boluarte.
"Consideramos absolutamente desproporcional, injustificada e quando não ilegal e inconstitucional a ação realizada", afirmou Adrianzén.
A presidente de 61 anos foi intimada na sexta-feira pelo Ministério Público para depor, após ter pedido o reagendamento da diligência que estava prevista para a semana passada.
"Estamos certos de que, no decurso da investigação, há de se esclarecer, de forma definitiva, que não existe nenhum tipo de responsabilidade pelos supostos delitos que estão sendo investigados", afirmou Adrianzén.
Caso Boluarte seja indiciada por enriquecimento ilícito, a presidente só responderá a um eventual julgamento depois de julho de 2026, quando termina o seu mandato, como prevê a Constituição.
O escândalo, porém, pode resultar em um pedido de vacância (destituição) de Boluarte no Congresso, sob a alegação de "incapacidade moral".
Para que isso aconteça, as bancadas de partidos de direita, que têm maioria no Parlamento unicameral e representam a principal base de apoio da presidente, terão que apoiar as bancadas minoritárias de esquerda em uma aliança difícil de ser concretizada.
- 'Mãos limpas' -
O escândalo dos relógios da marca Rolex explodiu com uma reportagem do programa jornalístico "La Encerrona", exibida há algumas semanas.
A reportagem revelou que Boluarte utilizou vários relógios da marca de luxo em eventos oficiais desde que tomou posse como vice-presidente do governo do ex-presidente Pedro Castillo e ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social em 2021.
O período analisado pelo programa vai até dezembro de 2022, mês em que ela assumiu a Presidência.
Em sua única reação até o momento, Boluarte só se referiu a um Rolex "antigo" e disse que o conseguiu com seu "esforço", já que trabalha desde os 18 anos.
"Entrei no Palácio de Governo com as mãos limpas e sairei com as mãos limpas, como prometi ao povo peruano", declarou Boluarte nos últimos dias.
Com o escândalo, a Controladoria da República anunciou que revisaria novamente as declarações de bens apresentadas por Boluarte nos últimos dois anos em busca de um eventual desequilíbrio patrimonial.
O Ministério Público já investiga Boluarte por supostos crimes de "genocídio, homicídio qualificado e lesões graves", em um processo aberto no ano passado pela morte de mais de 50 cidadãos "durante os protestos sociais entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023".
Boluarte foi interrogada pela primeira vez em março de 2023 no âmbito desta investigação.
A popularidade da presidente não passa de 10% nas pesquisas e ela não tem uma bancada própria no Congresso, controlado pela direita e pela extrema-direita.
Boluarte era vice-presidente e assumiu a Presidência em 7 de dezembro de 2022, depois que o Congresso destituiu o presidente de esquerda Pedro Castillo por sua tentativa de dissolver o Parlamento, governar por decreto, interferir no sistema judicial e convocar uma Constituinte.
H.Raes--JdB