Journal De Bruxelles - Peru: operação contra residência da presidente por escândalo de relógios de luxo

Peru: operação contra residência da presidente por escândalo de relógios de luxo
Peru: operação contra residência da presidente por escândalo de relógios de luxo / foto: Juan Pablo AZABACHE - PRESIDENCIA DEL PERU/AFP

Peru: operação contra residência da presidente por escândalo de relógios de luxo

As forças de segurança do Peru efetuaram uma operação de busca neste sábado (30) na residência da presidente Dina Boluarte e na sede do governo, no âmbito de uma investigação sobre relógios Rolex que a chefe de Estado não teria declarado como parte de seus bens.

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Durante madrugada, policiais e representantes do Ministério Público entraram na casa de Boluarte, em Lima, e depois revistaram o palácio do governo, em busca dos relógios de luxo que não tiveram a procedência explicada pela presidente.

"Vamos fazer a operação no palácio, fazer a busca segundo a ordem judicial", declarou o coronel Harvey Colchado aos jornalistas, antes de entrar na sede da presidência.

Colchado não confirmou se os relógios foram encontrados na primeira operação, alegando o caráter "reservado" da investigação.

Segundo um documento da polícia, quase 40 agentes e promotores participaram na operação.

Na presidência desde dezembro de 2022, Boluarte começou a ser investigada este mês por suposto crime de enriquecimento ilícito e omissão de apresentar declarações em documentos públicos.

A operação na residência "tem fins de busca e apreensão", afirmou a polícia.

A ação foi autorizada pelo Tribunal Superior de Investigações Preparatórias, presidido pelo juiz Juan Carlos Checkley, a pedido do procurador-geral da nação.

O primeiro-ministro do Peru, Gustavo Adrianzén, criticou as operações. "O que aconteceu constitui um ataque intolerável à dignidade da Presidência da República e à Nação que representa. Estas ações são desproporcionais e inconstitucionais", declarou à imprensa.

- Investigação sem julgamento -

As operações de busca aconteceram depois que o MP não aceitou que a presidente reagendasse uma audiência na qual deveria mostrar os relógios e seus comprovantes de compra.

Se for indiciada por enriquecimento ilícito, a presidente só responderá a um eventual julgamento depois de julho de 2026, quando termina o seu mandato, segundo estabelece a Constituição. A investigação, no entanto, pode prosseguir neste período.

O escândalo, porém, pode resultar em um pedido de vacância (destituição) de Boluarte no Congresso, sob a alegação de "incapacidade moral".

Para que isto aconteça, as bancadas de partidos de direita, que têm maioria no Parlamento unicameral e representam a principal base de apoio da presidente, terão que apoiar as bancadas minoritárias de esquerda em uma aliança difícil de ser concretizada.

Segundo o chefe de gabinete da presidente, no momento das operações Boluarte estava em sua residência dentro do complexo do palácio de governo.

A presidente seguirá "colaborando com o MP" e prestará depoimento quando for convocada, acrescentou Adrianzén na rede social X.

- Mãos limpas -

O escândalo dos relógios da marca Rolex explodiu com uma reportagem do programa jornalístico "La Encerrona" exibida há algumas semanas.

A reportagem revelou que Boluarte utilizou vários relógios da marca de luxo em eventos oficiais desde que tomou posse como vice-presidente do governo do ex-presidente Pedro Castillo e ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social em 2021.

O período analisado pelo programa vai até dezembro de 2022, mês em que ela assumiu a presidência.

Após a exibição da reportagem, Boluarte afirmou que era um relógio "antigo", produto do seu "esforço", já que trabalha desde os 18 anos.

"Entrei no Palácio de Governo com as mãos limpas e sairei com as mãos limpas, como prometi ao povo peruano", declarou Boluarte, 61 anos, na semana passada.

Com o escândalo, a Controladoria da República anunciou que revisaria novamente as declarações de bens apresentadas por Boluarte nos últimos dois anos em busca de um eventual desequilíbrio patrimonial.

O Ministério Público já investiga Boluarte por supostos crimes de "genocídio, homicídio qualificado e lesões graves", em um processo aberto no ano passado pela morte de mais de 50 cidadãos durante os protestos sociais entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023.

Boluarte foi interrogada pela primeira vez em março de 2023 no âmbito desta investigação.

A popularidade da presidente não supera 10% nas pesquisas e ela não tem uma bancada própria no Congresso, controlado pela direita e pela extrema-direita.

Boluarte era vice-presidente e assumiu a presidência em 7 de dezembro de 2022, depois que o Congresso destituiu o presidente de esquerda Pedro Castillo por sua tentativa de dissolver o Parlamento, governar por decreto, interferir no sistema judicial e convocar uma Constituinte.

K.Willems--JdB