Israel volta a bombardear Gaza e população enfrenta 'fome iminente'
Israel voltou a bombardear nesta sexta-feira (29) a Faixa de Gaza, território palestino cercado e onde a população enfrenta um cenário de "fome iminente", segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), após quase seis meses de guerra com o movimento islamista Hamas.
O Ministério da Saúde de Gaza, governada pelo Hamas, anunciou na manhã de sexta-feira que os combates e bombardeios, em particular em Rafah, provocaram "dezenas de mortes".
Nesta cidade do sul da Faixa, considerada por Israel o último reduto do Hamas, estão aglomeradas quase 1,5 milhão de pessoas, a maioria deslocadas pela violência em outras áreas do território.
O conflito, que começou após o ataque do movimento islamista contra o território israelense em 7 de outubro, deixou o pequeno território em ruínas e seus 2,4 milhões de habitantes à beira da fome, segundo a ONU.
"Não há nenhum outro lugar no mundo com um número tão elevado de pessoas enfrentando uma fome iminente", denunciou na quinta-feira, na rede social X, Matthew Hollingworth, diretor do PMA para os Territórios Palestinos.
- "Sem demora" -
A Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal tribunal da ONU, com sede em Haia, ordenou a Israel na quinta-feira (28) que garanta "sem demora" a entrega, sem obstáculos, "dos serviços básicos e de ajuda humanitária urgente" para Gaza.
Após uma demanda da África do Sul, a CIJ ordenou a Israel em janeiro que impedisse qualquer ato de genocídio no território palestino e permitisse a entrada de ajuda humanitária. Israel classificou as acusações de "escandalosas".
O Hamas celebrou a decisão da CIJ e pediu que seja aplicada "imediatamente".
A guerra provocou uma catástrofe humanitária no pequeno território e a ajuda terrestre entra a conta-gogas em Gaza. Vários países lançam alimentos em operações aéreas, de paraquedas, em particular no norte da Faixa, onde a situação é desesperadora.
A guerra começou com o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro, que deixou pelo menos 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.
Segundo o governo de Israel, os combatentes islamistas sequestraram quase 250 pessoas e 130 delas permanecem retidas em Gaza, das quais 34 teriam morrido.
Em represália, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou uma vasta operação que deixou mais de 32.623 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
- Israel mata comandante do Hezbollah -
Desde então, os combates não dão trégua.
O Exército de Israel, que acusa os combatentes do Hamas de utilizarem os hospitais como esconderijos, destacou nesta sexta-feira que prossegue com as operações no complexo médico de Al Shifa, na Cidade de Gaza - norte do território -, onde afirma ter "eliminado quase 200 terroristas" desde 18 de março.
Também acontecem operações militares no centro da Faixa e em Khan Yunis, no sul, nos setores de Al Amal e Qarara.
Em Khan Yunis, vários feridos foram transferidos de ambulância para o Hospital Europeu durante a noite. Algumas vítimas, incluindo menores de idade, foram atendidas no chão.
A guerra também provocou o aumento da violência na fronteira entre Israel e Líbano.
O Exército israelense anunciou nesta sexta-feira que matou Ali Abdel Hassan Naim, comandante da unidade responsável pelos mísseis do movimento pró-Irã Hezbollah durante um bombardeio no sul do Líbano.
Na Síria, um bombardeio israelense na região de Aleppo, norte do país, matou 36 militares e seis combatentes do Hezbollah.
- "Nada mudou" -
Grande parte da atenção está voltada para a cidade de Rafah, onde o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, está determinado a ordenar uma ofensiva terrestre, apesar da pressão internacional contrária à iniciativa.
"Temos o norte da Faixa de Gaza e Khan Yunis. Cortamos (o território) em dois e estamos nos preparando para entrar em Rafah", disse Netanyahu na quinta-feira.
O governo dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, teme o número de mortos nesta operação e pediu a Israel que envie uma delegação a Washington para debater o projeto.
O Catar, que atua como mediador ao lado de Egito e Estados Unidos, afirmou esta semana que as negociações indiretas entre Israel e Hamas prosseguem, visando uma trégua e uma troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.
A ONU aprovou na segunda-feira uma resolução que exige um "cessar-fogo imediato", que foi possível graças à abstenção dos Estados Unidos, mas "nada mudou" em Gaza desde então, lamentou o presidente internacional da organização Médicos Sem Fronteiras, Christos Christou.
Y.Simon--JdB