Journal De Bruxelles - Kremlin se recusa a comentar reivindicação do EI sobre ataque em Moscou

Kremlin se recusa a comentar reivindicação do EI sobre ataque em Moscou
Kremlin se recusa a comentar reivindicação do EI sobre ataque em Moscou / foto: TATYANA MAKEYEVA - AFP

Kremlin se recusa a comentar reivindicação do EI sobre ataque em Moscou

O Kremlin recusou-se a comentar, nesta segunda-feira (25), a reivindicação do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) sobre o ataque durante um show em Moscou, no qual 137 pessoas morreram, enquanto a investigação está em curso.

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O presidente russo, Vladimir Putin, e os seus serviços de segurança, o FSB, não mencionaram o envolvimento jihadista neste fim de semana e apontaram para a pista ucraniana, negada por Kiev e pelos governos ocidentais.

Pelo menos 137 pessoas morreram no ataque perpetrado por um grupo de homens armados em um show no complexo Crocus City Hall, nos arredores de Moscou, no ataque mais sangrento em solo europeu reivindicado pelo EI.

"A investigação está em andamento e a administração presidencial estaria errada em comentar sobre o desenvolvimento da investigação. Não faremos isso", disse o porta-voz presidencial russo Dmitri Peskov a repórteres nesta segunda-feira.

O grupo EI, que a Rússia combate na Síria e que atua no Cáucaso russo, assumiu a responsabilidade pelo ataque, mas as autoridades russas afirmaram que os supostos assassinos tentavam fugir para território ucraniano após o ataque.

Kiev, confrontada com a ofensiva russa há mais de dois anos, negou firmemente qualquer envolvimento no ataque.

Os Estados Unidos também rejeitaram a versão do presidente russo. No local do ataque, os investigadores ainda faziam buscas nos escombros da sala, destruída por um incêndio provocado pelos agressores.

O número de feridos foi de 182, dos quais 97 permaneciam hospitalizados nesta segunda-feira, segundo as autoridades.

O Kremlin indicou nesta segunda que Putin não visitará o local do ataque.

- "Desviar a atenção" -

Peskov, por outro lado, não quis comentar as acusações de tortura dos suspeitos detidos, que surgiram após a publicação de vídeos nas redes sociais e imagens onde três dos quatro detidos aparecem com os rostos ensanguentados.

Outro vídeo, divulgado na Internet e cuja veracidade não pôde ser confirmada, mostra como uma pessoa corta a orelha de um dos suspeitos do ataque.

No comparecimento dos suspeitos ao tribunal no domingo à noite, um deles tinha um curativo branco na orelha e outro chegou em uma cadeira de rodas com os olhos fechados.

Uma das figuras da oposição russa no exílio, Leonid Volkov, denunciou a tentativa dos serviços de segurança russos de "desviar a atenção da [sua] impotência e do [seu] fracasso" ao exibir estes vídeos.

As autoridades afirmaram ter detido um total de 11 pessoas, incluindo estes quatro supostos agressores. Mas o perfil dos demais detentos não está definido no momento.

- Revés para Putin -

Os quatro indivíduos foram colocados em prisão preventiva na noite de domingo, até 22 de maio, enquanto aguardam julgamento, cuja data ainda não foi decidida. Acusados de "terrorismo", enfrentam penas de prisão perpétua.

Altos funcionários do entorno de Putin pediram nas últimas horas que a moratória sobre a pena de morte para "terroristas" fosse levantada.

O ataque, ocorrido poucos dias após a reeleição de Putin e em meio a promessas de segurança à população após a intensificação dos ataques ucranianos em solo russo, representa um severo revés para o presidente.

O ataque relembra outros atos terroristas durante os primeiros anos de Putin no poder, tendo como pano de fundo a guerra na Chechênia: a tomada de reféns no teatro moscovita de Dubrovka, em 2002, e a tragédia na escola de Beslan, dois anos depois.

A luta contra o terrorismo "precisa de plena cooperação internacional", disse Peskov nesta segunda-feira, mas essa colaboração "não existe".

O presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu que propôs mais cooperação à Rússia nesta questão, mas pediu para não "instrumentalizar" o ataque a Moscou. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, também pediu que não fosse usado "como pretexto para uma escalada de violência e agressão".

M.F.Schmitz--JdB