Russos começam a votar em pleito que deve consagrar Putin no poder
Os locais de votação abriram no extremo leste da Rússia, dando início a uma eleição presidencial que vai durar três dias, na qual o presidente Vladimir Putin, no poder há 24 anos, busca um novo mandato.
A votação começou nesta sexta-feira (15), às 08h00 locais (17h da quinta-feira em Brasília) na península de Kamchatka, no extremo leste da Rússia, e termina no domingo às 20h locais de Kaliningrado (15h00 em Brasília), um exclave russo situado entre Polônia e Lituânia.
Os eleitores do extremo leste começaram a votar quando os cidadãos da parte ocidental se preparavam para dormir neste país com 11 fusos horários.
A votação transcorrerá durante os três dias, inclusive nos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia e na Transnístria, território separatista pró-russo da Moldávia.
Putin conclamou seus compatriotas a não se "desviarem do caminho" e a expressarem, nas eleições, em que nenhum outro político de peso concorre, uma posição "patriótica" para "confirmar nossa unidade e determinação de seguir em frente".
No poder desde o ano 2000, Putin tem três adversários de pouca relevância, que não expressam oposição à ofensiva na Ucrânia nem à dura repressão contra os dissidentes, que resultou na morte na prisão, em fevereiro, do principal crítico do Kremlin, Alexei Navalny.
As autoridades russas anunciaram que a morte ocorreu de causas naturais, mas a equipe do opositor denuncia que foi um assassinato.
O único opositor real que tentou registrar sua candidatura, Boris Nadezhdin, foi vetado pela Comissão Eleitoral.
A viúva de Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, que vive no exílio e prometeu dar continuidade à sua luta, convocou os russos a votarem em qualquer candidato, exceto Putin. As mulheres dos soldados russos enviados para a Ucrânia, que pedem seu retorno, aderiram ao apelo.
Mas ninguém tem dúvidas da reeleição de Putin. A votação permitirá que ele permaneça no poder até 2030 e, após uma reforma constitucional, poderá ser candidato novamente e seguir no comando do país até 2036, quando terá 84 anos.
A Procuradoria de Moscou alertou que não toleraria nenhum tipo de ação de protesto durante a votação.
Nos territórios ucranianos anexados pela Rússia, a votação antecipada começou nos últimos dias de fevereiro.
A diplomacia ucraniana pediu que a comunidade internacional rejeite o resultado dessa eleição, que classifica como "farsa".
- Novas incursões terrestres vindas da Ucrânia -
A Guarda Nacional da Rússia (Rosgvardia) afirmou ter repelido, junto com o Exército e a guarda de fronteira, um ataque de um grupo de "sabotadores" perto da localidade de Tyotkino, no oblast (província) de Kursk, que faz fronteira com a Ucrânia.
Na terça-feira, ataques semelhantes foram realizados nessa cidade por combatentes russos pró-ucranianos, que, segundo o Kremlin, foram dizimados.
Nesta quinta, uma dessas milícias, a "Legião da Liberdade da Rússia", instou os civis a esvaziarem a área e prometeu "libertar as províncias russas" de Belgorod e Kursk.
Em paralelo, os ataques com drones se multiplicam a centenas de quilômetros da linha de frente.
O oblast de Belgorod e sua capital homônima foram alvos desses ataques. Dois civis morreram e pelo menos 19 ficaram feridos nesta quinta-feira, segundo as autoridades da província, que anunciaram o fechamento temporário dos centros comerciais para evitar novas vítimas.
- Putin vs Ocidente -
Putin, que apresenta o conflito como uma guerra contra o Ocidente na qual a Rússia busca sua sobrevivência, evocou os "tempos difíceis" que os russos vivenciam, sem dar detalhes.
A economia russa, afetada pelas sanções internacionais, resiste, mas teve que ser reorientada para o esforço de guerra e a indústria militar.
Moscou imaginava que o ataque contra a Ucrânia duraria alguns dias ou talvez semanas, mas o conflito acaba de completar dois anos.
A Rússia conseguiu recuperar a dianteira no front, em parte devido à falta de impulso da ajuda ocidental à Ucrânia, e Putin destaca recentes conquistas, como a tomada da cidade de Avdiivka em fevereiro.
Em Bruxelas, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que os países da aliança militar não estavam fornecendo "munições suficientes" a Kiev e que isso tinha "consequências diárias no campo de batalha".
A.Parmentier--JdB