Journal De Bruxelles - A queda de Ariel Henry, o questionado primeiro-ministro do Haiti

A queda de Ariel Henry, o questionado primeiro-ministro do Haiti
A queda de Ariel Henry, o questionado primeiro-ministro do Haiti / foto: Valerie Baeriswyl - AFP/Arquivos

A queda de Ariel Henry, o questionado primeiro-ministro do Haiti

Respeitado como médico, mas criticado como político, o primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, tentou se manter no poder mais do que o previsto, até que a insurreição dos grupos armados que controlam grande parte de Porto Príncipe o obrigou a renunciar.

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Ariel Henry chegou ao poder no Haiti após o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021, e deveria ter deixado o cargo no início de fevereiro.

Sua renúncia foi uma exigência expressa das poderosas gangues criminosas que mantêm a população sob seu domínio e controlam grandes regiões do país.

A crise de violência escalou a tal ponto que a comunidade internacional passou a pressionar por uma transição com participação da sociedade haitiana.

Finalmente, Henry aceitou renunciar nesta segunda-feira (11), segundo ele mesmo confirmou em um vídeo publicado nas redes sociais do governo haitiano.

O bastante questionado político de 74 anos tornou-se famoso no Haiti graças à sua carreira de neurologista.

Depois de estudar medicina na universidade francesa de Montpellier, dirigiu o departamento de neurocirurgia de um dos hospitais privados mais respeitados do Haiti e foi professor nas universidades públicas de Porto Príncipe.

Sua carreira política tardou a começar. Em janeiro de 2015, o presidente Michel Martelly o nomeou ministro do Interior, cargo que ocupou por menos de oito meses.

Após uma reforma ministerial, em setembro de 2015, assumiu a pasta de Assuntos Sociais e Trabalho por pouco mais de seis meses antes de deixar a política por mais de cinco anos.

Em julho de 2021, o presidente Moïse o escolheu como seu sétimo primeiro-ministro.

Mas apenas dois dias depois da nomeação, em 7 de julho, Moïse foi assassinado em sua residência particular por um comando armado integrado por ex-soldados colombianos.

- "Um motim orquestrado" -

O magnicídio afundou o país no caos.

Após duas semanas de idas e vindas e sob a pressão de embaixadas estrangeiras, Henry finalmente assumiu um governo que carecia de legitimidade desde seu início.

A investigação do assassinato do presidente aumentou a desconfiança em torno de sua pessoa: na noite do assassinato, Henry telefonou diversas vezes para um dos principais suspeitos, Joseph Félix Badio.

O primeiro-ministro se defendeu argumentando que estava diante de um "motim orquestrado a nível nacional e internacional".

Henry não desmentiu que ligou para Badio, que foi localizado duas horas depois do assassinato no distrito onde está a residência de Moïse. Disse apenas que não consegue se recordar dos nomes de todas as pessoas para quem ligou nesse dia e o teor das conversas.

- Gangues no poder -

Muito antes da morte do presidente Moïse, as gangues haviam estendido seu poder sobre o território haitiano, multiplicando furtos, sequestros, extorsões e assassinatos.

Hoje, elas controlam grande parte de Porto Príncipe, impossibilitando o transporte seguro por estradas até a metade sul do país e bloqueando o acesso ao gabinete do primeiro-ministro.

Henry governava de sua residência oficial.

Em 1° de janeiro de 2022, viu-se obrigado a fugir sob uma chuva de disparos durante a cerimônia pelo Dia Nacional do Haiti organizado na cidade de Gonaives.

Essa "tentativa de assassinato", que denunciou com firmeza, não impediu Henry de manter seu programa político, similar ao de Moïse, como a organização de eleições e a adoção de uma nova Constituição.

Com um primeiro-ministro impopular e questionado no poder, o Haiti entrou no quarto regime de transição da história de sua jovem democracia, nascida após a queda da ditadura dos Duvalier em 1986.

- "Genocídio" -

Foi a crise atual que precipitou sua queda, depois que as gangues se uniram com o objetivo declarado de depor o primeiro-ministro.

"Se Ariel Henry não renuncia, se a comunidade internacional segue apoiando-o, nos dirigimos para uma guerra civil que levará a um genocídio", declarou Jimmy Cherizier, apelidado de "Barbecue", durante uma entrevista à imprensa em 5 de março.

Quando estourou a crise atual, Henry estava em visita oficial ao Quênia para assinar um acordo de envio de policiais quenianos ao Haiti no âmbito de uma missão internacional apoiada pela ONU e Estados Unidos.

Seu avião, que não pôde aterrissar no Haiti pela insegurança, foi para Porto Rico, de onde anunciou sua renúncia nesta segunda.

"Como sempre disse, nenhum sacrifício é grande demais pelo nosso país", declarou Henry no vídeo de sua renúncia.

R.Verbruggen--JdB