Journal De Bruxelles - Otan treina para uma ameaça da Rússia no clima hostil do Ártico

Otan treina para uma ameaça da Rússia no clima hostil do Ártico
Otan treina para uma ameaça da Rússia no clima hostil do Ártico / foto: Jonathan Nackstrand - AFP

Otan treina para uma ameaça da Rússia no clima hostil do Ártico

Atte Ohman, um jovem recruta finlandês, se prepara para desembarcar de um navio americano e participar de um ataque simulado a uma praia gelada da Noruega, como parte de um exercício da Otan para adaptar os seus soldados aos rigores do frio e da neve do Ártico.

Tamanho do texto:

"Tem um ditado que diz: se quer paz, deve se preparar para a guerra. É exatamente o que fazemos aqui", diz o jovem de 19 anos à AFP, ao pegar sua metralhadora.

A ação realizada no Ártico faz parte dos exercícios militares Steadfast da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), as mais importantes da aliança liderada pelos Estados Unidos desde a Guerra Fria.

Durante semanas, as simulações mobilizam cerca de 90 mil homens e mulheres e dezenas de navios, veículos blindados e aviões de combate.

Enquanto paraquedistas italianos saltam de helicópteros em direção à praia, navios suecos chegam ao local à medida que tropas francesas aguardam com seus esquis a postos.

A mensagem é clara: a Otan está pronta para se defender de uma Rússia cada vez mais agressiva, dois anos após sua ofensiva na Ucrânia.

Desde então, esta aliança militar se reforçou com a entrada da Finlândia e da Suécia, que se tornou o 32º membro na última quinta-feira (7).

"Mostramos que estamos prontos para defender nossos territórios e é muito importante agirmos juntos para reforçar nossas capacidades", explicou o ministro sueco de Defesa, Pal Jonson, acrescentando que embora as tropas russas estejam "atoladas na Ucrânia" atualmente, Moscou declarou grandes ambições de "reconstituir e adaptar suas forças".

A possibilidade da Rússia atacar um membro da Otan não deve ser excluída. À medida que Moscou coloca sua economia em modo de guerra, as potências ocidentais enfrentam dificuldades crescentes em fornecer a Kiev as armas e munições que este exige.

- O desafio do Ártico -

O chefe das Forças Armadas da Noruega, Eirik Kristoffersen, afirma que o número de tropas estacionadas perto da fronteira do país representa menos de 20% do total anterior à invasão da Ucrânia.

"Mas na frente marítima e aérea, bem como do ponto de vista das forças nucleares, mantiveram intactas todas as suas forças na região", afirma.

O Ártico está agora no centro da competição entre Moscou e a Otan. Desde que o presidente Vladimir Putin chegou ao poder em 2000, as forças russas continuaram aumentando sua presença na área.

Tanto a Finlândia quanto a Suécia tentam pressionar seus novos aliados a competirem cada vez mais com a Rússia naquela região essencial.

O Ártico está se tornando um ponto estratégico e é por isso que "a Rússia está investindo muito aqui, e a China também está monitorando a área", explica o ministro da Defesa finlandês, Antti Hakkanen.

De acordo com o contra-almirante David Patchell, vice-comandante da Segunda Frota dos Estados Unidos, a mudança climática abrirá, segundo uma estimativa conservadora, o acesso a recursos importantes no valor de cerca de US$ 1 bilhão (R$ 4,9 bilhões na cotação atual) na região.

Simultaneamente, o degelo significará que o Ártico se tornará navegável e conectará os oceanos de todo o planeta.

"Devemos aprender a trabalhar no Ártico. Trabalhar nessas condições é um grande choque. Raramente vemos neve assim todos os dias", disse o cabo da Marinha americana, Joshua Maddox. "O maior desafio é psicológico, basta estar muito bem preparado", acrescentou.

"Se Putin decidir ir mais longe" e agir pior "do que já está fazendo", estarei lá "para desempenhar meu papel, para ajudar os outros países. É a nossa missão", disse seu colega na Marinha, o sargento Joshua Perezchoa.

A.Parmentier--JdB