Planos para criar corredor marítimo de ajuda à Gaza avançam
Os planos para a entrega de ajuda humanitária pelo mar à Faixa de Gaza, território devastado pela fome após cinco meses de guerra entre Israel e Hamas, avançaram nesta sexta-feira (8) com o anúncio da criação de um corredor marítimo a partir do Chipre e da construção de um porto temporário.
No discurso anual sobre o estado da União, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que o Exército do país comandará "uma missão de emergência para estabelecer um cais provisório no Mediterrâneo, na costa de Gaza, que possa receber grandes carregamentos de alimentos, água, medicamentos e abrigos temporários".
No porto cipriota de Larnaca, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que espera a abertura no domingo de um corredor para transportar ajuda desta ilha para o território palestino.
Israel recebeu com satisfação a iniciativa, que "permitirá aumentar a ajuda humanitária (...) após um controle de segurança, de acordo com as normas israelenses", afirmou na rede social X o porta-voz da diplomacia do país, Lior Haiat.
O governo dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, pressiona cada vez mais o país, que permite a entrada de ajuda a conta-gotas no território palestino.
A ajuda "não pode ser considerada secundária nem uma moeda de troca", afirmou Biden no discurso, no qual também fez o apelo por um "cessar-fogo imediato".
A construção de um "cais provisório" vai demorar várias semanas e não inclui o envio de soldados americanos ao território, indicaram fontes em Washington, antes de acrescentar que os israelenses foram informados.
Funcionários de alto escalão da ONU, no entanto, afirmaram que as entregas por ar ou mar não podem substituir os envios terrestres e alertaram para a "fome generalizada quase inevitável" no território palestino cercado.
A ONU afirma que 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza estão à beira da fome. "A diversificação das rotas de abastecimento por terra continua sendo a melhor solução", afirmou Sigrid Kaag, coordenadora da ajuda da ONU para Gaza.
- Negociações na próxima semana -
O Ministério da Saúde em Gaza, território governado pelo Hamas, afirmou que pelo menos 20 civis - a maioria crianças - morreram vítimas de desnutrição e desidratação.
A situação é especialmente crítica no norte, onde a distribuição de ajuda por terra é quase impossível devido aos combates, à destruição e aos saques.
Em 29 de fevereiro, soldados israelenses abriram fogo contra uma multidão desesperada que avançou na direção de um comboio de ajuda na Cidade de Gaza.
O Exército afirmou nesta sexta-feira que sua "análise" do que aconteceu no dia, quando, segundo o Hamas, 120 pessoas morreram, "revelou que as tropas não atiraram contra o comboio humanitário, e sim que atiraram contra vários suspeitos que se aproximaram dos soldados e representavam uma ameaça".
Até o momento, a guerra deixou 30.878 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde do território, que cita 78 vítimas fatais nas últimas 24 horas.
O conflito começou quando os combatentes do Hamas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro e assassinaram 1.160 pessoas, segundo um balanço da AFP baseado nas informações divulgadas pelas autoridades israelenses.
Os islamistas também sequestraram 250 pessoas. Israel calcula que 130 continuam retidas em Gaza, das quais 31 teriam sido mortas.
Os países mediadores - Estados Unidos, Catar e Egito - esperam alcançar um acordo para uma trégua que inclua a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinos antes do início do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, que começa no dia 10 ou 11 de março.
As negociações no Cairo com representantes do Hamas foram suspensas após quatro dias e devem ser retomadas na próxima semana, segundo o canal AlQahera News, próximo do serviço de inteligência egípcio.
As negociações "não acabaram", afirmou o embaixador dos Estados Unidos em Israel, Jack Lew.
- Rafah, último reduto -
A delegação do movimento islamista deixou a capital egípcia depois que Israel não atendeu suas "exigências mínimas", segundo uma fonte palestina.
O Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e UE, exige um cessar-fogo definitivo e que as tropas israelenses abandonem Gaza antes de assinar qualquer acordo.
"O Exército israelense seguirá operando em toda a Faixa de Gaza, incluindo Rafah, último reduto do Hamas", reiterou na quinta-feira o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Para sua "vitória total", Israel afirma que prepara uma ofensiva terrestre na cidade do extremo sul de Gaza, onde 1,5 milhão de palestinos estão aglomerados, segundo a ONU.
No hospital Najjar de Rafah, um homem segurava o corpo de uma criança, envolta em um pano branco encharcado de sangue, morta em um ataque contra uma área residencial, segundo um correspondente da AFP.
T.Bastin--JdB