Negociações por trégua na Faixa de Gaza chegam ao quarto dia no Cairo
Os mediadores internacionais prosseguem, nesta quarta-feira (6), pelo quarto dia consecutivo, as negociações para alcançar uma trégua entre Israel e o Hamas em Gaza, onde a morte e a fome se tornaram a realidade cotidiana dos civis.
Egito, Estados Unidos e Catar, reunidos na capital egípcia, esperam conseguir instaurar uma trégua a partir de domingo ou da segunda-feira - antes do início do Ramadã - neste território sitiado e devastado após cinco meses de guerra.
Ali, os bombardeios israelenses deixaram 86 mortos nas últimas 24 horas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo Hamas.
O conflito mergulhou a Faixa em uma grave crise humanitária e 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população de 2,4 milhões de habitantes, enfrenta risco de fome, segundo a ONU.
O acordo de trégua que está sendo costurado consistiria em um cessar-fogo de seis semanas e permitiria a libertação de reféns retidos em Gaza em troca de presos palestinos detidos em Israel, além do aumento do envio de ajuda humanitária para Gaza.
As negociações, que começaram no domingo no Cairo e das quais Israel decidiu não participar, embora o Hamas tenha enviado uma delegação, são "difíceis", segundo a emissora AlQahera News, próxima ao serviço de inteligência egípcio.
O acordo de trégua é algo que "está nas mãos do Hamas", afirmou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na terça-feira, pedindo por outro lado que Israel permita a entrada de "mais ajuda" em Gaza.
O movimento islamista acusou Israel de "se esquivar das exigências" para um acordo e assegurou que havia "mostrado a flexibilidade necessária".
- Lista de reféns -
A questão delicada dos reféns em Gaza está no centro das negociações, mas o Hamas pede, antes de assinar qualquer acordo a respeito, um cessar-fogo definitivo, que as tropas israelenses deixem Gaza, a reconstrução do território e que centenas de milhares de deslocados possam retornar para suas casas.
Israel rejeita as condições e afirma que prosseguirá com a ofensiva até eliminar o Hamas. Segundo a imprensa do país, o governo israelense exigiu que o grupo islamista entregue uma lista precisa dos reféns.
Um líder político do Hamas, Basem Naim, declarou à AFP, no entanto, que o movimento não recebeu nenhum pedido sobre os reféns e que ele não sabe quais estão "vivos ou mortos".
A guerra começou após o ataque de milicianos do Hamas em Israel no dia 7 de outubro, quando foram mortas 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.
Também foram sequestradas 250 pessoas: Israel calcula que 130 permaneçam como reféns, das quais 31 teriam sido mortas.
Em resposta, o Exército israelense iniciou uma ofensiva contra o Hamas, movimento que governa Gaza desde 2007 e é considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
A campanha aérea e terrestre de Israel matou 30.717 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território.
- "Nada além de farinha" -
Nesta quarta-feira, os bombardeios israelenses tiveram como alvo Khan Yunis, no sul, a Cidade de Gaza, no norte da Faixa, e Deir el Balah, no centro do território palestino, segundo as autoridades do Hamas.
O exército israelense declarou que seus soldados atacaram edifícios de vários andares em Khan Yunis, onde "detiveram terroristas e localizaram armas".
Além dos combates e bombardeios, a fome ameaça a população civil. Em Rafah, cidade do sul onde vivem confinados 1,5 milhão de palestinos, a maioria deslocada pela guerra, uma multidão aguardava para coletar pacotes de farinha em frente a um escritório da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês).
"Não é suficiente", disse o deslocado Muhammad Abu Odeh. "Não nos dão açúcar, nem nada além de farinha".
O Programa Mundial de Alimentos advertiu na terça-feira que estão sendo registrados "níveis catastróficos" de fome no norte do território, aonde cada vez é mais difícil chegar, devido à destruição, aos combates e aos saques.
O Ministério da Saúde do Hamas anunciou, nesta quarta-feira, que uma adolescente de 15 anos "morreu de desnutrição" nesta região. Com ela, já somam 18 as pessoas mortas por inanição e desidratação.
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M.Kohnen--JdB