Conselho de Segurança da ONU se reúne com urgência por crise violenta no Haiti
O Conselho de Segurança da ONU realiza uma reunião de emergência, nesta quarta-feira (6), sobre a situação no Haiti, assolado pela crescente violência das gangues que ameaçam uma guerra civil caso o primeiro-ministro, Ariel Henry, não renuncie.
Em Genebra, o chefe dos direitos humanos da ONU, Volker Türk, alertou que a situação no país caribenho se tornou "mais do que insustentável", com 1.193 pessoas mortas pela violência dos grupos armados desde o início de 2024.
Türk pediu o envio urgente de uma missão multinacional para apoiar a polícia haitiana. "A realidade é que, no contexto atual, não existe nenhuma alternativa realista disponível para proteger vidas", disse.
María Isabel Salvador, representante da ONU no Haiti, informará o Conselho de Segurança sobre os acontecimentos, de forma remota, em sua reunião a portas fechadas prevista para a tarde desta quarta.
- Derrubar o presidente -
Gangues armadas, que controlam grandes áreas do Haiti, anunciaram na semana passada um esforço conjunto para derrubar Henry, e desde então o aeroporto, prisões, delegacias e outros alvos estratégicos na capital Porto Príncipe foram atacados.
O poderoso líder de uma das principais gangues, Jimmy "Barbecue" Cherizier, advertiu na terça-feira que o caos atual levaria a uma guerra civil a menos que o primeiro-ministro, que estava na África durante o auge dessa onda de violência, renunciasse.
"Se Ariel Henry não renunciar, se a comunidade internacional continuar o apoiando, nós nos dirigiremos diretamente para uma guerra civil que levará ao genocídio", declarou a jornalistas Cherizier, sancionado pela ONU.
No poder desde o assassinato em 2021 do presidente Jovenel Moïse, Henry deveria ter saído em fevereiro, mas selou um acordo de compartilhamento de poder com a oposição até que novas eleições sejam realizadas na nação mais pobre do hemisfério ocidental. As últimas eleições ocorreram em 2016.
Pelo menos 15 mil pessoas fugiram nos últimos dias das áreas mais afetadas de Porto Príncipe, segundo a ONU, que ainda não tem um números de mortos com base nos dados recebidos do terreno.
"Centenas de milhares de crianças e famílias estão deslocadas e privadas de serviços e assistência vital enquanto os grupos armados dominam as ruas", denunciou na terça-feira Catherine Russell, diretora do fundo para a infância Unicef. "O mundo não pode ficar de braços cruzados", acrescentou nas redes sociais.
- Violência sem fim -
Em meio ao aumento da violência, Henry ainda não deu sinais de que retornará ao país. Ele havia viajado para o Quênia para pressionar por uma missão policial multinacional apoiada pela ONU para ajudar a estabilizar seu país, quando começou a pressão das gangues para derrubá-lo.
A violência forçou o fechamento das operações no Aeroporto Internacional Toussaint Louverture após tiros contra alguns voos. Ao governante foi negada permissão para pousar na vizinha República Dominicana, segundo a imprensa dominicana.
Henry aterrissou brevemente em Porto Rico, um território dos Estados Unidos, disse na terça-feira um porta-voz do governador da ilha, embora não estivesse claro por quanto tempo ele permaneceria lá.
O governo do Haiti declarou no fim de semana estado de emergência e toque de recolher noturno na capital, em vigor até esta quarta-feira.
- Ajuda urgente -
Autoridades haitianas têm clamado por meses por assistência internacional para suas sobrecarregadas forças de segurança, enquanto as gangues recorrem a uma violência crescente para avançar além da capital e entrar em áreas rurais, ameaçando a já escassa produção agrícola local.
Entre a violência, a crise política e anos de seca, cerca de 5,5 milhões de haitianos - aproximadamente metade da população - necessitam de assistência humanitária externa.
O apelo da ONU para financiar US$ 674 milhões (R$ 3,33 bilhões) em ajuda para o país este ano mal conseguiu arrecadar 2,5%.
Após meses de atrasos, o Conselho de Segurança das Nações Unidas finalmente deu luz verde em outubro para uma missão policial multinacional não vinculada à ONU liderada pelo Quênia.
O.M.Jacobs--JdB