Questionado em seu país, premiê do Haiti aterrissa em Porto Rico
O controvertido primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, cujo paradeiro era desconhecido há dias, enquanto seu país enfrenta uma nova onda de violência, aterrissou nesta terça-feira (5) em Porto Rico, informaram as autoridades.
O dirigente chegou pela tarde a esse Estado livre associado dos Estados Unidos, informou à AFP Sheila Angleró, porta-voz do governador porto-riquenho, que detalhou que não sabia se Henry permanecia na ilha.
Desde a quinta-feira, os grupos armados que controlam amplas áreas do Haiti lançaram ataques contra diversos lugares estratégicos para, segundo elas, derrubar Henry.
O político, no poder desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em julho de 2021, deveria ter deixado o cargo no início de fevereiro, mas resiste a convocar eleições.
Henry não retornou ao Haiti desde que viajou para o Quênia na semana passada, onde firmou um acordo para o envio de policiais a seu país, no contexto de uma missão internacional apoiada por Washington e ONU.
Segundo o canal de notícias dominicano CDN, o primeiro-ministro tentou viajar hoje à República Dominicana em um voo procedente de Nova Jersey, mas as autoridades do país que compartilha a Ilha de São Domingos com o Haiti lhe negaram permissão para aterrissar.
Foi por esse motivo que ele voou a Porto Rico, segundo pôde confirmar o canal dominicano.
- Ataque de gangues -
As gangues haitianas atacaram nesta terça uma academia de polícia na capital, Porto Príncipe, mas foram repelidas pelas forças de segurança após a chegada de reforços, informou Lionel Lazarre, dirigente do sindicato policial Synapoha.
Este último episódio de violência ocorre após a evacuação de milhares de residentes da cidade, enquanto Washington e as Nações Unidas reiteram suas preocupações com a crise no pequeno país insular.
Porto Príncipe havia retomado algumas atividades cotidianas nesta terça, como transporte e comércio, um dia depois que as gangues libertaram milhares de presos de duas penitenciárias, deixando uma dúzia de mortos, e tentaram tomar o aeroporto internacional.
A polícia e o Exército repeliram o ataque contra o terminal aéreo internacional Toussaint Louverture por parte das organizações armadas. Mas os distúrbios em torno das instalações levaram as companhias aéreas internacionais a cancelarem todos os voos para a capital haitiana.
As autoridades da República Dominicana fecharam hoje o espaço aéreo com o Haiti.
Em meio às medidas de fechamento do espaço aéreo, cerca de 250 cubanos que viajaram ao Haiti para fazer compras estão presos em Porto Príncipe, indicou à AFP a companhia Sunrise Airways.
- Quinze mil deslocados -
A nova escalada da violência levou cerca de 15 mil pessoas a abandonarem suas casas em Porto Príncipe, declarou hoje o porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, acrescentando que trabalhadores humanitários começaram a distribuir alimentos e outros itens essenciais em três novos centros para refugiados.
No domingo, o governo do Haiti decretou o estado de emergência em Porto Príncipe "por um período renovável de 72 horas" e um toque de recolher entre 18h e 5h locais na segunda, terça e quarta-feira.
Considerado o país mais pobre do continente americano, o Haiti enfrenta uma grave crise política, humanitária e de segurança desde o assassinato de Moïse.
Segundo a ONU, 8.400 pessoas foram vítimas da violência das quadrilhas no ano passado, incluindo mortos, feridos e sequestrados, "um aumento de 122% em relação a 2022".
Y.Niessen--JdB