Grupos armados atacam academia de polícia em Porto Príncipe
Grupos armados atacaram, nesta terça-feira (5), uma academia de polícia na capital haitiana, Porto Príncipe, em meio a uma onda de violência desencadeada no fim de semana, que incluiu um ataque ao aeroporto e a fuga de milhares de presos de duas penitenciárias.
O ataque à academia de polícia, onde mais de 800 cadetes estão em treinamento, foi repelido após a chegada de reforços, disse o líder do sindicato dessa força, Lionel Lazarre.
Este último episódio de violência ocorre após a evacuação de milhares de residentes da capital, enquanto Washington e as Nações Unidas têm reiterado suas preocupações com a crise no pequeno país insular, o mais pobre do Caribe.
Porto Príncipe havia retomado algumas atividades cotidianas nesta terça, como transporte e comércio, depois que na segunda-feira as gangues, que libertaram milhares de presos e deixaram uma dúzia de mortos, tentaram tomar o aeroporto.
A polícia e o exército repeliram o ataque contra o terminal aéreo internacional Toussaint Louverture por parte das organizações armadas que controlam áreas inteiras do Haiti.
Os distúrbios em torno das instalações levaram as companhias aéreas internacionais a cancelar os voos para a capital haitiana, e autoridades da República Dominicana fecharam hoje o espaço aéreo com o Haiti.
Em meio às medidas de fechamento do espaço aéreo e de estado de emergência, cerca de 250 cubanos que viajaram ao Haiti para fazer compras estão presos em Porto Príncipe, indicou à AFP a companhia Sunrise Airways.
- "Derrubar" o primeiro-ministro -
Desde a última quinta-feira, gangues realizam ataques coordenados em pontos estratégicos. O objetivo, segundo elas, é "derrubar" o primeiro-ministro, Ariel Henry - no poder desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021 -, que deveria ter deixado o cargo em fevereiro, mas que se recusa a convocar novas eleições.
Com o atual paradeiro desconhecido, o premiê estava no Quênia quando os conflitos eclodiram, após assinar um acordo para enviar forças policiais ao Haiti, no âmbito de uma missão internacional apoiada por Washington e pela ONU.
O Departamento de Estado americano afirmou ontem que Henry estava retornando ao Haiti, mas, segundo a rádio local Télé Métronome, o primeiro-ministro não pôde fazê-lo devido à insegurança no entorno do aeroporto.
- Quinze mil deslocados -
A nova escalada da violência levou cerca de 15 mil pessoas a abandonar suas casas em Porto Príncipe, declarou hoje o porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, acrescentando que trabalhadores humanitários começaram a distribuir alimentos e outros itens essenciais em três novos centros para refugiados.
O governo do Haiti decretou no domingo estado de emergência em Porto Príncipe "por um período renovável de 72 horas" e um toque de recolher entre as 18h e 5h locais na segunda, terça e quarta-feira.
Considerado o país mais pobre do continente americano, o Haiti enfrenta uma grave crise política, humanitária e de segurança desde o assassinato de Moïse.
Segundo a ONU, 8.400 pessoas foram vítimas da violência das quadrilhas no ano passado, incluindo mortos, feridos e sequestrados, "um aumento de 122% em relação a 2022".
Y.Simon--JdB