Journal De Bruxelles - Rússia acusa Ocidente de 'envolvimento direto' na Ucrânia após vazamento do Exército alemão

Rússia acusa Ocidente de 'envolvimento direto' na Ucrânia após vazamento do Exército alemão
Rússia acusa Ocidente de 'envolvimento direto' na Ucrânia após vazamento do Exército alemão / foto: Gavriil Grigorov - Pool/AFP/Arquivos

Rússia acusa Ocidente de 'envolvimento direto' na Ucrânia após vazamento do Exército alemão

A Rússia denunciou nesta segunda-feira (4) o "envolvimento direto" das potências ocidentais na Ucrânia e convocou o embaixador da Alemanha após a divulgação nas redes sociais de conversas confidenciais entre militares alemães de alta patente sobre envios de armas à Ucrânia.

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Na sexta-feira, uma gravação de áudio de uma reunião por videoconferência de oficiais alemães foi divulgada nas redes sociais da Rússia.

A conversa, que teve a veracidade confirmada por Berlim, mostra "mais uma vez a participação direta do Ocidente no conflito ao redor da Ucrânia", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

No áudio de 38 minutos, os participantes mencionam a hipótese de entregar mísseis de longo alcance Taurus, de fabricação alemã, à Ucrânia.

Oficialmente, a Alemanha nega que deseja entregar mísseis Taurus à Ucrânia, argumentando que existe o risco de um agravamento do conflito, iniciado em fevereiro de 2022.

Os participantes da conversa também citam possíveis bombardeios contra a ponte da Crimeia, que liga a península anexada por Moscou em 2014 ao território russo. Uma pessoa afirma que seriam necessários entre 10 e 20 mísseis para destruir a ponte.

"A gravação mostra que dentro do Bundeswehr (Exército alemão) há uma discussão detalhada e concreta sobre planos para executar bombardeios em território russo", disse Peskov.

O incidente provocou uma crise diplomática entre os países. O embaixador da Alemanha na Rússia, Alexander Graf Lambsdorff, compareceu nesta segunda ao Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

O embaixador deixou o ministério sem fazer declarações à imprensa, depois de passar pouco mais de uma hora no local, segundo agências de notícias russas.

Berlim negou a convocação do embaixador e um porta-voz da diplomacia alemã afirmou que a reunião estava programada há "bastante tempo".

O ministério russo indicou em um comunicado que pediu ao embaixador "explicações" sobre as entregas de mísseis Taurus a Kiev mencionadas na conversa.

- "Muito ruim" -

Berlim confirmou no sábado que a gravação era autêntica e que havia sido "interceptada". O chefe do governo alemão, Olaf Scholz, prometeu uma investigação sobre o tema.

"Espero que saibamos de uma forma ou de outra (...) qual é a conclusão dessa investigação”, disse Peskov.

“Temos que estabelecer se o Bundeswehr está fazendo isso por iniciativa própria. E depois a questão é saber até que ponto o Bundeswehr é controlável e até que ponto o senhor Scholz controla tudo isso, ou se isso faz parte de uma política do Estado alemão”, acrescentou.

“Em ambos os casos, é muito ruim”, concluiu o porta-voz do Kremlin.

Do lado alemão, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, acusou no domingo o presidente russo Vladimir Putin de tentar “desestabilizar” a Alemanha espionando conversas militares confidenciais sobre a Ucrânia.

“É parte de uma guerra de informações liderada por Putin”, afirmou o ministro. “Trata-se de minar nossa unidade (...), se semear uma divisão política no plano interno e espero sinceramente que Putin não consiga.”

Segundo a revista Der Spiegel, a videoconferência foi realizada na plataforma pública WebEx e não em uma rede segura.

Além disso, um dos participantes estava em um hotel em Singapura e seu quarto poderia ter microfones escondidos, indicaram alguns veículos.

X.Maes--JdB