Judeus ultraortodoxos sob pressão para integrar Exército israelense
A guerra em Gaza acarreta uma mobilização geral em Israel, acentuando uma recorrente indignação contra os judeus ultraortodoxos que, apoiados pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, se recusam a alistar seus filhos no Exército para não perderem sua "pureza" religiosa.
O tema emergiu nos últimos dias, após várias manifestações abalarem a frágil coalizão de Netanyahu, convocando-o para a agir em nome da "equidade social" no país.
Na segunda-feira (26), cerca de mil pessoas com bandeiras israelenses se reuniram no centro de Israel para exigir que o governo finalmente obrigue os haredim ("temerosos de Deus") a prestar serviço militar.
Entre eles estava o engenheiro Oren Shvill, de 52 anos, morador de um assentamento na Cisjordânia ocupada. "Minha esposa não consegue dormir. Toda a sociedade deve contribuir para a luta", afirma.
A poucos metros da manifestação, um pequeno grupo de aproximadamente vinte ultraortodoxos com vestimentas tradicionais - terno e calça pretos, camisa branca, barba longa e chapéu - rezavam, dançavam e cantavam frases como "prefiro morrer antes de entrar no exército!".
Os haredim que estudavam em tempo integral nas yeshiva - centro de estudo do Talmud - foram isentos do serviço militar em 1948, durante a criação do Estado de Israel.
O objetivo era permitir que um grupo de elite de 400 jovens se dedicasse ao mundo dos estudos dos textos sagrados, dizimado durante o Holocausto.
- Combatentes ruins -
Graças a uma taxa de fertilidade de mais de seis filhos por mulher, em comparação com uma média nacional de 2,5, a população dos haredim chegou a 1,3 milhão.
Devido a esse fator, a quantidade de haredim isentos do serviço militar subiu para 66.000 no ano passado.
A maioria deles pede que essa decisão seja mantida para todos os estudantes, considerando que o serviço militar é incompatível com seu sistema de valores, no qual apenas a autoridade de Deus prevalece.
Netanyahu os protege pois os dois principais partidos ultraortodoxos, Shas e Judaísmo Unido da Torá, fazem parte de seu governo, e podem derrubá-lo a qualquer momento.
Em maio de 2023, ele aprovou um orçamento sem precedentes de cerca de 1 bilhão de euros (R$ 5,1 bilhões) para as yeshiva.
Na quarta-feira (28), o ministro da Defesa, Yoav Gallant, pareceu desafiar o primeiro-ministro ao anunciar uma reforma no serviço militar para incluir os haredim, exigindo o apoio de todo o governo. "Todos devem assumir o fardo", indicou.
No dia seguinte, Netanyahu anunciou sua intenção de "encontrar um acordo" para integrá-los ao exército, sem implodir a coalizão e provocar eleições "no meio de uma guerra que bloquearia tudo", enfatizou.
A comunidade teme a mistura de homens e mulheres em público, algo "proibido pela Torá", segundo Shmuel, de 23 anos, estudante da yeshiva Mir, em Jerusalém.
O pesquisador em religião no Instituto Shalom Hartman de Jerusalém, Tomer Persico, defende que "entre 20% e 30%" dos haredim se aproximaram do restante da sociedade nos últimos 30 anos, a partir do trabalho em empresas, por meio do serviço social ou outras atividades.
Embora o ataque em 7 de outubro tenha elevado o alistamento militar entre eles, não houve uma integração em massa. Pouco mais de mil haredim se alistam no Exército a cada ano, mesmo que isso os condene ao ostracismo em suas comunidades.
"Lutaremos contra isso. Retirar um rapaz da yeshiva é impossível, é como tirar um peixe da água, em um minuto ele morre", adverte Yehuda Chen, outro haredi de Jerusalém.
O Exército, contudo, não tem pressa em alistá-los. "Não são bons combatentes e não temos tempo, em plena guerra, para dedicar meses de treinamento de pessoas apenas com formação religiosa", detalha uma ex-autoridade.
F.Dubois--JdB