Comunidade internacional pede investigação após disparos israelenses contra multidão em Gaza
A comunidade internacional exigiu nesta sexta-feira (1º) uma trégua em Gaza e pediu a investigação da tragédia da véspera, quando soldados israelenses abriram fogo contra uma multidão desesperada de fome que havia avançado na direção de um comboio de ajuda humanitária, o que deixou mais de 110 mortos, segundo o grupo islamista Hamas.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou que seu país participará "nos próximos dias" no lançamento aéreo de ajuda sobre Gaza, onde os habitantes sofrem com a escassez de alimento, água e medicamentos devido ao cerco imposto por Israel.
Segundo a ONU, 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes do pequeno território palestino cercado por Israel estão ameaçados pela fome, após quase cinco meses de conflito, que provocou mais de 30.000 mortes.
Na quinta-feira, fontes médicas e testemunhas afirmaram que soldados israelenses atiraram contra uma multidão faminta que cercou um comboio de ajuda humanitária no norte de Gaza. Segundo o Hamas, que governa o território desde 2007, 115 pessoas morreram e 760 ficaram feridas.
Uma fonte do Exército israelense confirmou "disparos limitados" por parte de soldados que se sentiram "ameaçados" e descreveu um "tumulto durante o qual morreram e ficaram feridos dezenas de habitantes, alguns deles atropelados pelos caminhões de ajuda".
Biden reconheceu que a tragédia dificulta as negociações para um cessar-fogo na guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, e que, provavelmente, não se poderá fechar um acordo até segunda-feira. Hoje ele expressou esperança de que se possa fechá-lo antes do início do Ramadã, previsto para entre 10 e 11 de março, segundo o calendário lunar: "Continuamos trabalhando muito duro nisso. Ainda não chegamos lá."
Washington exigiu "respostas" de Israel após a tragédia desta quinta-feira e pediu "uma investigação exaustiva". No mesmo sentido, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, assim como a Alemanha e a França, pediram uma análise do incidente. Itália e Espanha consideraram "urgente" que um acordo de trégua seja alcançado.
- 'Um ato bárbaro e brutal' -
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs uma moção da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) para exigir o "fim imediato" do "genocídio" em Gaza. A China pediu um "cessar-fogo" e a garantia de entrega de ajuda humanitária a Gaza.
Vários países, entre eles a Jordânia, começaram a lançar ajuda aérea sobre Gaza. França, Países Baixos, Reino Unido e Egito apoiaram a iniciativa.
A Arábia Saudita, peso de peso no mundo árabe, condenou "os ataques das forças de ocupação contra civis indefesos". A Liga Árabe criticou um "ato bárbaro e brutal que despreza totalmente a vida humana".
O Catar, um dos principais mediadores na guerra, pediu uma "ação internacional para acabar de maneira imediata com a agressão (israelense)".
Segundo o Hamas e várias testemunhas, os militares israelenses posicionados para proteger o comboio atiraram contra a multidão que correu em direção aos veículos.
O Conselho de Segurança se reuniu em caráter de urgência na quinta-feira, a portas fechadas, depois que o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, se declarou em "choque" com a tragédia e pediu uma "investigação independente eficaz".
Nesta sexta-feira, uma equipe da ONU visitou os feridos no hospital Al Shifa da Cidade de Gaza, onde constatou "um grande número de feridos a tiros", declarou o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric.
- Novos bombardeios israelenses -
Durante a noite foram registrados novos bombardeios israelenses contra Gaza, em particular em Khan Yunis e Rafah, no sul do território, onde milhares pessoas buscaram refúgio.
Também foram registrados confrontos entre soldados israelenses e combatentes do Hamas na Cidade de Gaza e Khan Yunis, segundo testemunhas.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, nas últimas 24 horas morreram pelo menos 193 pessoas, o que eleva o número de vítimas na guerra a 30.228 mortos.
O órgão também informou que quatro crianças morreram de "desnutrição e desidratação" no norte do território, elevando para dez o número de menores de idade mortos por estas causas desde o início da guerra.
O conflito começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas assassinaram 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram mais de 250 no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.
Uma trégua de uma semana no fim de novembro permitiu a troca de mais de 100 reféns por 240 presos palestinos. Israel calcula que 130 pessoas permanecem em cativeiro, incluindo 30 que teriam sido mortas.
Em resposta, Israel iniciou uma operação aérea e terrestre para "aniquilar" o Hamas, movimento que o país, assim como Estados Unidos e UE, classifica como organização "terrorista".
O braço armado do grupo islamista afirmou que sete reféns capturados em 7 de outubro morreram nos bombardeios israelenses nas últimas semanas. A AFP não pôde confirmar esta informação de maneira independente.
Catar, Estados Unidos e Egito tentam negociar um acordo para uma trégua de seis semanas, que incluiria a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinos e a entrada em Gaza de grandes volumes de ajuda.
R.Vandevelde--JdB