EUA e Catar esperam que Israel e Hamas alcancem trégua em Gaza
Os Estados Unidos e o Catar expressaram, nesta terça-feira (27), suas esperanças de que Israel e o grupo islamita Hamas alcancem uma nova trégua nos próximos dias, que poderia se estender durante o Ramadã após quase cinco meses de uma devastadora guerra na Faixa de Gaza.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) instou a permitir a entrada de ajuda humanitária no território, ao qual Israel impôs um "cerco total".
O Programa Mundial de Alimentos da ONU alertou que o norte de Gaza, onde não chegou nenhum comboio humanitário desde 23 de janeiro, enfrenta uma "fome iminente".
Washington e Doha, mediadores no conflito junto ao Egito, esperam obter um cessar-fogo de seis semanas nos combates, que permita liberar parte dos 130 reféns capturados pelo Hamas em um ataque sem precedentes em 7 de outubro e que ainda estão detidos no território palestino.
O objetivo é que a trégua comece antes do início do Ramadã, o mês sagrado do Islã que começa em 10 ou 11 de março, e o acordo também poderia incluir a libertação de centenas de palestinos presos em prisões israelenses, segundo a mídia.
"Minha esperança é que tenhamos um cessar-fogo até a próxima segunda-feira", disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante uma viagem a Nova York.
O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, afirmou que via como possível alcançar um acordo antes do fim de semana. "Hoje estamos mais perto do que ontem", disse.
O emir do Catar, Tamim ben Hamad Al Thani, cuja mediação foi fundamental para fechar um primeiro cessar-fogo em novembro, se reuniu em Paris com o presidente francês, Emmanuel Macron.
O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Catar, Majed al Ansari, declarou que Doha tinha "esperanças, não necessariamente otimismo" de poder "anunciar algo" antes de quinta-feira.
"Pressionaremos para que haja uma pausa antes do início do Ramadã", acrescentou.
- Quase 30 mil mortos -
Ambas as partes alcançaram uma trégua de uma semana em novembro, com a qual foi possível a troca de 100 reféns em Gaza por cerca de 240 palestinos presos em Israel.
O acordo permitiu a pausa de uma semana nos combates, que começaram após o ataque de 7 de outubro do Hamas. Os milicianos do grupo islamista assassinaram 1.160 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses. Entre os mortos estavam mais de 300 militares.
Também sequestraram 250 pessoas: 130 continuam retidas no território palestino, incluindo 31 que as autoridades israelenses acreditam que foram mortas.
O ataque desencadeou uma ofensiva aérea e terrestre de Israel contra Gaza que deixou pelo menos 29.878 mortos, a maioria mulheres, adolescentes e crianças, segundo o Ministério da Saúde do território controlado desde 2007 pelo Hamas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, defende que, para conseguir uma "vitória total" sobre o Hamas, é necessário entrar em Rafah, no sul do território.
A cidade abriga 1,5 milhão de civis palestinos refugiados de outras partes do território bombardeado. A comunidade internacional alertou sobre as terríveis consequências que uma ofensiva contra esta localidade, fronteiriça com o Egito, poderia ter.
Netanyahu, no entanto, não deu sinais de querer recuar. Uma trégua apenas atrasaria a operação, mas não a impediria, afirmou o líder no domingo, um dia antes de seu escritório apresentar um plano para evacuar os civis.
Uma fonte do Hamas, que falou sob condição de anonimato, afirmou que a trégua proposta de 42 dias poderia ser "renovada" e incluiria a troca de um refém por 10 prisioneiros palestinos a cada dia.
Em vez de uma retirada completa das forças israelenses de Gaza - uma exigência rejeitada por Netanyahu -, a fonte sugeriu que os militares poderiam deixar "cidades e áreas povoadas", permitindo o retorno de alguns palestinos deslocados.
"Embora permitam que as pessoas retornem ao norte, não há mais casas, apenas poeira", lamentou Abu Khaled Zatmeh, cujos sobrinhos morreram em bombardeios em Rafah.
- 'Bloqueio sistemático' da ajuda a Gaza -
A ajuda humanitária entra a conta-gotas e depende da aprovação de Israel. Além disso, a entrada da maioria dos comboios foi suspensa até segunda ordem, devido à situação no campo.
Alguns exércitos estrangeiros lançaram material e alimento por via aérea, inclusive sobre Rafah e Khan Yunis. Mesmo assim, a ONU alerta que 2,2 milhões de habitantes de Gaza, a maioria da população, enfrenta uma "fome massiva".
O porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Ashraf Al-Qudra, informou que dois bebês morreram de "desidratação e desnutrição" no hospital Kamal Adwan, no norte do país.
"Todos os comboios recebem disparos e o acesso às pessoas necessitadas é sistematicamente negado", afirmou Jens Laerke, porta-voz da Ocha.
"Estamos morrendo de fome", disse Abdullah al Aqra, 40 anos, refugiado no oeste da cidade de Gaza, depois de fugir de Beit Lahia, ao norte.
K.Laurent--JdB