Israel examina propostas que dão 'margem para avançar' para uma trégua em Gaza
O gabinete de guerra israelense vai examinar, na noite deste sábado (24), o relatório de uma delegação negociadora que voltou de Paris com propostas que dão "margem para avançar" para uma trégua em Gaza e a libertação dos reféns nas mãos do Hamas.
A delegação foi encabeçada pelo chefe do Mossad (serviço israelense de inteligência exterior), David Barnea, que havia viajado na sexta-feira para a capital francesa.
"A delegação voltou de Paris e provavelmente haja margem para avançar para um acordo", declarou à emissora de televisão N12 Tzachi Hanegbi, assessor de segurança nacional do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O chefe de governo informou, por sua vez, que durante a reunião serão debatidos os "próximos passos nas negociações".
Egito, Catar e Estados Unidos atuam como mediadores, assim como na trégua de uma semana alcançada no fim de novembro, na qual foram libertados mais de cem reféns retidos em Gaza desde 7 de outubro em troca de cerca de 240 palestinos presos em Israel.
O conflito teve início nesse dia, quando milicianos islamistas mataram 1.160 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, e sequestraram cerca de 250, segundo um balanço da AFP com base em dados israelenses.
Após a troca de novembro, as autoridades israelenses estimam que ainda haja 130 reféns em Gaza, dos quais 30 teriam morrido.
Em retaliação ao ataque, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre que deixou até o momento 29.606 mortos em Gaza, a grande maioria civis, segundo o ministério da Saúde do território palestino, governado desde 2007 pelo movimento islamista Hamas.
- "Fome extrema" -
O Hamas, considerado uma organização "terrorista" por Estados Unidos, Israel e União Europeia, denunciou, neste sábado, que o exército israelense lançou mais de 70 bombardeios contra Deir al Balah, Khan Yunis e Rafah, no centro e no sul de Gaza.
Estes ataques mataram pelo menos 92 pessoas nas últimas 24 horas, segundo este informe.
No hospital Najjar, de Rafah, a AFP viu o momento em que corpos eram tirados de ambulâncias e colocados em um pátio, onde os familiares choravam por eles.
O exército israelense informou que estava "intensificando as operações" em Khan Yunis, onde se concentram os combates há semanas, e que realizou uma operação na "residência de um alto dirigente da inteligência militar" do Hamas.
A guerra e o bloqueio israelense deixaram o pequeno território palestino, de 2,4 milhões de habitantes, à beira da "fome extrema maciça", alertou a ONU.
"Não temos nem água, nem farinha, e estamos muito cansados porque temos fome (...)", descreveu Um Wajdi Alha, moradora de Jabaliya, a cerca de quatro quilômetros da Cidade de Gaza, no norte da Faixa.
O ministério da Saúde de Gaza informou que um bebê de dois meses, identificado como Mahmud Fatuh, morreu de "desnutrição" nesta localidade.
No campo de refugiados de Jabaliya, os habitantes vasculham os arredores em busca de qualquer coisa comestível, mesmo que seja cevada, forragem, milho apodrecido ou folhas de árvores.
A ONG Save the Children afirmou que o risco de fome extrema continuará "aumentando enquanto o governo de Israel continuar impedindo a entrada de ajuda em Gaza".
Israel alega que 13.000 caminhões com provisões entraram no território desde o começo da guerra.
- Pressão em Israel pelos reféns -
O governo israelense também está sob pressão interna para negociar um cessar-fogo que permita a libertação dos reféns.
Um grupo que representa os familiares dos reféns convocou uma manifestação em Tel Aviv no sábado à noite.
"Dizemos-lhes mais de uma vez: devolvam-nos! Não importa como", disse Avivit Yablonka, de 45 anos, cuja irmã, Hanan, foi capturada em 7 de outubro.
O enviado da Casa Branca, Brett McGurk, manteve esta semana diálogos em Tel Aviv com o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, após falar no Cairo com outros mediadores que se reuniram com o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh.
No entanto, o governo Netanyahu mira mais adiante e esta semana revelou um plano para o futuro de Gaza, que inclui, entre outras prerrogativas, a liberdade para o exército israelense operar "em toda a Faixa de Gaza, sem limite de tempo".
O plano, que não faz referência alguma à criação de um Estado palestino, foi repudiado tanto pelo Hamas quanto pela Autoridade Palestina, que administra parcialmente a Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967.
Os Estados Unidos, principais aliados de Israel, declararam que não apoiam uma "reocupação", nem uma "redução do tamanho de Gaza", e afirmaram que "o povo palestino deve ter voz e voto (...) através de uma Autoridade Palestina revitalizada".
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O.Meyer--JdB