Presidente do México pede aos EUA informações sobre investigação de laços com narcotráfico
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, exigiu nesta quinta-feira (22) que o governo dos Estados Unidos forneça informações sobre uma suposta investigação que aponta possíveis vínculos de seus aliados com cartéis do narcotráfico antes e depois da sua vitória nas eleições de 2018.
"O governo dos Estados Unidos agora terá que reportar", disse o presidente em entrevista coletiva, na qual leu o número de telefone da repórter do jornal americano "The New York Times" que escreveu a nota sobre os supostos acordos entre pessoas do seu entorno e criminosos.
López Obrador pediu ao governo dos EUA que esclareça se foi investigado horas antes da publicação da reportagem, para a qual o jornal lhe enviou um questionário. Ao revelar essas perguntas, o presidente leu o número de telefone da repórter, o que foi criticado pelo jornal e levou à abertura de uma investigação pelo instituto mexicano de proteção de dados (Inai).
É uma "tática preocupante e inaceitável de um líder mundial, no momento em que as ameaças a jornalistas aumentam", publicou o jornal na rede social X.
Com 149 jornalistas assassinados desde 2000, o México é considerado um dos países mais perigosos para o trabalho da imprensa, segundo a Repórteres sem Fronteiras. A polêmica com o The New York Times acontece menos de um mês depois de o Inai ter exigido do governo mexicano um relatório devido ao vazamento de dados de 263 jornalistas credenciados para trabalhar na conferência de López Obrador.
- Calúnias -
O presidente mexicano negou hoje as acusações de suposta ligação entre seus aliados e o narcotráfico, que chamou de calúnias. Também afirmou que as mesmas buscam interferir nas eleições presidenciais no México e nos Estados Unidos, em junho e novembro.
"Espero que o governo dos Estados Unidos manifeste algo. Se não quiserem dizer nada, se não quiserem agir com transparência, é um problema deles, mas qualquer governo democrático, defensor das liberdades, teria que informar", acrescentou.
Segundo o The New York Times, uma investigação de funcionários americanos "descobriu informações que apontavam possíveis vínculos entre operadores poderosos dos cartéis e funcionários e assessores próximos" de López Obrador antes de ele se tornar presidente e já no poder. Citando um informante, destacou, ainda, que uma pessoa ligada ao presidente teria se reunido com Ismael Zambada, um dos líderes do cartel de Sinaloa, uma das quadrilhas de narcotraficantes mais importantes do México, antes da sua vitória nas eleições.
O jornal ressaltou, no entanto, que "os Estados Unidos nunca abriram uma investigação formal contra López Obrador e que os funcionários que estavam fazendo a investigação acabaram arquivando a mesma".
Segundo a nota, a investigação também foi encerrada, em grande parte, depois que o Departamento de Justiça desconsiderou as acusações contra o ex-secretário de Defesa mexicano Salvador Cienfuegos por vínculos com o narcotráfico, um caso que gerou mal-estar no governo de López Obrador.
- Imprensa -
Esta é a segunda vez que a imprensa aborda um suposto financiamento do narcotráfico às campanhas presidenciais de López Obrador.
No fim de janeiro, Tim Golden, duas vezes vencedor do prêmio Pulitzer, publicou uma investigação no ProPublica afirmando que o cartel de Sinaloa entregou dois milhões de dólares (R$ 4,2 milhões, na cotação da época) para a primeira das três campanhas presidenciais de López Obrador, em 2006.
O trabalho, que cita agentes antidrogas dos Estados Unidos, indica que os criminosos acreditavam que um eventual governo de López Obrador facilitaria as operações.
Uma denúncia semelhante foi publicada também pela jornalista mexicana Anabel Hernández no veículo alemão DW. Ambos os relatórios se baseiam em entrevistas de agentes americanos com testemunhas protegidas.
Após a publicação da reportagem, López Obrador acusou os Estados Unidos de patrocinarem "práticas imorais" e afirmou que se trata de uma calúnia. O líder disse que as denúncias são ataques de seus adversários políticos às vésperas das eleições presidenciais de 2 de junho, onde a candidata oficialista Claudia Sheinbaum lidera as pesquisas.
No início de fevereiro, a chanceler mexicana, Alicia Bárcena, afirmou que os Estados Unidos consideravam encerrado o assunto dessa investigação devido falta de provas.
E.Carlier--JdB