Blinken expõe a Lula desacordo com declarações sobre Gaza antes de reunião do G20
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, expressou, nesta quarta-feira (21), seu "desacordo" depois que o presidente Lula acusou Israel de cometer um "genocídio" na Faixa de Gaza, durante um encontro prévio à reunião de chanceleres do G20.
Durante a reunião em Brasília, "o secretário abordou o assunto (de Gaza) e deixou claro nosso desacordo com estes comentários", disse um alto funcionário do Departamento de Estado.
Lula abriu uma frente diplomática no domingo, ao acusar Israel de cometer um "genocídio" na Faixa de Gaza e comparou a campanha militar israelense no território palestino com o Holocausto.
Seus comentários provocaram indignação em Israel, que declarou Lula "persona non grata". Em resposta, o Brasil convocou o embaixador israelense e chamou para consultas seu embaixador em Tel Aviv.
Após se reunir com Lula, Blinken embarcou para o Rio, onde se realiza a reunião de ministros das Relações Exteriores do G20, em um contexto mundial marcado pela guerra da Ucrânia, que opõe o Ocidente e a Rússia, e pelo conflito em Gaza.
Blinken participa da reunião, assim como seu contraparte russo, Serguei Lavrov.
Embora não se espere um encontro entre os dois, Lavrov se reunirá na quinta-feira com o presidente Lula em Brasília, segundo fontes da Presidência.
Na antessala do encontro no Rio, o chanceler russo conversou com seus contrapartes do Brasil, Mauro Vieira, e do México, Alicia Bárdena.
Embora Lula descreva o G20 como o "o fórum político e econômico com maior capacidade de influenciar positivamente a agenda internacional", as divisões entre seus membros se acentuam.
"Se o presidente Lula imaginava que dentro do contexto do G20 iria propor resoluções de paz, não só para Israel, mas para a questão da Ucrânia, acho que isso vai para baixo dos panos", disse à AFP o economista e doutor em Relações Internacionais Igor Lucena.
Mais de quatro meses depois de Israel lançar a ofensiva na Faixa de Gaza, em resposta a um ataque sem precedentes do movimento islamista Hamas, que deixou 1.160 mortos, segundo balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses, nada indica que o fim do conflito esteja próximo.
Na terça-feira, os Estados Unidos vetaram uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU, que pedia um cessar-fogo imediato em Gaza.
A ofensiva israelense na Faixa deixou, até o momento, 29.313 mortos, segundo o ministério da Saúde de Gaza, em poder do Hamas.
- Novas tensões por caso Navalny -
Tampouco há otimismo no horizonte sobre a guerra na Ucrânia, prestes a entrar em seu terceiro ano.
Apesar da tentativa do Ocidente de condenar a invasão promovida pelo presidente russo, Vladimir Putin, a última cúpula do G20, celebrada em setembro em Nova Délhi, terminou com um comunicado vago denunciando o uso da força, mas sem citar a Rússia, que mantém relações cordiais com membros como Brasil e Índia.
As tensões com a Rússia se acentuaram após a morte na prisão do opositor Alexei Navalny, anunciada na sexta-feira.
As potências ocidentais responsabilizaram Putin pelo falecimento do opositor e os Estados Unidos anunciaram que adotariam um "importante pacote de sanções" contra Moscou.
"Ninguém deve duvidar da natureza opressiva do sistema russo", disse o chanceler britânico, David Cameron, citado em nota na quarta-feira.
Cameron vai aproveitar sua presença no G20 para denunciar "a agressão russa" na Ucrânia, "diretamente" a Lavrov.
- "Apagando incêndios" -
O número e a gravidade dos conflitos indicam que "retornamos ao nível da guerra fria, o que mostra que há um deficit de governança para enfrentar os desafios globais", disse na terça-feira Maurício Lyrio, "sherpa" brasileiro do G20 para o Brasil.
Lyrio criticou que por enquanto o mundo se limite a "apagar incêndios".
O Brasil também fez da luta contra a fome e a ação internacional contra as mudanças climáticas prioridades de sua presidência.
Mas Lucena avalia que será "difícil" obter "grandes acordos" este ano no âmbito do G20, devido, também, às eleições em países como os Estados Unidos.
Uma fonte do governo brasileiro explicou que, após os últimos dissensos, a Presidência decidiu que já não será preciso alcançar um comunicado conjunto em cada encontro, com a exceção da cúpula de líderes do G20, que será realizada no Rio em novembro.
Isto não significa menos reuniões: o Brasil vai organizar um segundo encontro de chanceleres à margem da Assembleia Geral da ONU em setembro em Nova York, com a intenção de que todos os países-membros do organismo participem.
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W.Lejeune--JdB