Rússia reivindica novo êxito na Ucrânia após tomar Avdiivka
A Rússia afirmou, nesta terça-feira (20), que retomou Krynky, uma localidade na margem oriental do rio Dnieper, onde o Exército ucraniano havia conseguido estabelecer uma cabeça de ponte em outubro, um de seus poucos avanços desde o fracasso de sua contraofensiva.
Esse novo sucesso de Moscou, na área da Ucrânia ocupada pela Rússia, foi anunciado pelo ministro russo da Defesa pouco depois de seu exército tomar a cidade de Avdiivka, no leste, e poucos dias antes de a guerra entrar em seu terceiro ano.
"Confirmo que Krynky foi limpa. De fato, toda a margem [oriental do Dnieper] está sob nosso controle", disse Sergei Shoigu ao presidente Vladimir Putin em uma conversa transmitida pela televisão.
As forças ucranianas estavam há meses tentando ganhar terreno na margem esquerda do Dnieper, na região de Kherson.
Haviam conseguido estabelecer posições em Krynky apesar das condições complicadas, especialmente pela presença de pântanos e por precisarem atravessar o rio sob tiros. No entanto, os russos bombardearam massivamente a área e Krynky ficou totalmente destruída.
Durante a conversa entre Shoigu e Putin, o presidente também zombou do que descreveu como uma "fuga caótica" das tropas ucranianas de Avdiivka.
- 'Grande sucesso' -
A Ucrânia deu a ordem de retirar suas forças dessa cidade na região de Donetsk "por razões políticas, para disfarçar esse movimento e fazer parecer uma retirada organizada", comentou o presidente russo.
A tomada de Avdiivka, sua primeira conquista importante desde a de Bakhmut em maio de 2023, é "um grande sucesso", considerou o ministro da Defesa, acrescentando que as tropas que lutaram lá estão "descansando e se preparando para novos combates".
A Rússia continua sua ofensiva em vários setores da linha de frente. A Ucrânia relatou dezenas de ataques russos no leste e sul do país.
As ofensivas russas ocorrem no momento em que a Ucrânia recorda o 10º aniversário da morte de dezenas de manifestantes em Kiev durante a revolução pró-europeia de Maidan, que derrubou um governo pró-Rússia. Pouco depois, a Rússia anexou a península da Crimeia.
"Dez anos se passaram desde [o início] das tentativas de nos destruir e de destruir a nossa independência", postou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, no Facebook nesta terça-feira. "Mas permanecemos firmes há 10 anos e continuamos a fazê-lo hoje", acrescentou.
O Estado-Maior ucraniano afirmou na sua coletiva matinal desta terça-feira que pelo menos 84 ataques russos foram registrados nas últimas 24 horas e que todos foram "repelidos".
Embora as operações russas tenham diminuído consideravelmente em torno de Avdiivka, ocorreram numerosos ataques perto de Marinka (leste), próximo a Bakhmut (leste) e na região de Zaporizhzhia (sul).
- Cansaço acumulado -
Zelensky afirmou na segunda-feira que "a situação é extremamente difícil em muitas partes do front" e insistiu que o seu país precisa de mais artilharia, defesa aérea no front e armas de longo alcance.
As forças russas "estão aproveitando os atrasos na ajuda à Ucrânia", acrescentou o líder ucraniano, que espera uma ajuda crucial dos Estados Unidos bloqueada pelos republicanos na Câmara Baixa do Congresso.
Da mesma forma, o primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmigal, indicou nesta terça que também está confiante de que o Congresso dos EUA aprovará a ajuda.
"Acredito que os Estados Unidos também apoiarão a Ucrânia, como a União Europeia, como o Japão, como todos os países do G7 e o FMI e todas as organizações financeiras internacionais", declarou Shmigal em Tóquio.
Neste contexto, Zelensky agradeceu nesta terça-feira à Suécia pelo anúncio de uma nova ajuda militar, que consiste em equipamentos no valor de cerca de 633 milhões de euros (cerca de 3,37 bilhões de reais).
Autoridades ucranianas do alto escalão negam uma "fadiga em relação à Ucrânia" na comunidade internacional, mas a situação é diferente no terreno.
Sviataslav Iaremenko, que já lutou contra os separatistas em 2014 e se reincorporou ao exército após a invasão iniciada em 24 de fevereiro de 2022, disse à AFP que "após dois anos de guerra, o cansaço se acumulou".
"Acredito que continuaremos lutando por vários anos mais", acrescentou o soldado em Kostiantinivka, cidade do leste próxima à linha de frente, afirmando que "dependerá da magnitude da ajuda" ocidental.
Enquanto isso, os russos seguem bombardeando quase diariamente localidades além da linha de frente.
Uma mãe, seus dois filhos e sua avó, além de outro civil, morreram em um bombardeio contra uma vila na região nordeste de Sumi, informou o Exército ucraniano nesta terça.
W.Lievens--JdB