EUA veta resolução sobre trégua em Gaza, bombardeada por Israel
Os Estados Unidos vetaram, nesta terça-feira (20), uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo na Faixa de Gaza, submetida a novos bombardeios israelenses e confrontada com uma grave crise humanitária.
Os Estados Unidos vetaram a proposta impulsionada pela Argélia, que pedia "um cessar-fogo imediato" e defenderam um esboço de texto alternativo, ao qual a AFP teve acesso, que enfatiza o "apoio a um cessar-fogo temporário" entre Israel e Hamas, depois de semanas de mediações frustradas para se obter uma trégua.
O movimento islamista, no poder em Gaza, considerou que a postura de Washington dava "luz verde" a "mais massacres" no território palestino.
Segundo o ministério de Saúde de Gaza, ao menos 103 pessoas morreram nos bombardeios israelenses e nos combates na Faixa nas últimas 24 horas.
O exército israelense informou que eliminou "dezenas de terroristas" durante "operações intensivas" em Khan Yunis, no sul de Gaza, onde concentra sua ofensiva há semanas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que havia transferido 32 pacientes do sitiado hospital Nasser nesta cidade e manifestou sua preocupação com os pacientes e o pessoal que ainda permanecem ali.
"Quantos de nós devemos morrer (...) para que cessem estes crimes?", perguntou Ahmad Moghrabi, médico palestino de Khan Yunis. "Onde está a humanidade?"
- Fome ameaça o norte -
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU anunciou que suspenderá a distribuição de ajuda no norte da Faixa de Gaza, devido ao "caos total e à violência".
O PMA havia retomado suas entregas no domingo, mas seus caminhões foram cercados "por uma multidão de pessoas famintas" e "saqueados", antes de serem alvos de disparos.
A decisão de suspender os envios "não foi tomada facilmente, pois sabemos que isto significa (...) mais pessoas vão correr o risco de morrer", ressaltou a agência.
Mais de quatro meses depois do início do conflito, cerca de 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza estão à beira da fome extrema, segundo estimativas da ONU.
O Unicef, agência da ONU para a infância, afirmou que uma em cada seis crianças no norte de Gaza sofre de desnutrição aguda, uma situação que pode agravar "o nível insuportável de mortes de crianças".
"As pessoas no norte morrem de fome e nós aqui morremos nos bombardeios", disse Aiman Abu Shamali, que perdeu a mulher e a filha em um bombardeio em Zawaida, centro de Gaza.
A guerra foi desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, que deixou cerca de 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em números israelenses.
Os combatentes palestinos também capturaram 250 pessoas, das quais 130 continuam sequestradas em Gaza, incluindo 30 que teriam morrido em cativeiro.
Em represália, Israel lançou uma ofensiva para "aniquilar" o Hamas, que deixou ao menos 29.195 mortos, a maioria mulheres, adolescentes e crianças, segundo o ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas.
- Negociações estagnadas -
Na segunda, todos os membros da União Europeia, exceto a Hungria, instaram Israel a não invadir Rafah, no extremo sul de Gaza, na fronteira com o Egito, onde estão refugiados cerca de 1,4 milhão de palestinos.
O ministro israelense Benny Gantz (sem pasta), membro do gabinete de guerra, afirmou no domingo que se os reféns não forem libertados antes do início do Ramadã, "os combates vão prosseguir em todas as partes, incluindo na região de Rafah".
Segundo o calendário lunar, o mês sagrado para os muçulmanos começa em 10 de março.
Semanas de negociações conduzidas por Catar, Egito e Estados Unidos para alcançar um cessar-fogo e frear uma ofensiva contra Rafah não conseguiram nenhum resultado até o momento.
O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, chegou ao Cairo para conversar com altos funcionários egípcios, informou o movimento islamista.
A falta de avanços na libertação de mais reféns israelenses avivou, por outro lado, os protestos em Israel contra a gestão da guerra por parte do governo.
"Pedimos desesperadamente a todos os tomadores de decisões em Israel e no mundo que se envolvam nas negociações e os tragam para casa imediatamente", disse Ofri Bibas, cuja cunhada, Shiri, segue retida em Gaza com os dois filhos pequenos.
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M.F.Schmitz--JdB