Journal De Bruxelles - Destino do maior hospital do sul de Gaza gera preocupação após incursão israelense

Destino do maior hospital do sul de Gaza gera preocupação após incursão israelense
Destino do maior hospital do sul de Gaza gera preocupação após incursão israelense / foto: AFP - AFP

Destino do maior hospital do sul de Gaza gera preocupação após incursão israelense

O destino do maior hospital do sul de Gaza era motivo de preocupação nesta sexta-feira (16), depois de uma incursão das tropas israelenses no local, que, segundo o movimento palestino Hamas, provocou a morte de pacientes por falta de oxigênio.

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O Exército de Israel entrou na noite de ontem no hospital Nasser, um dos últimos centros de saúde que permanecem operacionais na Faixa de Gaza, que fica na cidade de Khan Yunis. As tropas iniciaram a incursão após um cerco de várias semanas.

O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que, após a incursão, um corte de luz interrompeu o fornecimento de oxigênio e causou a morte de cinco pacientes. Já o Exército israelense informou que prendeu no local "mais de 20 terroristas" suspeitos de participação no ataque de 7 de outubro contra Israel.

A operação se baseou "em informações confiáveis" de que reféns capturados pelo Hamas se encontravam no local e de que poderia haver corpos de alguns deles, informou o Exército, ressaltando que não encontrou provas.

Integrantes do Hamas sequestraram 250 pessoas em 7 de outubro, 105 das quais foram trocadas por 240 presos palestinos. Israel afirma que 130 pessoas permaneceram em cativeiro, 30 das quais morreram desde então.

Segundo o Hamas, a ofensiva terrestre e aérea em Gaza já deixou 28.775 mortos, a maioria mulheres e crianças.

Os bombardeios israelenses e os combates acontecem em meio a negociações de um novo cessar-fogo mediadas pela comunidade internacional, que pressiona para evitar que Israel lance uma ofensiva contra Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, onde há mais de 1 milhão de palestinos deslocados pela guerra.

- Situação caótica -

Uma testemunha, que pediu para não ser identificada, por motivo de segurança, disse à AFP que as forças de Israel atiraram "contra qualquer pessoa que se movesse dentro do hospital" de Khan Yunis.

A ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) descreveu a situação no hospital como "caótica" e informou que seus funcionários foram obrigados a fugir, "deixando os pacientes para trás".

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos indicou que a incursão no hospital Nasser parece "fazer parte de um padrão de ataques das forças israelenses contra infraestrutura civil essencial para salvar vidas em Gaza, principalmente hospitais". Israel acusa o Hamas de organizar suas ações de dentro de hospitais, o que o movimento palestino nega.

- 'Matando lentamente' -

Organizações internacionais alertaram para o desastre humanitário que se agrava a cada dia devido à escassez de alimentos, água e remédios, resultado do "assédio completo" imposto por Israel a Gaza desde 9 de outubro. "Estão nos matando lentamente", disse em Rafah Mohamad Yaghi, uma das milhares de pessoas deslocadas.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou ontem com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e voltou a pedir que Israel não ataque Rafah se não tiver um plano detalhado para proteger os civis. Netanyahu, no entanto, insiste em que seguirá adiante com seu plano, a fim de obter "uma vitória total" contra o Hamas.

O plano israelense despertou temores de um êxodo em massa de refugiados para o Egito, que, segundo o Wall Street Journal e uma ONG local, constrói um acampamento fechado no Sinai para receber os habitantes de Gaza que fugirem no caso de uma ofensiva contra Rafah.

Deve-se "evitar a todo custo" que os habitantes de Gaza fujam para o Egito, porque isso significaria "a sentença de morte" de um processo de paz, advertiu à rede BBC o alto comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi. Assim como muitos observadores, ele estima que os refugiados que deixarem Gaza não poderão retornar - como ocorreu no grande êxodo de 1948, ano da fundação de Israel -, e que isso arruinaria a possibilidade de uma solução de dois Estados.

O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, afirmou hoje que o país irá discutir com os egípcios antes de lançar uma operação naquela localidade: "Temos um acordo de paz com o Egito e agiremos para não prejudicar seus interesses."

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J.F.Rauw--JdB