Journal De Bruxelles - Escolas brilham na 1ª noite de desfiles no Sambódromo do Rio

Escolas brilham na 1ª noite de desfiles no Sambódromo do Rio
Escolas brilham na 1ª noite de desfiles no Sambódromo do Rio / foto: MAURO PIMENTEL - AFP

Escolas brilham na 1ª noite de desfiles no Sambódromo do Rio

O êxtase carnavalesco tomou conta de um Sambódromo lotado neste domingo (11), na primeira das duas noites de desfiles, que diversas escolas de samba dedicaram à exaltação dos povos originários.

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O espetáculo, que coloca o Rio sob os holofotes do mundo, encantou quase 70 mil participantes e mais milhões que o acompanharam pela televisão.

As doze escolas de samba, que disputam a honra de serem as melhores entre as melhores, chegam aqui depois de um ano de muito trabalho, milhares de horas de ensaio e muito amor pelo carnaval.

Salgueiro prestou homenagem ao povo yanomami, que vive uma crise humanitária devido à destruição de suas terras no norte do país.

Árvores cortadas com "sangue" jorrando deram lugar a uma figura monumental de um yanomami cercado por dançarinos com flores e penas.

"Aprendi português, a língua do opressor, para te mostrar que o meu penar também é a sua dor / Falar de amor enquanto a mata chora é uma luta sem flecha, da boca para fora", cantaram todos.

O garimpo devasta esta comunidade, cujos membros sofrem de desnutrição, malária e doenças respiratórias. Além disso, são ameaçados e mortos por confrontarem os garimpeiros.

A situação levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a mobilizar permanentemente forças de segurança em janeiro.

"Viemos mostrar o que está acontecendo na Amazônia, como está o desmatamento, como o povo yanomami está sendo tratado (...) Tem criança, gente morrendo, e animais morrendo, estão queimando a floresta" disse Kevin Rodriguis, de 22 anos, após descer de guindaste de um carro alegórico do Salgueiro no final do desfile.

Salgueiro também lembrou do jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, assassinados na Amazônia em 2022 enquanto investigavam crimes ambientais.

A Grande Rio, por sua vez, representou a "criação do mundo" segundo o mito tupinambá.

- Incidente de abertura -

A abertura foi feita pela Porto da Pedra, escola de São Gonçalo, município próximo ao Rio.

"É a festa de todo mundo. São pessoas que tem vidas muito difíceis, pessoas marginalizadas, e por um dia estão no centro da atenção, são o cartão postal do país", disse à AFP a moradora de São Gonçalo Josiane Moraes de Souza, assistente social de 52 anos.

Mas um incidente ofuscou seu desempenho: um de seus carros alegóricos teve dificuldade para avançar. Após alguns minutos de comoção e empurrado por dezenas de homens, conseguiu seguir caminho pela avenida.

Uma mulher sofreu um ferimento leve na perna, segundo os serviços de saúde da Prefeitura do Rio.

O incidente, comum em desfiles, descontará pontos da escola, avaliados criteriosamente pelos jurados.

Cada escola conta com cerca de 3 mil participantes. Para cada um deles, entrar no Sambódromo é a realização de um sonho.

"É uma emoção que não tem como explicar, mas é um sentimento muito forte", confirma Nelson Firmino, de 30 anos, ritmista da bateria da Porto da Pedra.

- Tensão política e festa -

Enquanto festeja, o país também vive momentos de tensão política, depois de o ex-presidente Jair Bolsonaro ter sido alvo de uma operação policial na quinta-feira por sua suposta participação em uma tentativa de plano de golpe de Estado antes das eleições de outubro de 2022, nas quais perdeu para Lula.

Mas o Rio garante que seu principal símbolo de identidade seja concretizado sem dificuldades. Este ano, as autoridades locais estimaram que o carnaval movimentará cerca de 5 bilhões de reais na economia local, quase 20% a mais que no ano passado.

Fora do Sambódromo, o carnaval de rua, liderado pelos blocos e seus cortejos musicais, acontece durante o dia, desde áreas privilegiadas até os bairros mais populares.

No sábado, no bairro de Ipanema, na zona sul da cidade, o tradicional bloco Banda de Ipanema atraiu uma multidão colorida e animada, ao homenagear Conceição Evaristo, ícone da literatura brasileira.

Para a ocasião, a grande escritora negra formulou ao jornal O Globo um desejo sobre o carnaval e as desigualdades que assolam o país: "Que esse momento de festa transforme, ou que ele possa traduzir as relações sociais, econômicas e políticas no dia a dia do brasileiro, e que todas as pessoas sejam incorporadas, não por uma cidadania lúdica, mas por uma cidadania de direito".

H.Raes--JdB