Agricultores espanhóis endurecem protestos contra políticas europeias
O movimento de protesto agrário ganha força na Espanha, onde milhares de agricultores bloquearam várias rodovias e chegaram ao centro de Barcelona, em protesto contra a política agrícola europeia e a precariedade do setor, que o governo de esquerda prometeu melhorar, nesta quarta-feira (7).
Os manifestantes, organizados por WhatsApp, se concentraram desde o amanhecer com seus tratores em várias estradas, principalmente nas regiões de Castela-Mancha (centro), Andaluzia (sul), Navarra (norte) e Catalunha (nordeste), segundo a Direção Geral de Trânsito (DGT).
Convertida no epicentro dos protestos, Barcelona, segunda maior cidade da Espanha, viu ao longo do dia cerca de mil tratores se concentrarem nas proximidades da sede do governo regional catalão, onde os manifestantes organizaram um buzinaço.
"A burocracia nos asfixia", declarou à AFPTV Joan Maia Sala, um dos manifestantes. "A cada dia você acorda e tem mais trabalho com a papelada pedida pelo governo do que com as tarefas do campo", lamentou este agricultor de 45 anos.
Ao fim de uma reunião realizada à tarde com o presidente da região catalã, Pere Aragonés, alguns agricultores manifestaram sua intenção de permanecer no local durante a noite.
Os protestos, que avançavam ao som de buzinas, causaram grandes engarrafamentos, inclusive na região de fronteira com a França.
Em Málaga, cidade do sul cujo porto foi bloqueado na terça-feria, dezenas de tratores paralisaram mais uma vez o trânsito em várias ruas, informou a Prefeitura.
Em Granada, também no sul, cinco agricultores foram presos após enfrentamentos com autoridades, segundo a imprensa.
A Confederação Espanhola de Transporte de Mercadoria (CETM) pediu ao governo em comunicado "medidas para evitar que o transporte seja, mais uma vez, refém dos protestos".
A CETM disse entender que a situação do campo "é crítica", mas pediu o fim dos bloqueios "indiscriminados de rodovias porque as grandes prejudicadas são as empresas" de transporte.
- "Mão estendida" -
Os protestos desta quarta-feira não foram convocados pelos três principais sindicatos de agricultores da Espanha, Asaja, Coag e UPA, que, no entanto, têm outras manifestações previstas para os próximos dias.
Como seus colegas em outros países europeus que também protestam, os agricultores espanhóis reclamam da burocracia e complexidade das normas europeias, dos preços baixos de venda de seus produtos e da concorrência dos produtos estrangeiros, que consideram desleal.
"São questões que levantamos há tempos com as autoridades e para as quais não tivemos respostas adequadas", afirmou à radio estatal RNE o secretário-geral da UPA, Marcos Alarcón, que pediu "unidade" dos agricultores ante os diversos pedidos de manifestação.
O presidente do Governo, o socialista Pedro Sánchez, afirmou nesta quarta-feira no Congresso que seu gabinete "está com o campo", e questionou as medidas "tomadas nos últimos cinco anos" para apoiar o setor.
Sánchez prometeu melhorar a lei de 2013 sobre a cadeia de alimentos para evitar prejuízos e simplificar a aplicação da Política Agrícola Comum (PAC) europeia, considerada excessivamente burocrática pelos agricultores.
"Estendemos a mão para continuar, com diálogo e compromisso, o trabalho pela busca de soluções", destacou o ministro da Agricultura, Luis Planas.
A Espanha, frequentemente descrita como a "horta da Europa", é a principal exportadora europeia de frutas e hortaliças, mas o setor agrícola atravessa dificuldades especialmente devido à seca que assola o país há três anos.
C.Bertrand--JdB