Ministro de Biden sobrevive a impeachment por crise migratória
Os congressistas republicanos fracassaram nesta terça-feira (6) em sua tentativa de submeter o secretário de Segurança Doméstica dos Estados Unidos, Alejandro Mayorkas, a um processo de impeachment devido à crise migratória na fronteira com o México, um tema-chave na campanha para as eleições presidenciais no país.
A Câmara dos Representantes votou dois artigos que acusam o ministro do presidente democrata, Joe Biden, de não fazer cumprir a lei e de ter violado a confiança pública.
"Ele é o principal artífice da catástrofe", afirmou o republicano Mike Johnson, presidente da Câmara e aliado do ex-mandatário Donald Trump, atualmente o grande favorito para a indicação do partido para concorrer nas eleições de novembro.
Os republicanos argumentam que o país está sendo "invadido" por imigrantes, cujas chegadas batem recordes, com 302 mil interceptações em dezembro.
Os conservadores têm uma maioria por pouca margem na Câmara, e a votação foi acirrada. Quatro republicanos ficaram ao lado dos democratas e a votação terminou com 216 votos a favor e 214 contra Mayorkas.
"Embora seja imperdoável, sua incompetência não constitui motivo de impeachment segundo a Constituição", sentenciou o republicano Ken Buck, que representa o 4º distrito do estado do Colorado.
Os democratas de Biden votaram, é claro, contra o que consideram uma tentativa de transformar Mayorkas em bode expiatório em um ano eleitoral.
- 'Manobra política' -
Mayorkas, de 64 anos, acusa os republicanos de lançarem mão de uma "manobra política" e de "desperdiçarem" tempo e dinheiro dos contribuintes.
Se os congressistas tivessem votado a favor da acusação, seria a primeira vez em 150 anos que um processo de impeachment seria aberto contra um alto funcionário do gabinete. Isso só aconteceu em 1876 com o secretário de Guerra William Belknap.
O processo se desenvolve em duas etapas. Em primeiro lugar, a Câmara dos Representantes vota, por maioria simples, os artigos de acusação. É o que aconteceu esta tarde. Mesmo que a votação tivesse prosperado, ela passaria depois para o Senado, onde os democratas têm maioria.
A votação ocorreu em meio a uma grande tensão política em torno da crise na fronteira. No domingo, foi divulgado um pacote legislativo negociado por senadores republicanos e democratas com o governo Biden que permitiria restringir o fluxo de migrantes na fronteira.
O endurecimento da política migratória foi uma condição imposta pelos republicanos para a aprovação de mais recursos para a Ucrânia e de uma ajuda para Israel, também incluídos no pacote.
Mas a linha-dura dos republicanos, bastante influenciada por Trump, é contrária a esse texto, que endurece o padrão das avaliações para concessão de asilo.
"Por quê? Por uma simples razão: Donald Trump. Porque Donald Trump acha que é ruim para ele politicamente. Portanto, embora ajude seu país, ele não é a favor", disse Biden nesta terça-feira na Casa Branca.
- Migração como 'arma' -
Segundo pesquisas, o eleitor republicano está mais preocupado com a migração do que com qualquer outro assunto, o que explica por que se tornou uma lança eleitoral entre os dois partidos para as presidenciais, nas quais provavelmente se repetirá o duelo entre Trump e Biden.
"Nas últimas 24 horas, ele (Trump) não fez nada, disseram a mim, exceto procurar os republicanos da Câmara e do Senado, ameaçá-los e tentar intimidá-los. Parece que estão cedendo. Francamente, eles devem mostrar alguma coragem ao povo americano e fazer o que sabem que é o correto", afirmou Biden.
O democrata acusa Trump de usar o tema migratório "como uma arma, em vez de resolvê-lo".
O magnata republicano, por sua vez, classificou o discurso de Biden como "uma mentira descarada e patética", em comunicado divulgado por sua equipe de campanha.
"Os Estados Unidos não precisam de um projeto de lei 'fronteiriça' que não faça nada para dissuadir a migração ilegal. Precisamos de um presidente que use sua autoridade executiva para fechar a fronteira. Joe Biden claramente se nega a fazê-lo, mas o presidente Trump o fará no primeiro dia", se retornar à Casa Branca, ameaçou.
W.Lievens--JdB