Agricultores franceses iniciam 'cerco' a Paris
Agricultores franceses cumpriram sua ameaça e começaram a bloquear nesta segunda-feira (29) estradas em torno de Paris, para denunciar sua situação econômica, em uma disputa cada vez mais tensa com o governo.
De norte a sul, de leste a oeste, o trânsito foi afetado em oito rodovias na capital da segunda maior economia da União Europeia (UE), com trechos bloqueados em dezenas de quilômetros de Paris, segundo o site Sytadin.
Os agricultores permanecerão nessas vias "o tempo que for necessário", disse Luc Smessaert, vice-presidente do sindicato agropecuário majoritário FNSEA, enquanto outros produtores agrícolas organizavam acampamentos improvisados na região de Paris com fardos de palha, cisternas de água e banheiros.
Cerca de mil agricultores, com mais de 500 tratores, participaram dos bloqueios em torno de Paris, informou uma fonte da polícia à AFP. Em toda a França, “um pouco menos de 10 mil agricultores se mobilizaram hoje, com cerca de 5 mil tratores”, acrescentou.
O setor denuncia a queda de receita, as baixas aposentadorias, a complexidade administrativa, a inflação das normas ambientais e a concorrência estrangeira, especialmente o acordo negociado entre a União Europeia e os países do Mercosul.
O FNSEA e os Jovens Agricultores convocaram um "cerco da capital por tempo ilimitado" para pressionar o governo, no marco dos 11 dias de protestos.
A categoria considerou insuficientes as medidas anunciadas na sexta-feira, pelo primeiro-ministro Gabriel Attal, como a eliminação do aumento da taxa do diesel para uso não agrícola e a ajuda a setores em crise.
Símbolo da pressão crescente, o presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniu com vários dos seus ministros, depois de ter permanecido em segundo plano desde o início dos protestos, e a porta-voz do governo, Prisca Thevenot, que anunciou novas medidas na terça-feira.
Attal se reuniu hoje com o FNSEA e os Jovens Agricultores, e, de acordo com a presidência, Macron se reunirá nesta semana com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, para conversar sobre o acordo comercial entre a UE e o Mercosul.
- Problemas de custos -
O setor agrícola é culturalmente importante na sétima economia mundial, embora o seu peso no PIB tenha caído drasticamente de 18,1% em 1949, no período de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, para 2,1% em 2022, segundo dados oficiais.
As autoridades, que até agora evitaram conter os protestos, mobilizaram 15 mil policiais e gendarmes para impedir o bloqueio dos aeroportos parisienses e do importante mercado atacadista de Rungis, a cerca de sete quilômetros da capital, aonde se dirigia um comboio de tratores.
"Não somos bandidos. Só queremos respostas, porque este é o nosso último comboio, a nossa última luta pelos agricultores (…) É uma questão de sobrevivência", disse à AFP Karine Duc, membro do sindicato Coordenação Rural.
Embora a categoria tenha recebido apoio nos últimos dias, ONGs ambientais e o sindicato agrícola Confederação Campesina temem que as normas para o meio ambiente, como a utilização de pesticidas, sejam reduzidas e concentrem-se, em sua maioria, em uma melhor remuneração e no fim dos acordos de livre comércio.
A fúria dos agricultores foi ouvida em vários países da UE, como Alemanha, Polônia e Romênia. No domingo, produtores belgas em tratores bloquearam uma importante rodovia apelando a mudanças na Política Agrícola Comum europeia (PAC).
"Não é um problema de preços. Este é um problema de custos de produção que nos levam à ruína", disse o líder do sindicato agrícola Asaja, Pedro Barato, à rádio espanhola Cope, antecipando protestos na Espanha a partir da próxima semana.
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P.Renard--JdB