Negociações buscam trégua nos combates em Gaza
Tropas israelenses e combatentes do Hamas voltaram a travar intensos combates neste domingo (28) no sul da Faixa de Gaza, o novo epicentro do conflito, enquanto em Paris ocorria uma reunião em busca de um cessar-fogo nesse território palestino.
O exército israelense indicou no 114º dia de guerra que ocorreram "combates intensos" em Khan Yunis, considerada um bastião do grupo islamista Hamas. Especificou que eliminou "terroristas" e apreendeu "grandes quantidades de armas".
Pelo menos 24 pessoas morreram durante o dia nesta grande cidade do sul, incessantemente bombardeada pela aviação israelense, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza desde 2007.
Os confrontos ocorreram em especial em torno dos hospitais Nasser e Al Amal, que agora funcionam apenas parcialmente e abrigam milhares de refugiados fugindo dos bombardeios.
A guerra começou quando o movimento islamista atacou o sul de Israel em 7 de outubro, provocando a morte de cerca de 1.140 pessoas, em sua maioria civis, e sequestrando cerca de 250, de acordo com um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre em Gaza, que até o momento resultou em 26.422 mortes, principalmente de mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Hamas.
- Reunião "construtiva" -
No front diplomático, os esforços em prol de um cessar-fogo continuam.
O chefe da inteligência dos Estados Unidos, William Burns, se reuniu neste domingo em Paris com altos funcionários de Israel e do Egito, e com o primeiro-ministro do Catar, para discutir um cessar-fogo, segundo fontes próximas aos participantes.
A reunião foi "construtiva", afirmou o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acrescentando que ainda havia "desacordos" entre as partes, que "seguirão conversando esta semana".
Catar, Egito e Estados Unidos já intervieram na negociação de uma trégua que permitiu a libertação de uma centena de reféns em troca de prisioneiros palestinos no final de novembro.
De acordo com as autoridades israelenses, 132 reféns ainda estão retidos no território palestino, dos quais acredita-se que 28 estão mortos.
Segundo o The New York Times, o projeto de acordo envolveria uma trégua de dois meses em troca da libertação de todos os reféns e de prisioneiros palestinos em Israel.
- "Ajuda crucial" -
O chefe da ONU pediu garantias para as operações de sua agência de refugiados palestinos (UNRWA), após uma polêmica ligada aos ataques do Hamas que levou vários Estados a suspenderem seu financiamento.
Doze membros da UNRWA foram acusados de envolvimento nos ataques de 7 de outubro contra Israel, que desencadearam a guerra na Faixa. Vários países, incluindo Estados Unidos e Alemanha, principais doadores, suspenderam temporariamente suas contribuições.
A Noruega, outro dos principais doadores, afirmou, no entanto, neste domingo, que não suspenderá sua ajuda para não "punir coletivamente milhões de pessoas".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou no sábado "os governos que suspenderam as contribuições a, pelo menos, garantir a continuidade das operações da UNRWA".
"Dois milhões de civis em Gaza dependem da ajuda crucial da UNRWA para sua sobrevivência diária, mas o financiamento atual da UNRWA não permitirá cobrir todas as suas necessidades em fevereiro", insistiu.
O embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, acusou Guterres de ignorar "as provas" do envolvimento da UNRWA no "terrorismo".
O Hamas denunciou as "ameaças" israelenses contra a agência. Na Cisjordânia ocupada, a Autoridade Palestina criticou uma campanha para "liquidar a questão dos refugiados palestinos".
- "Haverá fome" -
"Se a ajuda [da UNRWA] for suspensa, haverá fome. São eles quem nos dá farinha, o que comer e beber", comentou preocupado Bassam al Masri, um habitante do norte de Gaza que se refugiou em Rafah.
Mais de 1,3 milhão de deslocados da Faixa de Gaza, segundo a ONU, se aglomeram contra a fronteira fechada com o Egito para fugir do avanço das tropas israelenses.
Do lado de Israel, um grupo de pessoas se reuniu neste domingo no ponto de passagem de Kerem Shalom, perto de Rafah, para exigir a libertação dos reféns, obrigando os caminhões com ajuda humanitária a voltarem para o território palestino. Para os manifestantes, a entrada dessa ajuda contribui para a continuação da guerra.
Num contexto regional explosivo, três militares americanos morreram e 25 ficaram feridos em um ataque com drones na Jordânia, conforme anunciou Washington neste domingo, apontando grupos pró-Irã como culpados.
No entanto, a Jordânia afirmou que o ataque ocorreu em uma base militar na Síria, perto das fronteiras jordaniana e iraquiana.
É a primeira vez que soldados americanos morrem no Oriente Médio desde o início da guerra em Gaza, o que aumenta as tensões na região.
G.Lenaerts --JdB