Manifestação em apoio a Morales cresce na Bolívia com mais bloqueios e primeiras vítimas
Milhares de agricultores se somaram a uma manifestação em apoio ao ex-presidente Evo Morales que já deixou dois civis mortos e 11 polícias feridos devido a bloqueios de estradas desde a última segunda-feira.
Os apoiadores do presidente, de 64 anos, inabilitado pela justiça para disputar as eleições presidenciais de 2025, completaram hoje quatro dias de manifestação nas estradas, em meio a confrontos esporádicos com a força pública.
Os cocaleiros e demais organizações camponesas exigem a renúncia dos juízes do Tribunal Constitucional que decidiram contra Morales, bem como a convocação imediata de eleições judiciais. Os magistrados dessa e de outras cortes prorrogaram seus próprios mandatos, que deveriam ter terminado no ano passado, na ausência de um acordo no Congresso para convocar eleições para definir as novas autoridades judiciais.
"Há mais bloqueios, estamos avançando. Nossos movimentos já estão fazendo este governo tremer", disse o líder cocaleiro Leonardo Loza à rádio RKC em Parotani, no departamento de Cochabamba, berço político de Morales.
A Administradora rodoviária registrou hoje 22 pontos de bloqueio em estradas de Cochabamba, Oruro, Potosí, La Paz e Santa Cruz, motor econômico da Bolívia, frente aos 16 da véspera.
Milhares de manifestantes se somaram à manifestação, que aprofundou o embate entre Morales e o presidente Luis Arce, seu antigo aliado e ex-ministro da Economia, que acusa de boicotar a sua candidatura com a ajuda de congressistas e juízes. Ambos foram proclamados por seus apoiadores candidatos à presidência em 2025.
“O povo está mobilizado e indignado, porque os juízes violam de forma flagrante a Constituição”, publicou Morales na rede social X, aumentando a pressão para que o Congresso, de maioria governista, aprove a convocação de eleições judiciais em até 90 dias.
- Primeiras vítimas -
Segundo o governo, duas pessoas morreram ontem ao ficarem presas nos bloqueios de estradas. Uma delas, de 53 anos, tinha problemas de pressão, e a outra, de 57, sofreu uma parada cardíaca na região de Chapare, Cochabamba, e não pôde ser socorrida.
“Não estamos criminalizando a manifestação, mas iremos investigar, porque uma segunda pessoa morreu por causa desses bloqueios e as pessoas que deram as instruções têm que ser investigadas", advertiu o vice-ministro de governo, Roberto Ríos.
A manifestação causa um prejuízo diário de US$ 128 milhões (R$ 630 milhões), segundo estimativas do Ministério da Economia, e foi convocada em repúdio a uma decisão do Tribunal Constitucional que impede Morales de apresentar novamente sua candidatura, com o argumento de que já cumpriu os dois mandatos permitidos pelo regulamento.
O líder máximo dos cocaleiros foi presidente entre 2006 e 2019, quando foi forçado a renunciar devido a uma revolta social que denunciava supostas fraudes eleitorais para que ele obtivesse o quarto mandato.
X.Maes--JdB