Journal De Bruxelles - Milei enfrenta primeira greve geral na Argentina, 45 dias após assumir

Milei enfrenta primeira greve geral na Argentina, 45 dias após assumir
Milei enfrenta primeira greve geral na Argentina, 45 dias após assumir / foto: Luis ROBAYO - AFP

Milei enfrenta primeira greve geral na Argentina, 45 dias após assumir

O presidente argentino, Javier Milei, enfrenta nesta quarta-feira (24) a primeira greve geral em apenas 45 dias de governo, contra seu rígido ajuste fiscal e um gigantesco plano de reformas de leis e normas há décadas em vigor.

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O maior sindicato argentino convocou a greve em repúdio, principalmente, às mudanças decretadas por Milei no regime trabalhista, que limitam o direito à greve e afetam o financiamento dos sindicatos.

As mundialmente famosas organizações Mães e Avós da Praça de Maio, sindicatos e organizações de direitos humanos de todo o país aderiram à greve.

"É uma forma de apoiar esta decisão do povo de organizar um protesto e chamar a atenção para a situação que vivemos com este governo tão estranho", disse a presidente das Avós, Estela De Carlotto, na terça-feira (23).

Organizações cidadãs e sindicais de todo o mundo também se mobilizaram a favor dos manifestantes argentinos.

No Uruguai, o PIT-CNT, único sindicato de trabalhadores, convocou uma manifestação de repúdio às "medidas antipopulares" de Milei, "que ameaçam a vida, os direitos e a liberdade dos trabalhadores e do povo argentino".

Também estão previstos eventos de apoio em Madri, Londres, Berlim e Paris, entre outras cidades.

A greve geral é convocada pela maior central sindical da Argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), de orientação peronista, e recebeu o apoio da Confederação de Trabalhadores Argentinos (CTA), a segunda maior.

- Primeiro desafio -

Será a primeira manifestação nacional contra o governo e suas drásticas medidas para conter uma inflação anual de 211%, um recorde em 30 anos.

Em dezembro, em termos interanuais, o consumo caiu 13,7%, e a produção nas pequenas indústrias, 26,9%, segundo a câmara empresarial CAME.

Além disso, a desvalorização de 50% e a liberação dos preços dos combustíveis, entre outras decisões de Milei, reduziram drasticamente o poder de compra dos trabalhadores e aposentados, e a insatisfação foi parar nas ruas.

Diversas pesquisas mostram, no entanto, que o presidente mantém uma imagem positiva entre 47% e 55%.

A greve durará 12 horas a partir do meio-dia e começará com uma marcha da sede da CGT, a poucos quarteirões da Praça de Maio, até o Congresso.

"O que a greve de quarta-feira vai mostrar é que há duas Argentinas. Há uma Argentina que quer ficar para trás, no passado, na decadência", disse Milei esta semana.

- Serviços essenciais -

O mega Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com 366 artigos, introduz várias mudanças na antiga e consolidada legislação trabalhista argentina, em especial sobre o direito à greve.

Milei exige coberturas mínimas de 75% em serviços essenciais como educação, transporte e alimentação, entre outros, e incentiva demissões de grevistas por justa causa.

O DNU também regulamenta assembleias trabalhistas, condiciona a arrecadação de fundos sindicais e reduz indenizações por demissão.

A CGT questionou a constitucionalidade do capítulo trabalhista do megadecreto na Justiça, que suspendeu seus efeitos provisoriamente. O governo recorreu da decisão, e o caso foi elevado à Suprema Corte, atualmente em recesso.

D.Mertens--JdB