Israel tem seu dia mais letal na operação terrestre contra Gaza
O Exército israelense anunciou, nesta terça-feira (23), a morte de 24 soldados na véspera na Faixa de Gaza, o pior número de vítimas para suas tropas desde o início da operação terrestre contra esse território palestino.
Em discurso ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, admitiu nesta terça que foi um "duro golpe".
"A má notícia que recebemos ontem [segunda-feira], com a morte de 24 dos nossos guerreiros [...] é um duro golpe", declarou, na gravação.
O governo israelense se encontra sob crescente pressão para encontrar uma saída para o conflito e, segundo um meio de comunicação americano, apresentou uma proposta de acordo que contempla um cessar-fogo de dois meses.
O Exército israelense perdeu 24 soldados em Gaza na segunda-feira. Seu porta-voz, general Daniel Hagari, relatou que 21 pessoas morreram quando um foguete antitanque atingiu um veículo blindado e dois edifícios que suas tropas haviam minado para demolição.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou que os militares iniciaram uma investigação sobre o desastre.
"Devemos aprender as lições necessárias e fazer tudo para preservar as vidas dos nossos guerreiros", disse ele em um comunicado.
O evento pode aumentar ainda mais a pressão sobre seu governo, afirmou a analista Israela Oron, analista da Universidade Ben-Gurion do Neguev.
"Todo mundo chora pelos soldados esta manhã e acho que as pessoas vão pedir respostas claras sobre o propósito e objetivo dessa operação em Gaza", afirmou.
Nas últimas semanas, os combates se concentraram no sul do território palestino governado pelo Hamas.
Nesta terça, o Exército israelense disse que suas forças "cercaram" Khan Yunis e "aprofundaram" suas operações nessa cidade densamente povoada, matando dezenas de milicianos islamistas nas últimas 24 horas.
Testemunhas relataram fortes explosões nessa cidade, a mais populosa do sul de Gaza, assim como em Deir al Balah, no norte do território, e em Rafah, no extremo-sul.
O Crescente Vermelho Palestino denunciou que as forças israelenses atacaram seus escritórios em Khan Yunis "com artilharia", o que causou "feridos entre deslocados internos" refugiados em suas instalações.
- Conversas sobre reféns
Agências da ONU e organizações humanitárias alertaram para o risco crescente de doenças e fome em Gaza, onde se estima que a guerra tenha deslocado 1,7 milhão de pessoas.
A guerra em Gaza eclodiu com o ataque do movimento islamista Hamas contra o sul de Israel, que deixou cerca de 1.140 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais israelenses.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre contra este território que matou 25.490 pessoas, a maioria mulheres e menores, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.
Em seu ataque, os membros do Hamas também sequestraram 250 pessoas, das quais 132 permanecem em Gaza, segundo Israel. Este número inclui os corpos de pelo menos 28 reféns mortos, de acordo com balanço da AFP também baseado em números do governo israelense.
Cerca de uma centena de reféns, incluindo estrangeiros, foram libertados durante uma trégua de uma semana em novembro, em troca da soltura de prisioneiros palestinos em Israel.
Familiares daqueles que seguem em cativeiro em Gaza interromperam uma reunião da comissão parlamentar na segunda-feira para pedir medidas urgentes.
"Eles estão aí sentados enquanto nossos filhos morrem lá", gritou Gilad Korngold, pai do refém Tal Shoham.
- Solução de Dois Estados -
O coordenador da Casa Branca para o Oriente Médio, Brett McGurk, viaja para o Egito e o Catar para tentar fechar um novo acordo para libertar reféns.
O site americano Axios noticiou, ontem, que Israel, através de mediadores catarianos e egípcios, teria proposto um novo acordo ao Hamas para libertar todos os reféns.
A informação, que cita autoridades israelenses não identificadas, indica que o plano teria várias fases e duraria dois meses. A proposta, segundo o Axios, também contempla a libertação de prisioneiros palestinos e a redução da presença de tropas israelenses nas grandes cidades de Gaza.
Tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia pressionam Israel para que aceite uma solução a longo prazo baseada na criação de um Estado palestino viável, algo a que Netanyahu se opõe firmemente.
Em Bruxelas, após uma reunião com os ministros das Relações Exteriores da UE, o chanceler israelense ignorou as perguntas dos jornalistas sobre uma futura solução de dois Estados e disse que seu país está concentrado em resgatar os reféns e garantir sua segurança.
O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, que também participou da reunião, afirmou que a rejeição de Israel a "uma solução de dois Estados condena o futuro da região a mais conflitos".
A guerra em Gaza alimentou tensões na região.
No Líbano, o movimento islamista Hezbollah anunciou nesta terça um ataque com mísseis contra um centro de comando do Exército no norte de Israel.
E, no Iêmen, Estados Unidos e Reino Unido lançaram novos bombardeios na segunda-feira contra posições dos rebeldes huthis, que há meses lançam ataques contra o comércio marítimo.
I.Servais--JdB