Exército israelense trava intenso embate contra Hamas no sul de Gaza
O Exército israelense lançou intensos bombardeios contra o Hamas em Khan Yunis, o novo epicentro da guerra em Gaza, nesta segunda-feira (22), em meio a uma crescente pressão para aceitar acordos que permitam a libertação dos reféns e o fim da guerra.
Testemunhas relataram ataques mortais em Khan Yunis, a maior cidade do sul de Gaza, e fortes confrontos entre soldados israelenses e combatentes islamistas do Hamas.
Mais de 120 pessoas morreram no território palestino nas últimas 24 horas, informou o Ministério da Saúde do Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007.
"Os bombardeios de artilharia não param desde as 5h", disse Yunis Abdel Razek, de 52 anos, na Universidade Al Aqsa da cidade, onde se refugiou com a família.
Segundo a AFPTV, moradores de Gaza enterraram corpos em uma vala comum no pátio do hospital Nasser, onde Israel afirma que altos comandantes do Hamas estão escondidos.
"Lançaram bombas de gás contra nós, o que sufocou muitas pessoas", relatou Saadia Abu Taima, que perdeu sua neta.
O Crescente Vermelho palestino declarou que as forças israelenses estavam "cercando" seu centro de ambulâncias e "atacando qualquer um que tentasse circular pela área".
Diante do acirramento dos confrontos, diversas famílias lotaram as estradas com destino à Rafah, na fronteira com o Egito, que abriga milhares de deslocados.
Mais de 80% dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados pela guerra e enfrentam uma grave crise humanitária, segundo a ONU.
- Solução de dois Estados? -
A guerra eclodiu após o ataque do grupo islamista palestino no sul de Israel em 7 de outubro, quando milicianos do Hamas mataram cerca de 1.140 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados israelenses.
Os combatentes do Hamas também fizeram cerca de 250 reféns, dos quais 132 permanecem em Gaza, segundo as autoridades israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, classificado como "organização terrorista" por Estados Unidos, União Europeia e o próprio país.
A implacável ofensiva israelense deixa ao menos 25.295 mortos em Gaza, a maioria mulheres e menores de idade, de acordo com o Hamas, que governa o território devastado e sitiado desde 2007.
Desde o início do confronto, as trocas de tiros são quase diárias na fronteira entre Israel e o Líbano, embates que já deixaram mais de 200 mortos no lado libanês, incluindo 146 combatentes do movimento pró-Irã Hezbollah, de acordo com uma contagem da AFP.
Após quase três meses de guerra, chanceleres da União Europeia se reuniram em Bruxelas com diplomatas israelenses e palestinos, e com países árabes, para planejar soluções para o conflito, que aumenta as tensões na região.
Os 27 ministros das Relações Exteriores do bloco se reuniram com os chanceleres israelense, Israel Katz, e palestino, Riyad al Maliki.
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, insistiu nesta segunda-feira em uma solução baseada em dois Estados para o conflito.
"Paz e estabilidade não podem ser construídas apenas por meios militares. (...) Qual outra solução vocês consideram? Fazer todos os palestinos partirem? Matá-los?", questionou.
A campanha militar israelense foi condenada pelas Nações Unidas e o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ignorou os apelos dos Estados Unidos, seu principal aliado, a favor de um Estado palestino.
Maliki exigiu um cessar-fogo imediato e instou o bloco a considerar sanções contra Netanyahu por "destruir as possibilidades de uma solução de dois Estados".
O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, lembrou, por sua vez, que "o mundo inteiro" vê a solução de dois Estados como "a única saída para esta miséria".
- Familiares de reféns no Parlamento -
Em um vídeo divulgado no domingo (21), Netanyahu afirmou que, em troca da libertação dos reféns israelenses, o Hamas exige o fim da guerra, a retirada das tropas israelenses de Gaza, a libertação dos prisioneiros palestinos e garantias de que o movimento islamista continue no poder.
"Se aceitarmos isso, nossos soldados terão caído em vão" e não haveria garantias de segurança, disse o premiê israelense.
Familiares e apoiadores dos reféns aumentaram a pressão nesta segunda-feira ao invadirem uma reunião da comissão parlamentar de finanças, entoando gritos de protesto e segurando cartazes.
No domingo, o Hamas divulgou o seu primeiro relatório público sobre os fatos que desencadearam a guerra.
No documento de 16 páginas, o grupo palestino afirmou que a operação de 7 de outubro foi uma "etapa necessária" e uma forma de garantir a libertação dos presos palestinos.
Mas também admitiu que houve "alguns erros" de sua parte e pediu o fim da "agressão israelense" em Gaza, segundo o texto.
Y.Callens--JdB