Journal De Bruxelles - Tensão no Congresso atrasa posse de Arévalo como presidente da Guatemala

Tensão no Congresso atrasa posse de Arévalo como presidente da Guatemala
Tensão no Congresso atrasa posse de Arévalo como presidente da Guatemala / foto: MARTIN BERNETTI - AFP

Tensão no Congresso atrasa posse de Arévalo como presidente da Guatemala

O Congresso da Guatemala está envolvido em discussões de última hora que atrasam a posse do social-democrata Bernardo Arévalo como presidente, alvo de manobras judiciais que buscaram invalidar a surpreendente vitória que obteve nas urnas com a promessa de combater a corrupção.

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Apesar de a Constituição da Guatemala estabelecer que o Congresso deve empossar o novo presidente até as 16h00 locais (19h00 de Brasília), ao final deste prazo, nem mesmo o novo Parlamento estava instalado.

"Os deputados têm a responsabilidade de respeitar a vontade popular expressa nas urnas. Estão tentando violar a democracia com ilegalidades, trivialidades e abusos de poder", escreveu Arévalo nas redes sociais.

O Congresso, majoritariamente de direita, não consegue chegar a um acordo na escolha da nova mesa diretora devido à discussão sobre se declarar os deputados do partido de Arévalo, o Movimiento Semilla (Movimento Semente, na tradução literal), como "independentes", em virtude de uma ordem judicial de suspensão desse movimento político por supostas irregularidades em sua criação.

O atraso na posse gerou descontentamento entre os seguidores de Arévalo, incluindo muitos indígenas, que, em meio a empurrões com a polícia, abriram caminho em direção à sede do Parlamento. Até agora, a polícia não reprimiu a manifestação.

- 'O povo está observando' -

Sociólogo, ex-diplomata e filósofo de 65 anos, Arévalo passou inesperadamente para o segundo turno presidencial em junho para enfrentar uma candidata conservadora aliada ao governo, a quem derrotou confortavelmente com 60% dos votos por sua mensagem anticorrupção.

Desde então, Arévalo e o Semilla enfrentaram uma ofensiva judicial que ele denunciou como um "golpe de Estado", envolvendo a elite política e econômica que tem governado o país por décadas.

O Ministério Público tentou retirar sua imunidade como presidente eleito, desmantelar seu partido progressista e anular as eleições, alegando irregularidades eleitorais.

A investida, baseada em casos "espúrios", segundo Arévalo, foi condenada pela ONU, OEA, União Europeia e Estados Unidos, que sancionaram centenas de promotores, juízes e deputados por "corrupção" e "minar a democracia".

Como mostra de apoio, a cerimônia de posse conta com a presença do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, delegados de Washington, o rei da Espanha, Felipe VI, e, entre outros, os presidentes da Colômbia, Chile, Honduras e Panamá.

"O povo guatemalteco e a comunidade internacional estão observando", acrescentou Arévalo nas redes sociais.

Uma reunião de chanceleres que participam da posse foi convocada urgentemente pela Costa Rica.

- Poderá governar? -

Arévalo substituirá o direitista Alejandro Giammattei, que foi vinculado ao chamado "pacto de corruptos", durante cujo governo dezenas de promotores, juízes e jornalistas tiveram de se exilar após denunciarem atos de corrupção.

Filho do primeiro presidente democraticamente eleito da Guatemala, Arévalo reconhece que enfrentará enormes desafios, pois as "elites político-criminosas, pelo menos por um tempo, continuarão arraigadas" nos poderes do Estado.

Arévalo pedirá esta semana a renúncia da procuradora-geral Consuelo Porras, líder da ofensiva judicial. Analistas não descartam, porém, que o Ministério Público continue a perseguição e insista em pedir ao Congresso que retire sua imunidade presidencial.

"Estará sob cerco permanente. Seu maior desafio é atender ao desejo do povo: não ser governado pelo pacto de mafiosos. Ele precisa desmantelá-lo; caso contrário, não poderá governar", disse o analista Manfredo Marroquín à AFP.

- "Não está tudo em suas mãos" -

A Guatemala que Arévalo herda ocupa o 30º lugar entre 180 países no ranking de corrupção da Transparência Internacional e tem 60% de seus 17,8 milhões de habitantes vivendo na pobreza, um dos índices mais altos da América Latina.

Dezenas e milhares de cidadãos emigram todos os anos para os Estados Unidos em busca de trabalho e fugindo da violência das gangues e do tráfico de drogas.

"Não está tudo em suas mãos, não esperamos uma mudança de 100%, mas que cumpra o que disse", declarou Hellen Chua, estudante universitária de 18 anos.

Arévalo disse no sábado que "o mais urgente" é recuperar as instituições "cooptadas pelos corruptos", mas "o mais importante" é trabalhar pelo desenvolvimento social no ataque à pobreza.

Com esse objetivo, ele nomeou um gabinete com 14 ministros. Mas foi criticado por alguns apoiadores por incluir figuras do setor privado ou vinculadas a governos anteriores, e somente um indígena.

Filho de Juan José Arévalo (presidente de 1945-1951), defensor de importantes reformas sociais no país, nasceu em Montevidéu. Na infância, morou na Venezuela, no México e no Chile, no exílio de seu pai após o golpe orquestrado pelos Estados Unidos em 1954 contra o progressista Jacobo Árbenz.

D.Verheyen--JdB