Blinken chega ao Bahrein em giro regional para evitar propagação da guerra Israel-Hamas
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, chegou nesta quarta-feira (10) ao Bahrein após se reunir com o presidente palestino, Mahmud Abbas, no âmbito de um giro internacional para evitar uma propagação da guerra em Gaza entre Israel e Hamas.
Em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, Blinken disse ao líder palestino que Washington apoia "medidas tangíveis" na criação de um Estado palestino, ao lado de Israel, para que ambos os países possam viver "em paz e segurança", segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
Blinken também insistiu em que "todos os impostos palestinos arrecadados por Israel [deveriam] ser sistematicamente transferidos para a Autoridade Palestina, em conformidade com os acordos". Atualmente, Israel bloqueia esses fundos.
Enquanto isso, em Ramallah, dezenas de manifestantes levavam cartazes com os dizeres "Parem o genocídio" e "Palestina livre".
Logo depois, Blinken chegou ao Bahrein, base de operações da Quinta Frota dos Estados Unidos, onde tem previsto se reunir com o rei Hamad para evitar uma escalada regional da guerra, indicou o Departamento de Estado dos EUA, principais aliados de Israel.
Abbas e o presidente do Egito, Abdel Fatah Al Sissi, chegaram à cidade de Aqaba, na Jordânia, para uma reunião com o rei Abdullah II e dar um "empurrão para um cessar-fogo imediato" em Gaza, indicou o Palácio Real.
- Proteger os civis -
Na terça-feira, Blinken visitou Israel e se reuniu com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a quem pediu que evite a morte de civis na guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza.
O "balanço diário de civis [mortos] em Gaza, especialmente crianças, é alto demais", disse Blinken, em Tel Aviv.
O ataque sem precedentes do movimento islamista palestino de 7 de outubro em território israelense deixou cerca de 1.140 mortos, a maioria deles civis, segundo balanço da AFP baseado em números oficiais israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, e, desde então, bombardeia sem cessar este território palestino. Mais de 23.350 pessoas morreram, principalmente mulheres e menores, informou o Ministério da Saúde do Hamas nesta quarta.
Na noite de terça para quarta-feira, houve "mais de 70 mortos", devido aos bombardeios em diferentes setores da Faixa, informou o ministério de Gaza.
Um jornalista da AFP relatou intensos bombardeios nas cidades de Khan Yunis e Rafah, no sul.
O Exército israelense reportou operações nas áreas de Maghazi (centro) e Khan Yunis, com "mais de 150 alvos atingidos" e 15 túneis localizados.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) condenou um ataque ao abrigo da organização em Khan Yunis, no qual morreu a filha de um de seus funcionários.
"Um obus atravessou [na segunda-feira] a parede de um edifício onde mais de 100 funcionários de MSF e suas famílias haviam se refugiado", disse a ONG. "Embora MSF não possa confirmar a origem do obus, parece similar aos usados pelos tanques israelenses".
À tarde, o Crescente Vermelho palestino indicou que quatro pessoas morreram em um bombardeio israelense que atingiu uma ambulância dessa organização em Deir el Balah, no centro da Faixa.
Na semana passada, o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, apresentou um plano de pós-guerra que contempla um governo em Gaza que não seja "nem do Hamas", classificado como grupo terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia, "nem uma administração civil israelense", mas dirigido por palestinos que "não sejam hostis" a Israel.
Os ministros da extrema direita do governo de Netanyahu defendem a recolonização de Gaza. Já Washington espera, segundo vários analistas, que a Autoridade Palestina, "reformada", volte a dirigir o território.
- Um banho por mês -
Em 2007, o Hamas chegou ao poder em Gaza em detrimento da Autoridade Palestina, que governa apenas a Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967.
As organizações internacionais alertam para o desastre humanitário em Gaza, onde 85% da população está deslocada, e a ajuda chega aos poucos. A situação humanitária é "indescritível", disse nesta quarta o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS).
"Devido à falta de água, tomamos banho uma vez por mês, sofremos psicologicamente, e as doenças se espalham por toda parte", disse à AFP Ibrahim Saadat, um palestino deslocado.
"Não são 100 dias [de guerra]. Temos a impressão de que já se passaram 100 anos", acrescenta Abdelaziz, outro deslocado em Rafah, onde centenas de milhares de pessoas estão aglomeradas.
Israel bombardeia, principalmente, o centro e o sul da Faixa, depois de ter devastado o norte. O governo israelense aceitou o início de uma "missão de avaliação" da ONU sobre a situação no norte do território, visando ao retorno dos deslocados, disse Blinken na terça-feira, sem dar mais detalhes.
O secretário americano iniciou na semana passada uma viagem pelo Oriente Médio para tentar evitar o contágio do conflito na região, onde o Hamas tem vários aliados, com grupos armados apoiados pelo Irã no Líbano, na Síria, no Iraque, ou no Iêmen.
B.A.Bauwens--JdB