Journal De Bruxelles - Aspectos de um Equador em 'conflito armado' pela violência do narcotráfico

Aspectos de um Equador em 'conflito armado' pela violência do narcotráfico
Aspectos de um Equador em 'conflito armado' pela violência do narcotráfico / foto: Rodrigo BUENDIA - AFP

Aspectos de um Equador em 'conflito armado' pela violência do narcotráfico

Prisões transformadas em escritórios do crime, ruas submetidas ao terror de fuzis e granadas e governos sob pressão dos traficantes de drogas: o Equador volta a se aproximar do abismo e declara "conflito armado interno".

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O país deixou de ser um paraíso de paz na América da Sul para mergulhar na violência do narcotráfico, com uma taxa de 46 assassinatos para cada 100.000 habitantes em 2023, a mais alta de sua história.

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Depois de assumir o poder em novembro, o presidente Daniel Noboa se voltou para 22 estruturas ligadas ao tráfico de drogas. As três principais se autodenominam Los Choneros, Lobos e Tiguerones.

Têm alianças com organizações estrangeiras, como o cartel mexicano de Sinaloa, e coordenam sua operação a partir da prisão, sob o olhar cúmplice de agentes penitenciários, especialmente em Guayaquil (sudoeste), segundo denúncias de organizações civis.

Adolfo Macías ou "Fito", líder de Los Choneros, reinou neste porto durante 12 anos a partir de sua cela, até escapar sem um único tiro, como reconheceu uma operação de controle militar no domingo.

O jovem presidente de 36 anos enfrenta os exércitos do narcotráfico com a promessa de mão de ferro.

Dentro das penitenciárias, os presos vivem em superlotação. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) informou em 2022 que a população carcerária era de 36.599 pessoas, quando a capacidade é de 30.169 (superpopulação de 21,3%).

Senhores das prisões, os detentos guardam seus arsenais como se fossem tesouros e frequentemente organizam rebeliões. Os confrontos entre gangues terminam em massacres que deixaram mais de 460 prisioneiros mortos desde 2021.

Nesta semana, 125 agentes penitenciários e 14 funcionários administrativos foram retidos, após a fuga de "Fito".

Um em cada três presos tem ligações com o tráfico de drogas, segundo estudos independentes.

- Gangues sem controle

Analistas estimam que a violência "extrema" no Equador se intensificou durante o governo de Guillermo Lasso (2021-2023).

O governo conservador resultou em um cabo de guerra permanente entre o poder da força pública e as organizações criminosas, onde ataques com carros-bomba, tiroteios e sequestros deixaram de ser novidade nas principais cidades.

Cada vez que o submundo quis intimidar os equatorianos, Lasso respondeu com estados de exceção, operações militares e toques de recolher.

"O que temos são três organizações criminosas que já não se enfrentam entre si, mas sim contra o Estado, têm um inimigo comum", disse à AFP César Carrión, pesquisador da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

Noboa segue a linha de Lasso, mas foi mais longe e anunciou a construção de prisões de segurança máxima em navios e selvas isoladas, o reforço da Inteligência e o controle de fronteiras com drones e radares.

O governante mais jovem da história do país proclamou o fim dos tempos em que os criminosos "ditavam ao governo no poder o que fazer" e tomou medidas para "recuperar o controle" das prisões.

O anúncio do chamado "Plano Fênix" recebeu como resposta a fuga de "Fito" e um início caótico para 2024.

- "Conflito armado"

Noboa venceu uma corrida à presidência, na qual o candidato Fernando Villavicencio foi assassinado, um sinal de que o Equador estava para atingir o fundo do poço, como aconteceu com sua vizinha Colômbia no século passado.

Em sua primeira crise, o presidente declarou o país em "conflito armado interno" e ordenou às Forças Armadas que "executem operações sob o direito internacional humanitário", ou seja, concedeu "status" de beligerante às gangues.

"Agora vai se concentrar em enfrentá-las dentro de uma perspectiva que ele mesmo (Noboa) definiu como parte do conflito militar interno (...) A mão de ferro se estabelece agora de forma explícita e com grande legitimidade por parte da população, porque já está exausta, farta disso", analisa Carrión.

Para isso, conta com uma força de cerca de 60 mil soldados, quase o número de policiais.

T.Moens--JdB