Hasina celebra 'vitória' em eleições boicotadas pela oposição em Bangladesh
A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, obteve uma contundente vitória nas eleições de domingo (7), obtendo 75% das cadeiras, e garantiu um quinto mandato à frente do governo, anunciou a Comissão Eleitoral nesta segunda-feira (8).
A Liga Awami, partido de Hasina, "ganhou a eleição", obtendo uma folgada maioria absoluta com 223 assentos, declarou Moniruzzaman Talukder, secretário-adjunto da Comissão Eleitoral.
O Parlamento é composto por 300 cadeiras, mas muitos dos outros eleitos são de partidos aliados da Liga Awami, o que consolida o poder de Hasina, segundo analistas.
Hasina, de 76 anos, apelou aos eleitores para que fossem às urnas para mostrarem sua confiança no processo democrático.
"Se um partido não participa das eleições, isso não significa não haja democracia", assegurou, acrescentando que, "quem quiser criticar, pode fazê-lo".
Hasina chegou ao poder em 2009. Ela se atribui o mérito de gerar um crescimento impressionante na economia do país, o oitavo mais populoso do mundo com 170 milhões de habitantes, o que permitiu superar a pobreza extrema.
Seu governo é acusado, no entanto, de graves violações de direitos humanos e de exercer uma dura repressão contra a oposição.
A votação foi boicotada pelo Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP), principal força da oposição, que denuncia "uma eleição falsa", e por outros partidos, dizimados nos últimos meses por uma onda maciça de detenções.
Os primeiros indícios sugerem uma baixa participação, em torno de 41,8%.
- Um resultado previsível -
Na manhã de domingo, Hasina disse a jornalistas que o partido da oposição BNP é uma "organização terrorista", depois de votar na capital, Daca.
A declaração foi dada depois de os opositores de Hasina convocarem uma greve geral para o fim de semana e pedirem à população para não votar, temendo a repetição das irregularidades das eleições anteriores.
Entre os parlamentares eleitos pelo partido no poder está Shakib Al Hasan, capitão da equipe nacional de críquete, o principal esporte do país.
A Liga Awami praticamente não tinha adversários nas circunscrições em que concorria. Não apresentou candidatos em algumas delas, aparentemente para evitar que o Parlamento unicameral seja visto como instrumento de um único partido.
Muitos entrevistados pela AFP disseram que não votaram, porque o resultado era previsível.
O líder do BNP, Tarique Rahman, denunciou uma possível manipulação das urnas.
"O que ocorreu não foram eleições, mas uma vergonha para as aspirações democráticas de Bangladesh", afirmou nas redes sociais de Londres, onde vive exilado desde 2008, e acrescentou que viu "fotos e vídeos preocupantes" que apoiavam suas acusações.
Alguns eleitores dizem que foram ameaçados com a apreensão de cartões necessários para obter benefícios sociais, caso se negassem a votar pela Liga Awami.
- "Atos de sabotagem mortais" -
Na véspera das eleições, sete opositores acusados de sabotagem após um incêndio mortal em um trem foram detidos pela polícia.
Ao menos quatro vagões do Benapone Express, que une Jessore a Daca, foram incendiados na sexta-feira, deixando ao menos quatro mortos e provocando caos.
Desde o ano passado, a rede ferroviária sofreu vários "atos de sabotagem fatais" segundo a polícia, que culpa o BNP.
O BNP nega qualquer envolvimento e afirma que as autoridades incitam estes atos para depois acusá-lo.
Em 2023, cerca de 25 mil dirigentes da oposição, incluindo todos os representantes locais do BNP, foram presos em uma onda de repressão a uma série de protestos, nos quais várias pessoas morreram em confrontos com a polícia, segundo o partido. Na época, o governo informou 11 mil prisões.
Y.Simon--JdB