Debate sobre recrutamento militar cresce na Ucrânia
Depois de quase dois anos de guerra com a Rússia, o debate na Ucrânia sobre o recrutamento militar ganha força, devido à vontade do governo de mobilizar mais 500 mil soldados.
O presidente, Volodimir Zelensky, propôs no mês passado a mobilização de "entre 450 mil e 500 mil soldados adicionais" para compensar as perdas significativas do exército ucraniano e enfrentar os 600 mil soldados russos destacados na Ucrânia. No entanto, reconheceu que precisa “de mais argumentos” para tomar uma decisão final.
Após o fracasso da contraofensiva ucraniana e devido às dificuldades de alistamento, o debate sobre que medidas tomar se intensificou: punir os que se opõem ao recrutamento? Selecioná-los por sorteio?
O Exército ucraniano conta oficialmente com 850 mil soldados, embora não divulgue números sobre os que morreram ou ficaram feridos no front. Muitos cidadãos observaram o crescimento dos setores militares nos cemitérios do país.
As estimativas mais recentes dos Estados Unidos, publicadas em agosto pelo New York Times, apontavam para cerca de 70 mil soldados ucranianos mortos e 120 mil feridos.
- Redução da idade -
O fervor patriótico dos primeiros meses após o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022, quando homens se alistavam como voluntários, diminuiu. Cada vez mais, surgem na imprensa depoimentos de homens que se negam a combater.
O governo levou ao Parlamento no fim de dezembro um projeto de lei que prevê a redução de 27 para 25 anos a idade a partir da qual os homens adultos podem se alistar, e que introduz novas punições para aqueles que preferem não ir para a linha de frente, como a proibição de participar de transações imobiliárias.
O texto, por outro lado, limita a três anos o serviço militar em tempos de guerra, quando, atualmente, é ilimitado.
O comissário ucraniano de Direitos Humanos, Dmytro Lubinets, criticou na TV a aplicação de mais punições: "Não podemos chegar a esse ponto em que o combate contra a Rússia nos converte em algo semelhante à Rússia, onde as leis deixaram de funcionar e a Constituição é apenas um pedaço de papel."
Diante da polêmica, a Presidência e deputados ucranianos garantiram que o texto será debatido e modificado no Parlamento. A comissão parlamentar para assuntos da Defesa começou ontem a examinar o projeto de lei, a portas fechadas.
- Punições -
A sociedade ucraniana está dividida quanto ao endurecimento das punições.
“Sou contra punições tão duras”, disse Olena, 42, enquanto Liudmila, 50, também moradora de Kiev, defendeu a posição oposta: “Por que alguns deveriam ir para o combate, e outros, não? É uma questão de segurança nacional. Todos os cidadãos têm que participar."
Muitos usuários pedem nas redes sociais o recrutamento de homens da elite e denunciam algumas das propostas polêmicas da classe política.
Mariana Bezugla, deputada do partido de Zelensky, propôs a dispensa do recrutamento em troca de uma contribuição significativa para o orçamento federal, uma isenção ao alcance apenas de herdeiros de grandes fortunas. O ex-ministro da Economia Tymofii Mylovanov, sugeriu que haja um sorteio, seguindo o exemplo dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.
Segundo a advogada Laryssa Denyssenko, as duas propostas “são completamente contraproducentes. É uma casa de loucos."
E.Goossens--JdB