Cresce medo de escalada da guerra em Gaza após explosões no Irã e morte de líder do Hamas
Os temores de uma expansão regional do conflito entre Israel e o Hamas se multiplicaram nesta quarta-feira (3), após uma dupla explosão que deixou mais de 100 mortos no Irã e a morte, na véspera, do número dois do movimento islamista palestino no Líbano.
Pelo menos 103 pessoas morreram no Irã em um ataque classificado por autoridades do país como um atentado terrorista, perto do túmulo do general Qasem Soleimani, assassinado por um drone americano em 2020.
As explosões ocorreram perto da mesquita Saheb al-Zaman, na cidade de Kerman (sul), enquanto uma multidão homenageava o general assassinado no quarto aniversário de sua morte.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, prometeu hoje que "esse desastre terá uma resposta dura" para "os inimigos maus e criminosos da nação iraniana". Soleimani era encarregado das operações exteriores dos Guardiães da Revolução, o exército ideológico do Irã.
O ataque, que ainda não foi reivindicado, acontece em um momento de grande tensão no Oriente Médio, um dia após o número dois do Hamas, Saleh al Aruri, aliado do Irã, morrer em um ataque com drone em Beirute, que as autoridades libanesas atribuíram a Israel.
Israel e Irã têm relações tensas há muito tempo. O início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza intensificou as tensões com grupos pró-Irã em Líbano, Iraque, Síria e Iêmen.
Os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro deixaram cerca de 1.140 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais israelenses. Entre os mortos, havia mais de 300 militares.
Os combatentes também fizeram cerca de 250 reféns, dos quais 129 permanecem em cativeiro, segundo as autoridades israelenses.
Após o ataque, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou um bombardeio implacável e uma ofensiva terrestre que deixaram pelo menos 22.313 mortos, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo movimento islamista.
- Risco de escalada -
O líder do Hezbollah afirmou hoje que seu movimento lutará se Israel declarar guerra ao Líbano. "Combateremos sem limites, sem restrições, sem fronteiras", alertou Hassan Nasrallah.
Um movimento "cujos líderes e fundadores caem como mártires pela dignidade do nosso povo e nossa nação nunca sera vencido", afirmou ontem o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, após a morte de Aruri em Beirute.
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, afirmou que a morte de Haniyeh "tem como objetivo arrastar o Líbano" para a guerra.
O conflito entre Israel e o grupo islamista libanês se intensificaram na fronteira entre os dois países, mas é a primeira vez desde o início das trocas de agressões que um bombardeio atinge o sul da capital do Líbano.
Israel, Estados Unidos e União Europeia consideram o grupo islamista uma organização "terrorista".
Segundo um funcionário do alto escalão de segurança libanesa, o ataque que matou Saleh al Aruri foi realizado por um caça israelense, e não por um drone, como afirmou na terça-feira a agência de notícias libanesa Ani.
O porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, afirmou ontem, sem citar os ataques, que suas tropas estão preparadas "para qualquer cenário".
Nesta quarta-feira à noite, o Exército anunciou que atingiu "alvos terroristas do Hezbollah no Líbano, entre eles uma infraestrutura terrorista e um prédio militar", sem dar detalhes. Segundo a especialista Maha Yahya, diretora do Carnegie Middle East Center, com sede em Beirute, "o risco de escalada é significativo, mas o Hezbollah se esforça para evitar ser arrastado para um conflito".
- Greve geral em Nablus e Ramallah -
Israel anunciou a morte de outros comandantes e oficiais do Hamas em Gaza, mas Aruri é o mais importante até agora.
Diante do ocorrido, inúmeros palestinos protestaram nas ruas de Ramallah, na Cisjordânia ocupada.
"A notícia da morte de Saleh Al Aruri é muito difícil para nós, mas ele não vale mais do que aqueles que morreram como mártires em Gaza, que são mais de 20 mil", disse a jovem Diya Zalum à AFP.
Tanto Nablus quanto Ramallah paralisaram suas atividades hoje, em resposta a um apelo feito pela Autoridade Palestina para a realização de uma greve geral.
Em Gaza, os ataques a Khan Yunis continuaram na manhã desta quarta-feira, causando "inúmeras" mortes, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.
O conflito desencadeou uma grave crise humanitária em Gaza, cujos 2,4 milhões de habitantes vivem sitiados e, em sua maioria, deslocados e em acampamentos improvisados e superlotados.
"Gaza: três longos meses de uma guerra brutal: deslocamentos maciços da população, mortes e feridos em massa, destruição maciça", denunciou na rede social X Philippe Lazzarini, diretor da agência da ONU para os refugiados palestinos.
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A.Parmentier--JdB