Journal De Bruxelles - Tristeza e orgulho em cidade da Cisjordânia do número dois do Hamas, morto em Beirute

Tristeza e orgulho em cidade da Cisjordânia do número dois do Hamas, morto em Beirute
Tristeza e orgulho em cidade da Cisjordânia do número dois do Hamas, morto em Beirute / foto: Jaafar ASHTIYEH - AFP

Tristeza e orgulho em cidade da Cisjordânia do número dois do Hamas, morto em Beirute

Alguns palestinos não conseguiam parar de chorar nesta quarta-feira (3) na cidade de Arura, na Cisjordânia Ocupada, onde nasceu Saleh Al Aruri, o número dois do Hamas morto na terça no Líbano, onde prestaram condolências à família.

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Saleh Al Aruri morreu na noite de terça-feira, em um ataque atribuído a Israel no subúrbio da capital libanesa.

Na cidade de Arura, perto de Ramallah, sua mãe, Aisha Al Aruri, de 81 anos, pendura um retrato de seu filho. Em uma moldura dourada com uma foto colorida desbotada, vê-se um Saleh Al Aruri jovem com enorme barba e cabelos pretos.

Quando as mulheres da cidade vieram chorando para lhe dizer que seu filho, de 57 anos, havia morrido, ela perguntou com orgulho: "Por que choram? Não chorem, tragam bolos e os distribuam", declarou à AFP.

"Queria virar mártir e assim o fez", acrescenta a mãe.

Acusado por Israel de ser o cérebro de diversos atentados, Saleh Al Aruri foi eleito sub-diretor do escritório político do Hamas em 2017, tornando-se o número dois do movimento.

- Última mensagem -

Israel, que prometeu erradicar o Hamas após o ataque de 7 de outubro, insiste em que todos os seus membros estão condenados à morte.

O ataque do Hamas matou cerca de 1.140 pessoas em Israel, em sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP, com base em dados oficiais de Israel.

As operações militares israelenses em represália tiraram a vida de 22.313 pessoas em Gaza, em sua maioria mulheres, adolescentes e crianças, segundo o último balanço do governo do Hamas.

Em sua casa da Cisjordânia, a irmã do morto, Dalal Al Aruri, de 52 anos, disse à AFP que foi interrogada pelos serviços de Inteligência israelenses após ter feito, com seu irmão, a peregrinação a Meca em junho.

A última vez em que se falaram foi em 7 de outubro pela manhã, disse a ela "que estava bem" e que havia realizado um ataque no sul de Israel.

Na noite de terça-feira, não atendeu ao telefone quando ela tentou ligar para ele após receber a notícia de sua morte em Beirute.

- "Comoção, raiva e tristeza" -

O sobrinho de Aruri, Majed Suleiman, de 28 anos, diz que ele e a família "passaram por todo tipo de emoções: comoção, raiva e tristeza".

Ao tomar conhecimento da morte do seu "herói", o pequeno povoado de Arura, com os seus 5.000 habitantes, lamentou, tal como a Cisjordânia Ocupada, que vive uma greve geral em protesto pelo "assassinato" do alto dirigente do Hamas.

Saleh al-Aruri ficou preso durante quase 20 anos em Israel e foi libertado em 2010, sob condição de se exilar. Há mais de 13 anos que não entrava em sua terra natal.

Conta sua mãe que ele se casou quando saiu da cadeia e que ela o encorajou a partir para evitar outra prisão. Viveu na Síria, Turquia e Líbano.

No final de outubro, o Exército israelense invadiu a cidade e explodiu a casa vazia de Saleh Al Aruri, onde ele viveu alguns dias entre sua saída da prisão e seu exílio em 2010, segundo Majed Suleiman, seu tio.

Durante uma operação anterior, o Exército prendeu vários membros de sua família e levou-os para a casa de Saleh Al Aruri, que naquele dia se tornou um centro de interrogatórios.

Para enviar uma mensagem ao Hamas, as tropas israelenses colaram um cartaz na parede que dizia: "Esta era a casa de Saleh Al Aruri e tornou-se o quartel-general de Abu Al Nimer", oficial de Inteligência israelense encarregado da região.

D.Verstraete--JdB